No bairro de Itapuã, subindo a Ladeira do Abaeté, situa-se uma lagoa escura, arrodeada de areia branca. Uma das histórias envolvendo suas origens afirma que esse espelho d’água leva o nome de um líder indígena tragado por suas perigosas águas. Daí, seu povo passou a ouvir cânticos do fundo do lago, homenageando seu chefe aprisionado ao denominar a lagoa. Já os escravizados que rondavam o local diziam que o canto era de Janaína, uma sereia encantadora que rege aquele espaço. Colonizadores achavam que lá morava um príncipe e sua corte. Enfim, já deu pra notar que a Lagoa do Abaeté confirma seus mistérios. Muita gente que aventurou entrar em seus domínios não mais saiu de lá. Em seus arredores, cresceu numerosas residências e ocupações espontâneas que culminaram na devastação e redução de suas dunas.
Durante várias décadas, adeptos do candomblé ocupam suas cercanias para a realização de rituais, porém, nos últimos anos cristãos também partiram para lá captar suas energias. E aí teria surgido uma verdadeira disputa de territórios. O povo de santo anda preocupado com o fato de evangélicos estarem demarcando o espaço de modo invasivo.
Isso não é novidade. Em 2022, houve até proposta pra mudar nome de uma parte das dunas para “Monte Santo Deus Proverá”, um sinal de que de fato há um desejo de repartição do lugar. O Abaeté é uma APA (Área de Proteção Ambiental) com zonas de ocupação permanente e controlada. Uma área pública, de integração, e que não pode ser delimitada nem por decreto, nem pela força. A lagoa é meio de subsistência de lavadeiras e pescadores, habitado pelas ganhadeiras, visitantes, e soteropolitanos em geral. Nenhuma denominação pode chegar em região tão plural e passar a traçar planos a torto e a direito. Alguém tem que avisar a essa gente que tem que pisar naquele chão devagarinho.
Porém, é certo que historicamente ou recentemente, as energias que de lá emanam pode ser usufruída por qualquer grupo. A busca pela espiritualidade é maior que qualquer cizânia, e movimentos assim podem proporcionar até entendimentos para uma veneração mais sincrética, já que Deus é uma espécie de mulato.
Há alguns anos, aquela região se tornou um atrativo cultural, com Casa da Música, bares, restaurantes, e shows musicais. Com o tempo, essas atividades foram reduzidas e volta e meia é cenário de alguns assassinatos e expansão de domínio criminal. Mesmo assim, por vezes, religiosos oram e pregam suas preces rodeados de helicópteros que caçam marginais. Com alguma harmonia, é possível que a fé tenha jogo de cintura e que a lagoa absorva os presentes e a salvação, vice-versa, tanto faz.
O Abaeté, uma lagoa escura, arrodeada de areia branca, se tornou assim tão grande, como um espelho colorido a refletir qualquer tipo de divindade. Salve! Em nome de qualquer deus!
Senhor, neste dia que amanhece, antes de executar qualquer atividade que me é incumbida, quero aprender a louvar Teu Nome.
Pai Nosso que estás no Céu, santificado seja vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.
Encerraremos nossos trabalhos saudando mamãe Oxum
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