FEMINICÍDIO BATE RECORDE NO BRASIL: até quando vamos normalizar o extermínio de mulheres?
- Nieissa Pereira
- 15 de jun.
- 3 min de leitura

Na quarta-feira (11), foram divulgados os dados do Mapa da Segurança Pública de 2025 pelo Ministério Da Justiça e Segurança Pública e o que chama a atenção são os dados sobre feminicídios no ano de 2024. Em comparação com o ano de 2023, que apresentou uma queda, em 2024 os casos voltaram a crescer.
Os números são altos, mas ainda assim não parecem causar o espanto necessário ou quando causam, o espanto é temporário. O Brasil encerrou o ano de 2024 com o maior número de feminicídios já registrado: 1.459 mulheres assassinadas por serem mulheres, vítimas do machismo e da misoginia estrutural que atravessa o país de norte a sul.
São quatro vidas interrompidas por dia. Quatro famílias devastadas. Quatro histórias silenciadas. E, diante disso, o que vemos? Notas oficiais mornas, promessas de políticas públicas que nunca saem do papel e uma sociedade anestesiada diante do massacre diário.
O feminicídio não é um fenômeno isolado ou uma tragédia sem um responsável. É o resultado de um Estado que falha sistematicamente em proteger as mulheres. É o reflexo de uma cultura que ensina, desde cedo, que o corpo da mulher é território disponível, e que deve ser submetido ao controle através da violência. Quando uma mulher denuncia, ela enfrenta a revitimização com o descrédito institucional, a burocracia da proteção e, muitas vezes, o desprezo das autoridades. Quando não denuncia, vira estatística.
As campanhas de conscientização são sazonais, quase sempre restritas a datas comemorativas (comemorar o que mesmo?) como o 8 de Março, enquanto a violência é diária. As delegacias da mulher funcionam em horário comercial, como se a agressão tivesse horário marcado para acontecer ou o agressor obedecesse ao relógio. As medidas protetivas são desrespeitadas com frequência. Os centros de acolhimento vivem à míngua de recursos. E o Judiciário? Ainda lento, ainda misógino, ainda reprodutor das violências que deveria combater.
Os dados divulgados pelo Ministério da Justiça não deixam dúvidas: Norte e Nordeste lideram as taxas de feminicídio. Estados como Piauí, Maranhão e Amazonas tiveram aumentos que chegam a 42% em apenas um ano. A Bahia, historicamente entre os estados com maiores índices de violência de gênero, continua sem apresentar uma política estadual de enfrentamento que seja de fato eficaz.
É impossível falar de feminicídio sem falar de raça e classe. As principais vítimas continuam sendo mulheres negras e periféricas. São elas que vivem em comunidades com menor presença do Estado, onde o acesso à justiça é quase inexistente e onde a violência se manifesta de forma mais cruel e cotidiana.
O Ministro Ricardo Lewandowski, chamou a atenção para o caráter "estrutural" da violência contra a mulher. Mas o discurso, por si só, não salva vidas. Enquanto se anuncia a expansão de projetos como o “Antes que Aconteça”, a realidade nas ruas é de um Estado ausente e de políticas públicas fragmentadas, sem orçamento adequado, sem integração entre órgãos e sem acompanhamento sério dos casos.
O combate ao feminicídio não pode ser uma resposta burocrática. Requer investimento em educação de gênero nas escolas, em formação continuada para agentes de segurança, no fortalecimento das redes de proteção e em políticas de geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade.
A cobertura da grande imprensa também precisa ser questionada. Noticiar o recorde de feminicídios apenas com números e sem aprofundar nas causas, nos recortes sociais e nas histórias das vítimas, contribui para a naturalização da barbárie. É urgente que a mídia se comprometa com uma narrativa que humanize as vítimas e responsabilize os agentes públicos.
O feminicídio é o desfecho extremo de um ciclo que começa muito antes: com o assédio, com a humilhação, com o controle psicológico, com a violência física repetida. As mulheres gritam, pedem socorro, denunciam. Mas seguem morrendo e a pergunta que ecoa — de novo — é: até quando?
REFERÊNCIAS:
UOL. Brasil registra recorde de feminicídios em 2024; 4 mulheres foram mortas por dia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/06/11/feminicidio-bate-recorde.htm. Acesso em: 15 jun. 2025.
G1. Brasil tem alta de feminicídio e estupro em 2024; roubo a banco e de veículos caem, aponta Ministério. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/06/11/brasil-tem-alta-de-feminicidio-e-estupro-em-2024-roubo-a-banco-e-de-veiculos-caem-aponta-ministerio.ghtml. Acesso em: 15 jun. 2025.
IMAGEM: Forum Brasileiro de Segurança
Comentários