MINHA CACHAÇA AGORA É RISCO DE VIDA!
- Carlos Henrique Cardoso
- 3 de out.
- 3 min de leitura
A semana começou com notícias sobre pessoas internadas após ingerirem bebidas alcoólicas contaminadas com metanol. Inicialmente, 16 casos, com 3 mortes e 3 que perderam a visão. Nesse momento que escrevo esse artigo já são 60 casos suspeitos, 11 confirmados. 53 só em SP. Um na Bahia. O assunto está sendo bastante comentado e acendeu um alerta sobre a procedência de vários destilados no país. Isso não é novidade, mas nos casos recentes, algo me chamou atenção.
Uma designe de interiores de 43 anos bebeu algumas caipirinhas num bar no bairro dos Jardins, na capital paulista. Passou mal, foi internada, teve convulsões, e está cega. O que chama atenção é que ela não bebeu num pardieiro qualquer, num “cacete armado” em algum fim de mundo, ou numa barraquinha armengada de algum ambulante. Foi num badalado barzinho de uma área nobre de São Paulo! A quantidade de casos despertou o problema, porém, nessa situação especifica fica claro que está atingindo classes mais altas, que estariam , digamos, mais protegidas de tais ocorrências. Quando a elite passa a correr riscos, aí a cobrança por fiscalização e atitudes contundentes dos Estado ficam evidentes.
A falsificação de bebidas e cigarros acontece há muito, uma tentativa de driblar a alta tributação desses produtos. Acontece que o retorno dessa taxação deveria ser revertida para aumento da fiscalização. Pra piorar, o bar dos Jardins emitiu um comunicado afirmando que adquire seus produtos através de fornecedores legais, regulamentados, com nota fiscal, distribuídos por empresas oficiais, tudo nos conformes. E ainda assim, deu no que deu. Imagine os milhares de locais no país que compram cachaça e outros itens de locais suspeitos?
Muitos podem estar se perguntando: como um ser que fabrica bebida ilegal coloca metanol pra matar os outros??? isso tem a ver com a metabolização do álcool, coisa que qualquer estudante de química sabe. No processo de destilação, o metanol pode ficar condensado e aí “dar merda”. É uma falha, não uma intenção.
O bafafá dá conta de que isso é coisa de crime organizado, e alguns canais já adiantam que o PCC tá envolvido, mas até o momento, tudo está na investigação e especulação. Se de fato concluírem que tem organização das grandes articulando isso aí, zero novidade. Tinha empresa de transporte público ligada a eles, imagine fabricação clandestina de goró. Também, segundo investigações, lavavam dinheiro utilizando bancos digitais com negócios no mercado financeiro. Isso mostra muito poder e capacidade de gerenciamento em vários empreendimentos.
Um dado importante, que não está circulando como deveria, remete ao fim do SICOBE (Sistema de Controle de Produção de Bebidas) durante o governo Temer. Esse sistema era responsável por monitoramento, por via de equipamentos instalados na linha de produção, acompanhando em tempo real o volume fabricado e cruzando dados com selos de controle. Isso foi desmontado! Será que uma medida tomada em 2016 está batendo agora em 2025? a ver. O que isso pode demonstrar é a solicitação por grandes parcelas da população e da opinião pública pela diminuição do poder do Estado e deixar “a mão invisível do mercado” agir por conta própria. Estamos vendo nessa temática abordada o que significa afrouxamento do olhar estatal...
Muitos abstêmios podem estar levantando as mãos pro céu, orgulhosos de não degustarem uma espuminha de champanhe sequer. Se medidas realmente sérias não forem tomadas - após o cadeado arrebentado, como diz o ditado - a clandestinidade da produção de alimentos pode chegar até o iogurte do seu filho! É uma queda de braço com o potencial de organizações cada vez mais numerosas, caso mecanismos de fiscalização continuem a ser desmontados, de acordo com o governo de ocasião, atendendo pedidos de desregulamentação de setores da economia.
Quem paga o pato é a população que espera a sexta-feira chegar pra “desopilar o fígado” e se desestressar do corre do cotidiano. Lamentavelmente, isso não tem prazo tão curto pra parar. Continuaremos a correr riscos de entrar num bar pra se divertir e ver o mundo mais colorido e sair de lá sem enxergar mundo algum.
IMAGEM: Portal ND Mais
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