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COMO OS MICRÓBIOS DO ÁRTICO SE RELACIONAM COM A NEUROCIÊNCIA?


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No topo das geleiras do Tibete, nas profundezas das águas frias da Finlândia e até no coração das calotas da Groenlândia, vivem micróbios que guardam um segredo luminoso: as cryorhodopsins- ou criorrodopsinas – em minha tradução livre. Essas proteínas sensíveis à luz   funcionam como sensores naturais, mas com um toque especial: possuem capacidade de detectar luz ultravioleta, mas de uma forma tão precisa como uma câmera lenta molecular.


O que torna essas proteínas ainda mais únicas é a paleta de cores inesperadamente vibrante. Diferente da maioria das rodopsinas, que tendem ao laranja ou rosa, algumas dessas são azuis, absorvendo luz vermelha — uma propriedade valiosa para aplicações médicas, já que a luz vermelha penetra tecidos mais profundamente. A equipe usou técnicas de ponta para decifrar os segredos por trás dessa coloração. E, de quebra, aprenderam a customizar essas proteínas azuis para potencial uso em ferramenta para a saúde humana.


Embora ainda em fase experimental, elas já representam um protótipo brilhante— abrindo caminho para ferramentas moleculares “liga/desliga” controladas por luz, com potencial de revolucionar a neurociência e a medicina. Imagine controlar uma crise epiléptica com um feixe de luz UV, que desliga os neurônios hiperativos antes que a convulsão comece. Ou modular emoções, ativando regiões do cérebro ligadas ao bem-estar com luz vermelha e inibindo áreas do medo com luz verde — como um interruptor emocional.


Em próteses auditivas ou visuais, essas proteínas poderiam ativar células nervosas profundas com luz vermelha, oferecendo alternativas menos invasivas para restaurar sentidos. E mais: seria possível sincronizar ritmos cerebrais para tratar distúrbios como insônia ou déficit de atenção, usando luz para regular os ciclos de atividade cerebral.  


Talvez a maior aflição esteja ainda por vir: essas proteínas foram descobertas em microrganismos que vivem no frio extremo. É inegável que a velocidade com que hábitats estão sendo destruídos só aumenta, e cientistas há décadas vêm afirmando que estamos perdendo espécies no planeta as quais ainda nem conhecemos. É complicado bater sempre nesta tecla, porém, mesmo nas perspectivas mais fantásticas da Ciência, ainda necessitamos voltar para a lição básica: a conservação dos nossos ambientes naturais.


FONTE:


Gerrit H. U. Lamm, Egor Marin, Alexey Alekseev, Anna V. Schellbach, Artem Stetsenko, Jose Manuel Haro-Moreno, Gleb Bourenkov, Valentin Borshchevskiy, Marvin Asido, Michael Agthe, Sylvain Engilberge, Samuel L. Rose, Nicolas Caramello, Antoine Royant, Thomas R. Schneider, Alex Bateman, Thomas Mager, Tobias Moser, Francisco Rodriguez-Valera, Josef Wachtveitl, Albert Guskov, Kirill Kovalev. CryoRhodopsins: A comprehensive characterization of a group of microbial rhodopsins from cold environments. Science Advances, 2025; 11 (27) DOI: 10.1126/sciadv.adv1015


IMAGEM: Canaltech

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