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NEUROTRANSMISSORES E A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Atualizado: 19 de jun.

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*Por Adriana Sobrinho Teixeira


A sociedade contemporânea tem sido marcada por intensas transformações tecnológicas, rápidas mudanças culturais e um ritmo acelerado de vida que, embora favoreça a conectividade, o acesso à informação, e avanços científicos e tecnológicos, também impõe pressões sociais, emocionais e cognitivas significativas ao indivíduo. Nesse cenário, a busca por equilíbrio psicológico e emocional tornou-se um dos grandes desafios da vida moderna. Esse esforço está diretamente relacionado ao funcionamento de sistemas neurobiológicos, especialmente aos neurotransmissores que regulam o humor, o comportamento e a capacidade de adaptação. Este texto visa fomentar uma reflexão sobre o impacto dessas condições na subjetividade contemporânea e analisar a relação entre essa busca por equilíbrio e os principais neurotransmissores envolvidos na regulação psicofisiológica do ser humano. 


A partir do conceito da modernidade líquida de Bauman (2001)[1], que aponta traços característicos deste contexto atual como individualismo exacerbado, instabilidade nas relações, excesso de informação e pressão por produtividade, podemos pensar cenários favoráveis ao adoecimento emocional do indivíduo. A hiperconectividade, as redes sociais, a lógica do consumo e a cultura da performance promovem uma experiência de vida frequentemente marcada por ansiedade, sensação de insuficiência e alienação. Nesse contexto, o sujeito é constantemente desafiado a se adaptar a múltiplas exigências: flexibilidade no trabalho, visibilidade social, competências emocionais e capacidade de autorregulação. As ameaças hoje enfrentadas não são apenas as de vida ou morte físicas, como também de vida ou morte da imagem social, da representatividade, que causa efeito similar às ameaças por sobrevivência.


Diante dessa realidade, cresce a demanda por práticas que auxiliem o indivíduo a encontrar um ponto de equilíbrio entre produtividade e bem-estar. Estratégias como meditação, psicoterapia, exercícios físicos, alimentação saudável e cuidados com o sono vêm ganhando destaque por sua contribuição para o equilíbrio físico e mental. Esse equilíbrio subjetivo, entretanto, não depende apenas de fatores externos ou de esforço consciente. Ele está relacionado a processos neurofisiológicos complexos, mediados por substâncias químicas que modulam as respostas emocionais, comportamentais e cognitivas frente às demandas do ambiente. É então que vale a pena conferir o papel dos neurotransmissores nesse contexto.


Os neurotransmissores são mensageiros químicos responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Vários deles desempenham papéis fundamentais na regulação do humor, motivação, recompensa, estresse e equilíbrio emocional. Os principais são:


Serotonina: relacionada à regulação do humor, sono, apetite e bem-estar. Níveis baixos de serotonina estão associados à depressão e à ansiedade;


Dopamina: envolvida na motivação, prazer e sistema de recompensa. Está relacionada ao comportamento exploratório, à busca de novidades e ao foco atencional;


Noradrenalina: atua na resposta ao estresse e no estado de alerta. Seu desequilíbrio pode levar à irritabilidade e instabilidade emocional;


GABA (ácido gama-aminobutírico): principal neurotransmissor inibitório, associado à redução da excitabilidade neuronal e ao controle da ansiedade;


Oxitocina: associada ao vínculo social, empatia e confiança. Está ligada ao fortalecimento de relações interpessoais, o que pode amenizar os efeitos da solidão contemporânea.


A regulação adequada desses neurotransmissores contribui para a homeostase emocional e a adaptação saudável ao ambiente. Quando há desequilíbrios, o sujeito pode apresentar sintomas que variam de alterações de humor a transtornos psicológicos mais graves. No entanto, a subjetividade do sujeito está muito além da sua resposta biológica aos estímulos do ambiente, diz respeito também a suas complexas e diversificadas formas de conceber o mundo, interpretá-lo e ampliar suas estratégias de lidar com as adversidades.


Cada época e contexto sócio-histórico apresentam desafios específicos e os desafios atuais possivelmente estão relacionados à contraposição entre este contexto da fluidez proposto por Bauman, e a necessidade orgânica por estabilidade. Os organismos vivos, desde a célula, buscam uma estabilidade, um certo equilíbrio entre seu ambiente interno e o meio externo. Assim como os indivíduos buscam seus ajustes entre a realidade do eu e a realidade do contexto sócio-histórico cultural em que está inserido. Não podemos deixar a conta da responsabilidade apenas no indivíduo. A sociedade está adoecendo as pessoas.


É preciso pensarmos estratégias sociais coletivas para que o ambiente, e aqui estamos usando o termo como representação da nossa sociedade, também facilite os ajustamentos necessários dos indivíduos a este contexto de tamanha complexidade, promovendo recursos necessários para que a regulação orgânica dos neurotransmissores individuais possa desempenhar suas funcionalidades organicamente.


__________________________


*Adriana Sobrinho Teixeira. Graduada em comunicação social. Trabalha na UNEB como Analista Universitária. Graduanda em Psicologia pela Faculdade Visconde de Cairu.


Notas:


[1] BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001. 258 p.



3 comentários

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Carlos André
30 de jun.
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Gratidão!

Texto oportuno em meio ao cenário que vivemos na atualidade: busca de validação nas redes sociais, fragilidade das relações, procura incessante e desmedida por reconhecimento e prestigio, etc.

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Convidado:
19 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Maravilhoso!! Fico pensando até que ponto a sociedade tem interesse em facilitar este caminho ao indivíduo? Acho um alcance tão longínquo ... Mas vamos ter fé e tentar na medida do que se é possível se blindar do que nos adoece.

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Camila Braga
Camila Braga
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

muito bom!!!! texto claro e explicativo. 😍

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