CRIMES TELEVISIONADOS: DA PRESIDÊNCIA À CONDENAÇÃO
- Manuel Sousa Junior

- 11 de set.
- 4 min de leitura

Acabamos de acompanhar a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também segue inelegível. Nos seus quatro anos de governo acompanhamos crimes sendo televisionados em tempo real pelo mandatário e seus correligionários. Vivenciamos Ministra dos Direitos Humanos sendo contra Direitos Humanos de algumas pessoas, Presidente da Fundação Palmares sendo contra negros, Ministro da Educação sucateando universidades e institutos pelo país, Ministro do Meio Ambiente passando a boiada em legislações ambientais a favor do agro, reiterados ataques às instituições democráticas e às urnas eletrônicas, a reunião com embaixadores de todo o mundo levando vergonha nacional para todo o globo e inúmeras lives com verborragias preconceituosas e de caráter nazi-fascista são apenas alguns exemplos. O inelegível desafiava as instituições democráticas constantemente e estimulava manifestações antidemocráticas e motociatas por todo o país à custa dos cartões corporativos, como ocorreu em uma motociata em Salvador em que em poucas horas foi gasto cerca de 20 mil reais em uma delicatessen. Milhares de pessoas eram reunidas sem uso de máscaras mesmo na emergência global em decorrência do coronavírus.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a gestão da pandemia recomendou o indiciamento de Bolsonaro por vários crimes, entre eles: prevaricação, charlatanismo, e omissão que teria colaborado para agravamento da epidemia. O relatório apontou decisões e omissões da Presidência que, segundo os autores do relatório, contribuíram para a propagação do Sars-CoV-2 e para o número elevado de mortes. Bolsonaro e seu Ministro da Saúde negligenciaram a compra de vacinas, pois acreditavam na imunidade de rebanho, que era o incentivo à contaminação da população para adquirirem a imunidade natural, porém, com mais risco de mortes. Resultado: o Brasil possui uma das maiores quantidades de mortos por Covid-19 em relação à proporção populacional.
Investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e investigação judicial, vinculadas à apuração das tentativas de deslegitimar o resultado eleitoral, apontaram campanhas de desinformação sobre a urna eletrônica, pedidos de alteração de regras e pressões sobre as Forças Armadas e o TSE. Essas ações são parte do pano de fundo das acusações de tentativa de abalo institucional.
As invasões e depredações dos prédios públicos em Brasília (08/01/2023) praticadas por apoiadores de Bolsonaro após sua derrota eleitoral, impulsionaram investigações sobre quem teria incentivado, organizado ou facilitado a ação. A PGR e a Polícia Federal vincularam elementos desses eventos a grupos que divulgaram informações e mobilizações antes e depois da eleição. Essas apurações culminaram em ações penais que chegaram ao STF.
A ação penal mais adiantada (frequentemente mencionada como “núcleo crucial” ou “núcleo 1” da trama) e que acaba de ser sentenciada em condenação, acusou Bolsonaro de participação em organização criminosa armada, tentativa de abolir a ordem democrática e o Estado de democrático de Direito por meios violentos e crimes conexos ligados às articulações que precederam e seguiram a eleição de 2022, incluindo a difusão de desinformação sobre as urnas e mobilizações que terminaram nas depredações na Praça dos Três Poderes em 08/01/2023.
Bolsonaro e sete aliados (núcleo crucial), respondem por: Organização criminosa armada, Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado, Dano qualificado por violência e grave ameaça e por Deterioração de patrimônio tombado. Por se tratar de fatos ocorridos no exercício da Presidência ou por envolver autoridades com prerrogativa de foro na época, várias das peças processuais relacionadas a tentativas de golpe e crimes conexos chegaram ao Supremo. O STF passou a julgar ações penais que alcançam Bolsonaro e outros réus vinculados ao “núcleo” da trama.
