POR QUE NÃO USAR ANIMAIS VIVOS NO DIA DO CABELO MALUCO?
- Jacqueline Gama

- 8 de out.
- 4 min de leitura

Semana da criança chegou e com ela uma moda que já vem pegando faz algum tempo: dia do “cabelo maluco”. Para quem não conhece essa tendência, se trata de cabelos criativos com objetos não convencionais. Alguns responsáveis penduram pipocas, frutas, abusam nas tintas coloridas, colas, glitters. Além de enfeitar com bonecos, garrafas pet, latas e até embalagens ou cascas de ovos.
Até aí tudo bem, pensando que se deve ter cuidado com essas tintas e objetos para que elas não machuquem a criança que está utilizando o adereço e nem provoquem doenças, como alergias na pele, nos olhos, ou no couro cabelo. Além de também pensar no bem-estar dos coleguinhas de sala. Será que o cabelo maluco pode machucar outra criança? Por isso, é sempre bom se atentar às pontas cortantes ou outros tipos de perigos que o objeto pode oferecer.
E ser minimamente inteligente para pensar em como tirar todos aqueles adereços da criança, sem machucá-la e sem danificar o cabelo, principalmente se ela tiver apego por ele. Imagina você colocar um objeto que só conseguiria ser retirado cortando o cabelo do seu pequeno ou da sua pequena? Será que essa situação não poderia vir a ser traumática?
Levando em conta essas questões, alguns “cabelos malucos” tem passado do ponto. Existem responsáveis que estão colocando animais vivos em cima das cabeças das crianças.
O PERIGO DE CABELOS COM ANIMAIS VIVOS
Vi e li relatos nas redes sociais, no Instagram e no Threads, além de reportagens, de crianças que levaram animais vivos para a escola. Desde pintinhos (o mais comum na escolha entre os bichos), passarinhos e até peixe. Basicamente os responsáveis imitaram gaiolinhas, galinheiros e até testemunhei uma criança que levou o peixe dentro de um coletor fechado de exames médicos. Os três exemplos constam na capa deste texto.
O mais triste de tudo isso é que em prol da brincadeira, os animais foram expostos à maus tratos, e alguns poderiam até cair em leis de proteção de silvestre, para além das leis de proteção animal. No caso dos pintinhos, ainda teve um agravante, algumas pessoas relataram que o animal seria descartado após o uso. De fato, como se fosse um brinquedo e não um ser vivo.
Em cima da cabeça de uma criança, o animal fica suscetível ao estresse. Imagina que o pequeno ou a pequena vai correr e pular com aquele bichinho ali. Ainda que a criança ande calmamente, há o incômodo do animal em ficar preso num ambiente totalmente inadequado e ainda rodeado do hiper estímulo de uma escola: barulhos altos, luzes fortes, temperatura inadequada e colegas curiosos.
Também, é preciso considerar que na sala de aula, animais como pássaros piam, e podem atrapalhar o andamento do conteúdo, tanto do ponto de vista dos alunos quanto dos professores. Sem contar que o animal não pode beber água, não pode se alimentar, e ainda provavelmente despejará dejetos na criança, os quais podem provocar doenças, além de causar mau cheiro. E, em caso de contato com outras pessoas, também há o risco machucá-las com bicadas e arranhões, além da própria criança.
A situação do peixe, talvez seja a mais grave, do ponto de vista da sobrevivência animal, pois ele fica em um ambiente minúsculo, com pouquíssima mobilidade, e que não tem oxigênio, correndo o risco de morrer asfixiado. Já que não é apenas a água que o mantém vivo, por isso é importante não faltar as aulas de biologia, certo galera?!
Em todos os casos, as crianças podem derrubar o animal e ele pode fugir, se ferir e no pior deles, morrer. Repito, animal não é objeto e muito menos brinquedo. Ou seja, todos esses “cabelos malucos”, expõem tanto a criança que utiliza o animal como adereço, quanto o bicho que serve de ornamento. O mais inteligente seria continuar com a ideia utilizando bonecos, pelúcias ou objetos de decoração.
Com todos os cuidados falados, o dia do cabelo maluco é uma diversão para famílias e crianças. Não é sobre não fazer, mas sim ter consciência ao fazer. Do que adianta um projeto megalomaníaco e surpreendente se isso pode trazer riscos para todo o ambiente escolar? E, inclusive, para os próprios filhos de muitos dos responsáveis?
Além disso, do ponto de vista das escolas, deveriam existir regras em relação ao cabelo maluco, e uma das principais seria o do não uso de animais vivos. Afinal, o principal objetivo da escola é a educação. E cuidar dos bichinhos é ensinar a preservar a geração delas e as posteriores. Sem contar na formação de cidadania.
Não maltratar os animais é o mínimo para uma educação holística, em comunhão com o todo, e que respeita todos os tipos de seres vivos, se distanciando do comportamento predatório e antropocêntrico que nos foi ensinado em gerações anteriores, culminando em extinção de espécies raras, desmatamento e poluição.
Imagem de capa: colagem autoral com imagens retirada do Threads e do G1 (https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2024/10/11/dia-do-cabelo-maluco-crianca-ganha-premio-em-escola-apos-fazer-penteado-com-pintinho-dentro-de-ninho-video.ghtml)
Obs: o rosto das crianças estão sendo borrados para não haver exposição infantil, e o perfil de pais ou responsáveis não serão divulgados para não culminar em discurso de ódio.



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