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POR QUE OS ESTADOS UNIDOS SE METEM EM TUDO?



Para iniciarmos nossa conversa, é preciso compreender que os Estados Unidos são a maior potência mundial, detendo a maior economia e o maior poderio militar do planeta. Essa nação foi fundada, como muitas outras, por meio da guerra. Em 1776, as 13 colônias britânicas na América obtiveram sua independência por meio de um conflito armado. Desde então, o país tem estado envolvido, direta ou indiretamente, em conflitos ao redor do mundo. A guerra civil americana, conhecida como Guerra de Secessão, ocorreu entre 1861 e 1865, envolvendo o Norte — interessado na industrialização e no trabalho assalariado — e o Sul, de base agrária e escravista. Foram mais de 600 mil mortos nesse confronto, que causou a destruição de grande parte do país. Naquele momento, o território estadunidense restringia-se à faixa leste, banhada pelo Oceano Atlântico. Após a unificação, iniciou-se um processo de expansão em direção ao Oeste, até alcançar a costa banhada pelo Oceano Pacífico, por meio da compra de territórios e de diversos conflitos armados. A Flórida foi comprada da Espanha; o Alasca, da Rússia; e estados como Califórnia, Arizona, Nevada e Utah foram incorporados após uma guerra que devastou o México.


O século XX foi decisivo para que os Estados Unidos alcançassem a posição que ocupam hoje no cenário geopolítico. Enquanto as nações europeias se digladiavam nas duas grandes guerras, os EUA souberam emprestar dinheiro a diversos países e lucrar com a indústria de armamentos e com a produção de bens para abastecer os conflitos armados. Ou seja, foi por meio das guerras que os Estados Unidos se tornaram a maior potência do planeta, buscando — de forma contraditória — implantar a paz mundial. Tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos demoraram a entrar oficialmente nos combates. Após os armistícios, ainda forneceram muitos empréstimos para a reconstrução dos países bombardeados. Esses são apenas alguns dos fatores que contribuíram para a consolidação da posição da nação norte-americana como a maior potência intervencionista do mundo.

Após a Grande Depressão de 1929 — uma grave crise mundial iniciada nos EUA e que se espalhou por diversos países, afetando amplamente a economia e a sociedade —, o presidente Franklin Roosevelt, eleito em 1933, assumiu uma postura firmemente intervencionista, mesmo com o país adotando, naquele momento, uma política mais isolacionista. Ele acreditava que, após a recuperação da crise, os Estados Unidos deveriam voltar-se à política internacional como caminho para o crescimento nacional a longo prazo. No entanto, suas ideias só começaram a se concretizar com a Segunda Guerra Mundial se consolidando após este evento bélico.


O isolacionismo norte-americano chegou ao fim com esse conflito, e os Estados Unidos passaram a assumir o perfil intervencionista que conhecemos atualmente. A União Soviética também adotava uma política externa fortemente intervencionista e disputava com os Estados Unidos a influência global. Com a dissolução da URSS após a Guerra Fria (1947–1991), a Rússia perdeu espaço nesse campo, e os Estados Unidos passaram a exercer hegemonia sobre as relações internacionais. Inclusive, vale salientar que países que estiveram por décadas sob a influência soviética tornaram-se aliados das potências ocidentais, como Polônia, Romênia, Letônia, Lituânia, Estônia, Hungria e Ucrânia.


Apesar do governo estadunidense sob Donald Trump não demonstrar grande apreço pela democracia, é inegável que os Estados Unidos possuem uma democracia sólida e duradoura. Esse fato faz com que seus governantes se sintam no direito de interferir em outros países sob a justificativa democrática de promover a paz — embora, na prática, ajam conforme seus próprios interesses. Com todo o seu poder financeiro e militar, os Estados Unidos passaram a utilizar o discurso de paz mundial como argumento para promover e se envolver em conflitos em diversos continentes, sempre alinhados a seus objetivos estratégicos. Apenas para citar alguns exemplos, ocorreram intervenções em países como Iraque, Vietnã, Panamá e Síria, ao longo dos séculos XX e XXI. Além dos conflitos armados, os Estados Unidos também apoiaram e interferiram em ditaduras, como no Brasil, Chile e Argentina, o que representa um paradoxo, já que o discurso em prol da democracia sempre se apresentava como prioridade.