Enquanto isso, os adeptos da extrema direita seguem em uma ginástica mental em distorcer os fatos a partir de recortes da realidade, como a negação que houve tentativa de golpe, pois não ocorreu uma revolta armada, por exemplo. Uma analogia ao pensamento deles, pode ser vista no livro de Otávio Paes intitulado Labirinto da Solidão em que narra que quando Colombo chegou aqui por essas terras, os indígenas não tiveram cognição para representar em sua mente uma imagem do que viam naqueles navios e pessoas, fatos que eram absolutamente incompatíveis com tudo que eles já conheciam, com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar aquelas caravelas. A gente só vê o que tem cognição para ver, não tem como discutir com quem tem uma visão de mundo, uma percepção como cosmovisão que só permite enxergar o que está escrito na cognição como recortes da realidade e não o que existe de verdade. Infelizmente essas pessoas estão aí e enquanto cristãs continuam adorando o Estado de Israel, que odeia cristãos, vangloriando a bandeira estadunidense em plena comemoração da independência do Brasil.
O julgamento no STF é, além de jurídico, um evento de repercussão política e simbólica, afinal trata da responsabilidade de um ex-presidente da República e de militares de altas patentes por ameaças à ordem democrática. A evolução do caso mostra como investigações da CPI, Polícia Federal e Procuradoria Geral da República foram convertidas em ação penal de grande vulto, com questionamentos sobre o papel das Forças Armadas, aliados políticos e redes digitais.
Durante anos assistimos atônitos todos esses crimes sendo praticados e transmitidos sem o menor pudor e agora, enfim, os maiores responsáveis vão começar a pagar. Pela primeira vez na história do país um ex-presidente está sendo condenado por tentar dar um golpe. Parece que a máxima autoritária, fascista e eugenista que diz “bandido bom é bandido morto/preso”, tão aclamada pela extrema direita será revista no recorte da realidade de seus pares, não é mesmo?
REFERÊNCIAS:
BRITO, Ricardo; MAGALHÃES, Luciana Novaes. Two Brazil Supreme Court justices vote to convict Bolsonaro for coup attempt. Reuters. 10 set. 2025. Disponível em:
https://www.reuters.com/world/americas/two-brazil-supreme-court-justices-vote-convict-bolsonaro-coup-attempt-2025-09-09/. Acesso em: 10 set. 2025.
CARVALHO, Eric Luis; SOUZA, João. Bolsonaro gastou R$ 19 mil no cartão corporativo em ida única a delicatessen de Salvador. G1 - Bahia. 13 jan. 2023. Disponível em:
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/01/13/bolsonaro-gastou-r-19-mil-no-cartao-corporativo-em-uma-unica-ida-a-delicatessen-de-salvador.ghtml. Acesso em: 10 set. 2025.
LOBATO, Gisele; MENEZES, Luís Fernando; FAUSTINO, Marco; MANGABEIRA, Milena. No STF, Bolsonaro mente ao responder acusações de fraude e golpismo. Aos Fatos. 10 jun. 2025. Disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/no-stf-bolsonaro-mente-ao-responder-acusacoes-de-fraude-e-golpismo/. Acesso em: 10 set. 2025.
PHILLIPS, Tom. First two Brazilian judges vote to convict Jair Bolsonaro in coup plot trial. The Guardian. 09 set. 2025. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2025/sep/09/brazil-jair-bolsonaro-trial. Acesso em: 10 set. 2025.
RICHTER, André. STF abre ação penal contra Bolsonaro e mais 7 réus por trama golpista. Agência Brasil. 11 abr. 2025. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-04/stf-abre-acao-penal-contra-bolsonaro-e-mais-7-reus-por-trama-golpista. Acesso em: 10 set. 2025.
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Perfeito relato...
Uma análise perfeita da trajetória deplorável desse ser, especialmente no que diz respeito a analogia feita sobre as distorções dos fatos.
Muito bom!
Fantástico !!
Isso sim é justiça com J maiusculo. O Jair fez mal demais ao povo brasileiro. Cadeia so vai pagar alguns desses males. O resto ele terá que acertar com Deus.