top of page

PAI TAMBÉM CHORA - E A GENTE PRECISA FALAR DISSO


ree


Na rua, no bairro, em casa, pai é visto como aquele cara firme, que aguenta tudo calado, forte que nem aço, mas com um coração mole por dentro. A gente até brinca com essa imagem: “pai não chora”, “pai para toda obra”. Mas a vida, minha gente, é bem diferente dessa história. Pais também adoecem mentalmente. E quando essa doença, a depressão paterna, permanece invisível e sem tratamento, as consequências recaem diretamente sobre as crianças, como revela uma pesquisa recente.


O estudo apresenta dados contundentes que desafiam o silêncio e o tabu em torno da saúde mental masculina no contexto da paternidade. Isso porque crianças expostas à depressão paterna já na entrada do jardim de infância apresentam, aos 9 anos, comportamentos problemáticos, desde inquietação e raiva até dificuldades em cooperação e autoestima. São marcas profundas que persistem e ameaçam o desenvolvimento emocional e social dessas novas gerações.


Isso é um convite urgente à reflexão e à ação por que ainda tratamos a depressão pós-parto como prioridade focal nas políticas de saúde familiar, ignorando que a saúde emocional dos pais homens é igualmente crucial? Ignorar o sofrimento paterno é perpetuar um ciclo onde os filhos carregam as sequelas do silêncio dos pais, que, por sua vez, não receberam o tratamento necessário.


Além disso, a pesquisa destaca que a depressão paterna não é um problema isolado, mas sim um fator que contribui para conflitos familiares, menos apoio emocional e um ambiente doméstico estressante. A falha em reconhecer e tratar essa condição não apenas prejudica a vida do pai, mas mina o desenvolvimento integral das crianças e a estabilidade familiar como um todo.


É hora de quebrar o mito do pai imbatível e abrir espaço para conversas francas entre pediatras, educadores e famílias sobre a saúde mental dos pais. Políticas públicas e intervenções clínicas precisam se expandir para incluir o cuidado com os pais, oferecendo-lhes suporte real e efetivo. O futuro das crianças depende disso, não apenas de pais presentes, mas de pais saudáveis. A pesquisa alerta que é preciso falar com os pais também, cuidar deles, porque eles são parte dessa família. E eu digo mais: se a gente continuar fingindo que pai não sente nada, que é só força, vai continuar vendo gerações sofrendo em silêncio.


Dessa forma, não é só a mãe que precisa ser amparada. Pai também precisa, e a gente tem que abrir espaço para isso. Se queremos um futuro com crianças felizes, precisamos dar aos pais a chance de serem humanos, com medos, cansaços, tristezas e, por que não, esperança. Vamos tirar essa mística do pai feliz e mostrar o pai real, que chora, que precisa de ajuda, que pode ser forte de verdade quando é cuidado.


FONTE:


Kristine Schmitz, Kelly Noonan, Hope Corman, Jenny M. Nguyen, Manuel E. Jimenez, Nancy E. Reichman. Paternal Depression at Kindergarten Entry and Teacher-Reported Behavior at Age 9 Years. American Journal of Preventive Medicine, 2025; DOI: 10.1016/j.amepre.2025.01.017


IMAGEM: iSTOK

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
SOTEROVISÃO
SOTEROVISÃO

CONHECIMENTO | ENTRETENIMENTO | REFLEXÃO

RECEBA AS NOVIDADES

Faça parte da nossa lista de emails e não perca nenhuma atualização.

             PARCEIROS

SoteroPreta. Portal de Notícias da Bahia sobre temas voltados para a negritude
bottom of page