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O MILIONÁRIO, A BOLSA, A GUILHOTINA, E UMA FALA ABJETA


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A postagem de uma foto em família deu o que falar. Na imagem, o empresário Roberto Justus posa com esposa e filha, uma radiografia típica de bem-sucedidos. Foi a repostagem, de uma postagem de um perfil que indicava que a filha de Justus - uma criança - estava segurando uma bolsa de 14 mil reais! Havia a opinião de quem estava repostando: “os bolcheviques estavam certos”. Porém, a polêmica que viralizou foi de um professor aposentado que escreveu “só a guilhotina...”. Bem, isso gerou revolta nas redes, até Justus se pronunciar e informar que iria processar o professor por desejar a morte de sua filha. Vejam o rebu de uma declaração esquisita!

 

As alusões são bem claras,pra quem tem alguma noçãozinha de História. Os bolcheviques formaram o movimento político que realizou a revolução na Rússia, derrubando o czarismo naquele país e fuzilando os Romanov, a família imperial que sucumbiu à revolução. Já a guilhotina, foi instrumento de decapitação da realeza da França, também após vitória revolucionária. Ou seja, as frases que se referiam a Justus e familiares era um claro sinal de que a classe privilegiada, a nobreza endinheirada de um país, é o primeiro alvo de uma revolta popular.

 

Bem, ficar ironizando em rede social é diversão de muita gente, mas realmente, um professor universitário devia ter mais cuidado e zelo pelo que opina nesses locais digitais. Marcos Dantas, o docente em questão, se desculpou pela frase sarcástica, afirmando que “era uma metáfora” e que não tinha intenção de desejar a morte especificamente daquelas pessoas. Lembrar da guilhotina, foi uma tentativa de explicitar que profundas desigualdades sociais são as causas de uma revolução, que ocasiona as mortes de integrantes das classes mais altas, responsáveis diretos pela geração de pobreza e abismo econômico. Dantas, perdeu a chance de dar uma verdadeira aula sobre a história de revoluções conhecidas nesse post e ficar por isso mesmo. E aí entra outra questão: mostrar conhecimento, com justas palavras, não chama atenção de ninguém.

 

O que aciona o dia a dia das redes são discursos de ódio, xingamentos, atrevimentos, discórdia, repúdio, ou qualquer outra desgraça. Uma produção de conteúdo mais apurada passa despercebida, dá sono, parece um hien-hien-hien modorrento. Dai, alguém que lecionou a vida toda, produziu artigos científicos, palestrou, participou de bancas de pós-graduação, quiçá publicou livros, passa a carreira incólume e quando seu nome se evidencia, é por um post infeliz numa rede social. Que dureza...

 

Por essas e outras, tenho cada vez menos utilizado as redes. Dificilmente uma foto de uma família abastada apareceria no meu feed, mesmo sendo uma critica, como é o caso discutido. Também não teria a mínima idéia do valor da referida bolsa feminina, olhando através de uma fotografia. Por outro lado, acredito que a maioria das curtidas foi apreciando o casal com a filhinha, como se estivessem se aprontando pra passear, em um comercial de carro importado. Isso é algo curioso. Tenho notado que há certa admiração por abastados, como se, compartilhando seu fabuloso cotidiano nas redes sociais, estivessem integrados ao mundo real, duro, e cruel de quem os segue. O casamento do trilhardário Jeff Bezos chamou atenção pelos custos altíssimos do evento. Enquanto uns protestavam contra o matrimônio nas ruas de Veneza - local do casório - outros acompanhavam felizes o regabofe, sentados na sua humilde poltrona (adquirida em diversas prestações). Fica difícil realmente uma postagem séria ou irônica sobre a imensa concentração de renda que separa infinitamente nossa realidade precária e o fascinante reino dos bacanas, já que, ao invés de aversão, os ricaços vem ganhando simpatia, um claro sinal de que valores estão sendo invertidos e ninguém tá nem aí. Por esse viés, clamar revolução é tão demodê quanto comprar uma máquina de datilografar. Mais fácil uma revolta invertida, onde classes mais altas assassinem de vez o resto da população. Taí Trump, um líder mundial brincando de governar, tendo o saco puxado por um monte de pelego, ele mesmo um milionário e tanto.

 

Isso tudo trouxe á tona uma declaração pra lá de escrota de Justus durante a pandemia - o mais proveitoso de todo esse imbróglio. Contrário ao lockdown, que, segundo ele, traria danos à economia, teve a pachorra de dizer que “12 mil mortes é pouco pra tanta histeria”, querendo demonstrar que o número de vítimas da COVID até então era “apenas” de alguns milhares. Isso foi em março de 2020. O magnata estava tão preocupado em manter o trabalhador ativo que nem se deu conta que a pandemia apenas começava, e levou pra cova, até meados de 2022, milhões de pessoas em todo mundo,. Justus também já foi apresentador de um reality show que demitia pessoas que desejavam trabalhar na sua empresa, muitas vezes, humilhando o eliminado. Uma fala dessa é muito mais abjeta que qualquer metáfora de rede social, afinal, mencionar "guilhotina" pode gerar N interpretações, mas declarar que “umas mortizinhas aí” não são nada demais, com certeza é bem mais revoltante.


FONTE:


 


IMAGEM: Bnews



 

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