top of page
Foto do escritorJacqueline Gama

O QUE O FUTEBOL E A LITERATURA TÊM EM COMUM?



O que há em comum entre a literatura e o futebol? Apesar de parecer que só há dissemelhança, o futebol emana a paixão por imaginar o porvir com um destino já dado em odisseia: quem será o campeão? E quem perderá? A jornada do herói em que a personagem se consagra abandonando mortes no campo de batalha.


Obviamente, as mortes futebolísticas são simbólicas. Morre-se para a competição, mas os times continuam se preparando para a próxima. Perde-se a batalha e luta-se a guerra. Junto ao espírito competitivo, há os altos e baixos das temporadas. Tal qual as narrativas em que ocorrem pontos de virada, ou turning points em inglês, até chegarem ao clímax maior em direção ao desfecho.


Os jogos de futebol se assemelham aos tão aguardados folhetins. Mesmo a narrativa de folhetim extinta, ao menos nos veículos jornalísticos populares, aquela em que os capítulos eram publicados semanalmente até o fim da história. Para citar alguns exemplos, isso se deu com livros de Machado de Assis, José de Alencar e Lima Barreto. Nos quais, os leitores ansiavam a continuidade e o desfecho narrativo, caso semelhante aos das telenovelas que continuam tendo o seu público aguardando ansiosamente mais um capítulo.


A sensação da audiência novelística é análoga a do torcedor que espera o placar a cada jogo, porém, antes disso, anseia saborear a partida. Por este motivo, algumas torcidas, como a do Flamengo, reclamam quando o time joga mal, afinal, aquele jogo estava sendo desejado como uma boa leitura no cair da noite. No final da partida, não vale apenas a sensação de ganhar, mas também a de aproveitar os 90 minutos. Quem quer ler um livro mal escrito, não revisado ou repetitivo, mesmo que o desfecho seja surpreendente?


Ainda falando de Flamengo, é possível traçar algumas analogias dessa narrativa literária futebolística, a partir da conquista da ‘Copa do Brasil’ (CB) de 2024, em cima do Atlético-MG, sendo o primeiro título na Arena MRV, casa do Galo. Esta é uma das narrativas das quatro linhas que deixou a crítica boquiaberta, uma vez que o time mineiro era o favorito naquele momento para ganhar a competição em cima do rival histórico. Uma rivalidade, inclusive, que, por uma parte da torcida do Rubro-Negro, é considerada unilateral, já que o alvinegro perdeu mais do que ganhou na história deste confronto.


No caso do futebol, a crítica é incumbida pelos comentaristas esportivos, alguns trazem observações táticas ou técnicas, outros dizem suas opiniões embasadas em argumentos contextuais e/ou históricos. Do mesmo modo ocorre com a literatura, alguns críticos se encarregam de dissertar acerca de um texto narrativo utilizando teorias sobre o que é a literatura, enquanto outros tomam embasamento em obras análogas e/ou divergentes e nas conjunturas históricas. Ainda, há o caso do uso das duas metodologias para um mesmo comentarista ou crítico.

 

A narrativa do Flamengo na Copa do Brasil


Nesta miscelânea de semelhanças, fato é que a conquista da CB pelo Flamengo, mobilizou não só a crítica desportiva, os torcedores, como também revelou o fim de mais um capítulo da história do futebol. Atuando como o protagonista desta copa, o Flamengo passou por diversos turning points, desde a perda dos principais jogadores do elenco Rubro-Negro, devido a contusões durante a temporada, culminando em uma queda drástica de aproveitamento, até o clímax: a saída do treinador Tite após uma eliminação caquética contra o time do Peñarol.


Do outro lado, no mesmo momento histórico, o rival, Atlético Mineiro, acabava de passar pelo poderoso River Plate, na mesma competição que o Urubu foi eliminado, Libertadores da América. Ainda que muitos falem da má fase do time argentino, era um dos favoritos para ganhar o campeonato continental. Por este feito, foi impossível para diversos comentaristas não cotarem o Galo como o provável vencedor da Copa do Brasil. Porém, assim como na literatura, o futebol tem seus capítulos a parte e muitos são surpreendentes.


O clímax da mudança mudou o desfecho do ano do 'Mais Querido' com a chegada de Filipe Luís como técnico do time profissional .  A ressurreição de um ídolo, Gabriel Barbosa, que voltou a ser o decisivo Gabigol.  A condução de um capitão ­― Gerson― e a evolução de um jovem que foi queimado em boa parte da temporada, porém demostrou toda a sua evolução e força nos dois jogos da final , Wesley. Além da confiança dada pelo novo técnico ao promissor Evertton Araújo, o garoto da base, para ocupar a titularidade na volância. E, a patente alta do zagueiro Léo Ortiz.


Sem estes personagens, provavelmente, esta narrativa seria outra, uma vez que do outro lado tinha um poderoso adversário, comandado em campo pelo incrível Hulk. O herói vingador morreu nesta última batalha futebolística, se tornando anti-herói, quem sabe na próxima haverá de ser um vencedor?


Como um bom narrador do campo, Filipe Luís montou o melhor planejamento que poderia ser esperado, menos para os torcedores Atleticanos, que testemunharam a primeira taça levantada em sua casa por aqueles que eles chamam de seu segundo maior rival, ficando atrás apenas do conterrâneo Cruzeiro.


Não à toa, ainda durante a última partida da CB, os torcedores do Galo se tornaram belicosos, jogaram bombas, sinalizadores, copos e lasers nos jogadores do Flamengo, principalmente após o último gol do rival, fechando o placar agregado, que terminou em 4x1. Também, o feito do pentacampeonato deixou cabisbaixo os anti-Flamengo, no entanto, revelou mais uma vez, o protagonismo do Rubro-Negro.


Fato é, que, quem mais se deleitaram foram os espectadores que devoraram essa narrativa apetitosa e arrepiante. Em especial, a torcida Flamenga que saiu regozijada após entoar o grito de campeã, preso desde 2023, um ano após ter perdido a mesma batalha futebolística. É preciso afirmar há recompensas para aqueles em que a glória é lutar, e no futebol cada jogo é uma nova história, um novo capítulo. A mudança de página persegue cada ponto, até o fim!


Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page