A história comprova que os Estados Unidos sempre demonstraram uma incoerência em seu discurso, porém, internacionalistas costumam afirmar que tudo é feito com base em seus interesses de manter sua hegemonia como maior potência mundial industrial, militar, financeira, nuclear, estratégica, geopolítica e cultural, sobretudo a partir da rivalidade com Rússia e China, que não são democracias plenas, e, desse modo, continuam promovendo uma dependência de diversos outros países democráticos pelo mundo, como uma espécie de imperialismo.


Observe, por exemplo, que os EUA se incomodam com a Venezuela, mas demonstram indiferença em relação ao Haiti. A justificativa? As vastas reservas de petróleo venezuelanas. Da mesma maneira, ignoram as atrocidades cometidas por Israel no genocídio contra o povo palestino em Gaza, ao mesmo tempo em que tentam negociar com a Ucrânia — envolvida em guerra com a Rússia — a exploração de metais raros presentes em seu território.


A maior prova de que os Estados Unidos estão constantemente atentos à geopolítica mundial de acordo com seus próprios interesses foram as declarações feitas pelo presidente Donald Trump ao assumir seu atual mandato. Ele afirmou ter interesse em comprar a Groenlândia — uma região autônoma ligada à Dinamarca — mesmo sem que estivesse à venda; declarou o desejo de administrar o Canal do Panamá, pertencente a um país soberano; referiu-se ao presidente do Canadá como “governador do 51º estado norte-americano” e chegou a ordenar que o Google alterasse o nome do Golfo do México para "Golfo da América". Mais recentemente, os Estados Unidos declararam que uma mudança de regime no Irã pode estar em seus planos.


Trazendo a discussão para a guerra atual no Oriente Médio, alguns pontos merecem destaque. Enquanto o discurso trumpista afirma que o Irã não pode enriquecer urânio para fins armamentistas, Israel — aliado dos Estados Unidos — possui cerca de 100 ogivas nucleares. A Rússia detém mais ogivas do que os próprios Estados Unidos (mais de 5.500) e a China possui aproximadamente 500. França, Reino Unido, Índia, Paquistão e Coreia do Norte também possuem algumas centenas de armas nucleares, e não vemos os Estados Unidos cogitando atacar esses países por causa disso.


O intervencionismo global dos Estados Unidos, atualmente, é consequência da conjuntura geopolítica. A ausência de competição em várias áreas resulta em um verdadeiro monopólio de influência política e militar, imposto pelos EUA sobre boa parte do mundo.


Guardadas as devidas proporções, é possível estabelecer uma comparação historiográfica: no século XV, grande parte do mundo estava sob a influência de Portugal e Espanha — lembra do Tratado de Tordesilhas que dividia o mundo entre as duas potências? —, entre os séculos XIX e XX, o Império Britânico dominava nações em todos os continentes. Da mesma forma, um dia, esse modelo intervencionista dos Estados Unidos também ruirá. Pode levar 5, 50 ou até 500 anos, mas a história demonstra que mesmo grandes impérios ruíram em determinadas circunstâncias.


Sigamos atentos à geopolítica mundial e observando que os Estados Unidos se metem em tudo!


REFERÊNCIAS:


CNN. Além de Rússia e Estados Unidos: Saiba quais países têm armas nucleares. Internacional. 13 mar. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/alem-de-russia-e-estados-unidos-saiba-quais-paises-tem-armas-nucleares/. Acesso em: 23 jun. 2025.

 

R7. Saiba por que os Estados Unidos se envolvem em tantas guerras. Notícias R7. 07 jan. 2020. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/saiba-por-que-os-estados-unidos-se-envolvem-em-tantas-guerras-29062022/. Acesso em: 23 jun. 2025.

 

UOL. O que foi a marcha para o oeste nos Estados Unidos? Brasil Escola. 2025. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-marcha-para-oeste-nos-estados-unidos.htm. Acesso em: 23 jun. 2025.


Referência da imagem:

DREHER, Rod.  Rod Dreher: The Radical Right Is Coming for Your Sons. The FreePress. 06 jan. 2025. Disponível em: https://www.thefp.com/p/rod-dreher-the-woke-right-is-coming?utm_source=x&utm_medium=paid-social&utm_campaign=content&utm_adgroup=ret&utm_content=wokerightsons&utm_adid=1929615625691058630. Acesso em: 25 jun. 2025.

 

 

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