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A DIFÍCIL ARTE DE VIVER NO "E SE..."


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Existe um lugar onde moram as perguntas que não acabam: o “e se…”.

 

Quando uma etapa da vida parece terminar, muitas vezes continuamos ali entre o fechamento e a esperança porque permanecemos presos a alternativas imaginadas: “E se eu tivesse sido mais compreensivo?”, “E se eu tivesse esperado e conversado de outro jeito?”, “E se…”. Esses pensamentos não são meras curiosidades: são formas de pensar chamadas, na psicologia, de pensamento contrafactual imagens mentais do que poderia ter sido.

 

Elas podem ensinar, alertar e preparar, mas também podem nos aprisionar num ciclo de dúvida e arrependimento.  

 

O “e se” tem duas caras. Quando imaginamos um desfecho melhor (um “se” que melhora a cena), isso pode gerar aprendizado identificamos comportamentos que talvez queiramos mudar no futuro.

 

Mas quando o “e se” vira ruminação repetição dolorosa de alternativas impossíveis ele mantém a ferida aberta e impede a tomada de decisão e a aceitação.

 

Em termos práticos: o pensamento contrafactual pode ativar motivação para agir (benefício), ou alimentar arrependimento e ansiedade (prejuízo). Saber qual efeito predomina em você é o primeiro passo para escolher como responder.  

 

Nas relações interpessoais, o “e se” costuma aparecer quando falta clareza sobre intenções, limites ou valores. O “não” costuma vir acompanhado de justificativas e explicações; o “sim” raramente deixa restar dúvidas. Assim, o “e se” costuma ser sintoma de uma indefinição: não necessariamente de falta de amor, mas muitas vezes de ausência de fechamento, de comunicação incompleta ou de expectativas desalinhadas. Reconhecer isso ajuda a transformar o “e se” de um tormento em um mapa: onde houve falha de comunicação? onde faltou coragem? onde havia medo de perder?  

 

Reflexões práticas para lidar com o “e se” nas relações

 

1. Diferencie reflexão útil de ruminação: pergunte-se se o “e se” traz um aprendizado prático (o que faria diferente?) ou apenas sofrimento repetido. Se for aprendizado, registre uma ação concreta; se for ruminação, use estratégias de atenção plena e redirecionamento.  

 

2. Procure clareza e diálogo quando possível: muitas vezes o “e se” surge por falta de comunicação. Se ainda há espaço para conversar com honestidade e limites claros, tente um diálogo curto e objetivo sem pressionar nem buscar justificativas intermináveis. Gottman e pesquisadores de relacionamentos enfatizam a importância de tentativas de reparo e de conversas de encerramento que sejam respeitosas.  


3. Aceite a irreversibilidade sem perder o aprendizado: aceitar que o passado não volta não significa desistir do crescimento. Transforme o “e se” em manual de como queres agir daqui pra frente (valores, comportamentos, limites).


4. Distingue responsabilidade de culpa: assumir responsabilidade por uma falha é saudável; viver na culpa é paralisante. Procure ações reparadoras possíveis se for apropriado  em vez de autopunição sem fim.


5. Estabeleça rituais de fechamento: pequenas cerimônias simbólicas (uma carta, uma conversa final, escrever e rasgar um papel) ajudam o cérebro a marcar que algo acabou, reduzindo a ativação do ciclo de “e se”.

 

Pensamento final (sobre o “sim” e o “não”)


O “sim” e o “não” trazem uma simplicidade que o “e se” nega. O “sim” autêntica e dá direção; o “não” protege e delimita. O “e se” vive na margem — entre intenção e realidade — e, se prolongado, rouba energia e impede novos começos. Aprender a reconhecer quando o “e se” está servindo (ensinando) e quando está sabotando (ruminando) é um dos gestos mais compassivos que podemos fazer por nós mesmos e pelo outro.



IMAGEM: Escrita que Cura

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