A CORRIDA PARA SALVAR OS OCEANOS PODE SER A NOSSA RUÍNA
- Jessika Alves
- 2 de set.
- 2 min de leitura

Os oceanos estão agonizando e a resposta da humanidade tem sido acelerar intervenções tecnológicas de forma desenfreada, da manipulação genética de corais à captura de carbono com algas marinhas, passando por esforços para domar a acidez dos mares. O que deveria ser um esforço cuidadoso e coordenado, recheado de ética e responsabilidade, se transforma numa corrida perigosa, movida por pressa, dinheiro e ambição. Um novo estudo internacional alerta que, sem uma governança robusta, essas soluções rápidas podem causar mais danos do que benefícios e o pior: sem que ninguém perceba a tempo.
Essa falta de regulação e diálogo é uma bomba-relógio prestes a explodir. A velocidade da inovação está ultrapassando a capacidade do mundo de monitorar, avaliar e controlar essas intervenções, criando um cenário em que decisões que impactam ecossistemas inteiros e comunidades tradicionais são tomadas às pressas, sem consulta adequada. Povos indígenas e comunidades locais, que guardam o conhecimento ancestral e dependem diretamente da saúde dos oceanos, são frequentemente deixados de fora das discussões, tornando-se vítimas silenciosas de experimentos que podem comprometer seu modo de vida.
Além dos riscos ambientais, há uma ameaça política e social latente. O financiamento milionário, muitas vezes vindo de grupos privados e filantrópicos com interesses nem sempre transparentes, pode se transformar numa forma de controle que privilegia poucos, aprofundando desigualdades e criando novas formas de injustiça ambiental. A ausência de protocolos bioéticos claros e de uma governança global inclusiva abre espaço para que o “salvamento” dos oceanos sirva a agendas econômicas, e não à sobrevivência do planeta e de suas populações.
Salvar os oceanos não é apenas uma questão de inovação científica; é uma questão de ética, justiça e responsabilidade coletiva. É preciso desacelerar, avaliar riscos e benefícios com rigor e incluir as vozes daqueles que vivem do mar nas decisões que moldarão o futuro do planeta. Sem essa transformação marinha responsável, que une ciência, política e justiça social, a corrida para salvar os oceanos pode ser o motor da nossa própria destruição.
Isso não sou eu que estou dizendo, são dados de um artigo publicado recentemente na Science. É o que venho discutindo aqui há um bom tempo, o capitalismo tem esvaziado a causa das coisas em prol do lucro, os oceanos viraram o hype do momento. Mas a verdade é que nesse show de adornos tecnológicos e corrida científica pelo lucro verde, falta compromisso. A verdade é que nessa lógica pelo lucro e pelo view, nos veremos completamente ferrados em um futuro próximo.
FONTE:
iffany H. Morrison, Gretta Pecl, Kirsty L. Nash, Terry Hughes, Philippa J. Cohen, Cayne Layton, Katrina Brown, Catherine E. Lovelock, Maria Carmen Lemos, W. Neil Adger, Sarah Lawless, Bob Muir, Georgina G. Gurney, Elizabeth Mcleod, Katherine E. Mills, Imani Fairweather-Morrison, Michael Phillips, Andrew Sullivan, Nathalie Hilmi, Lucy Holmes-McHugh, Sisir Pradhan, Robert Streit, Navam Niles, Emily Ogier. Governing novel climate interventions in rapidly changing oceans. Science, 2025; 389 (6759) DOI: 10.1126/science.adq0174
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