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APENAS ESPECIALISTAS DEVEM FALAR SOBRE DETERMINADO ASSUNTO NA INTERNET?


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Fiquei sabendo de uma medida do governo chinês que chamou minha atenção: Para falar sobre determinados assuntos, o influencer terá que comprovar que possui formação profissional naquela área sobre a qual está comentando. Segundo ofício do Ministério da Cultura e Turismo de lá, essa norma seria uma regulação da produção de conteúdo, fortalecendo assim a “ética profissional na internet”. Óbvio que muita gente interpretou isso como censura, afinal, a “liberdade de expressão” estaria sendo ferida de morte na cruel ditadura chinesa. Não é de hoje que se fala da extrema vigilância do cidadão realizada pelo governo chinês. No entanto, muita gente pode considerar razoável essa determinação. Será que ela é tão absurda assim?

 

Bem, com o advento das redes sociais nesse século XXI, houve uma possibilidade de emissão de diversas opiniões sobre os mais diversos assuntos, principalmente sobre política e a situação social do país. Com o dinamismo proporcionado por mídias digitais cada vez mais interativas, foram surgindo blogueiros, youtubers, e congêneres que foram conquistando espaço, amealhando muitos seguidores e passando a comentar diariamente qualquer tipo de tema abordado, mesmo o cara sendo um “Zé Ruela” qualquer. Pois então... de dez anos pra cá, explodiu canais, perfis, e sites onde pessoas ou grupos abordam questões as mais variadas, geralmente com a concordância do seu público ou a discordância via críticas mordazes de alguns haters. Muitas vezes, rola um festival de absurdos, e com frequência notamos que na maioria dos casos são analisadas situações onde o influenciador não tem um pingo de conhecimento mínimo pra abordar a temática sugerida.

 

No caso da aplicação do governo chinês, a regra imposta é muito rígida e rigorosa. Digamos que alguém esteja tratando sobre economia. Segundo o novo ordenamento, apenas um economista formado poderia falar sobre. Claro que pra falar sobre balança comercial, índices econômicos, e taxação compulsória, só mesmo alguém da área. Mas se o assunto for alta de preços ou aumento salarial, muita gente pode utilizar exemplos diários, suas dificuldades, e avaliações cotidianas seguindo exemplos de perrengues pessoais ou comunitários para situar o problema sobre o prisma da economia popular. E aí? Por diversas vezes, nem sempre um técnico de gabinete possui vivência prática pra tocar em circunstâncias sensíveis que o dia-a-dia evoca. Como fica isso na regulação chinesa?

 

Por outro lado, temos mais um embaraço: o negacionismo. Tivemos diversos exemplos durante a pandemia, onde médicos receitaram “tratamento precoce”, cloroquina, e outros medicamentos seguindo ideologias, ao invés de literaturas cientificas. Chegou ao ponto de integrantes do Ministério da Saúde criticarem médicos antivacina!Aí complica. Já houve mastologista afirmando que câncer e mama não exsite(!!) e nutricionista apontando que a causa da diabetes seria uma verminose instalada no pâncreas (clique aqui)! Esse pessoal poderia falar sobre medicina num perfil digital lá na China???

 

O que chama mais atenção, contudo, foi que na própria China o médico Li Wenliang, em dezembro de 2020, foi obrigado pela polícia local a assinar um termo confirmando que estava “espalhando boatos” sobre um surto respiratório que estava ocorrendo por lá. Ele alertou - via aplicativo de mensagens - diversos colegas sobre isso. Era o coronavírus que se espalhava por lá. Dias depois, foi infectado, vindo a falecer de COVID. Antes de sua morte, o governo chinês reconheceu a falha em não atender os chamados sobre a epidemia que se alastrava. Anos depois, o autoritário regime aplica a regulação da comprovação via diploma para falar sobre assuntos referentes à graduação conquistada. Se pudessem levar a sério denuncias graves, respeitando a ética profissional fora das redes, talvez não tivéssemos uma pandemia global com tamanho estrago...

 

Não vejo como uma medida dessas ser instituída por aqui, muito draconiana. Nossa constituição democrática não permite tamanha decisão, extremamente radical. Porém, as redes sociais não podem permanecer com viés tão permissível, com moderação que não impede o oceano de fake news e discursos de ódio que pululam em diversos canais e blogs. Ano que vem haverá eleições e até agora nenhum plano para conter utilização de IA’s e outras tecnologias que podem manipular muito eleitor. Não precisamos ser a China, mas alguma regulamentação poderíamos ter.


FONTE:


 

 

IMAGEM: Portal Vírgula

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