PRA QUE SERVE E PRA QUEM SERVE UMA MEGAOPERAÇÃO POLICIAL?
- Carlos Henrique Cardoso

- 31 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de nov.

A semana foi marcada por uma megaoperação da policia do Rio de Janeiro que resultou em 113 presos, 118 armas apreendidas, e 121 mortos. Um dia de caos e terror na capital fluminense, com tiroteios em vários pontos, gritaria, correria e muita confusão nas ruas. Já se analisou muito se a operação foi um sucesso ou não, porém, chama atenção uma pesquisa da Atlasintel que saiu nessa sexta 31: 87,6% dos moradores de comunidades cariocas apoiaram a ação comandada pelo governo do Rio! Isso aponta conformidade com o trabalho de combate ao tráfico por meio de repressão violenta, tal qual aconteceu. O resultado dá uma alavancada no discurso de que estamos numa guerra civil e que traficantes são narcoterroristas, como uma ala de políticos extremistas tentam endossar.
Boa parte da população realmente está cansada da insegurança pública e pede medidas imediatas. Daí, o ensejo de uma operação envolvendo mais de dois mil agentes de segurança, como vimos. Isso dá muito respaldo para o governante que opera ações opressoras desse tipo, do ponto de vista político. Isso demonstra que o governo da vez deve seguir a vontade popular?
A pesquisa mostra que o mandatário que coloca uma ação dessa em prática pode colher bons frutos eleitorais. E aí que mora o perigo: não há nenhum indicativo que incursões em favelas tal como vimos vai garantir paz e queda nos índices de assaltos e latrocínios. Os habitantes desses locais podem se sentir aliviados, mas continuarão inseguros. A questão real não é discutida: que os governantes usam o medo do povo para ampliar a narrativa e garantir sucesso sobre adversários. Foram assassinados diversos jovens - envolvidos ou não - que podem ser facilmente substituídos, pois não se sufoca nem a grana que sustenta o tráfico, nem a lavagem de dinheiro nos setores econômicos, e muito menos o armamento que sobe os morros. Se é preciso uma batalha sangrenta como essa para apreender fuzis é por que não se sabe de onde eles partem?
Segundo a policia civil, a maioria dos fuzis são de modelos fabricados na Europa e Estados Unidos e também utilizados pelas forças armadas de países como Argentina, Peru, e Venezuela. Muitos também são montados em fábricas clandestinas, após aquisições de peças avulsas. Existem ações integradas para combater a entrada dessas armas, mas com pouco sucesso. Daí, ter que invadir o local onde elas estão em maior quantidade e promover uma matança descontrolada. Até o momento, de 117 mortos, 78 tinham histórico criminal. Os outros, provavelmente estavam na hora errada e foram levados “pelo rodo”. Outra indagação: presumo que no imaginário popular alguém que tenha passagem pela polícia já mereceu seu destino durante a ofensiva, esteja portando arma ou não, seja por estelionato, porte de pouca quantidade de droga, pequenos furtos, não importa. Tem ficha em delegacia? Bala! E se o individuo tiver devendo pensão alimentícia?? Lugar dominado pelo tráfico tem disso, muitos imaginam que qualquer sujeito que cometeu ilícito está macomunado com os traficantes ou comete crimes de alta periculosidade. E reitero que todo esse descontrole balístico da operação mata “peças de reposição”, que no momento só faz gerar recrutamento de jovens perdidos entre tanto tiroteio.
E outro problema: se morrer uns inocentes, paciência! Faz parte. Ao que parece, vidas de quem não tem nada a ver podem ser perdidas, se necessário. É guerra! Mais uma questão, é a morte de policiais. Foram 4. De cada 30 mortos, um era policial. Seguindo a aritmética, se fossem 500 mortos, poderiam vir a óbito cerca de 18 agentes. Nesse caso, até a vida policial é descartável. A população que endossa esse trabalho, os qualificam como máquinas de matar. Depois do “bandido bom, é bandido morto”, talvez tenha o “policial morto, policial posto”.
Depois de uma operação “bem sucedida”, populares tiveram que catar corpos espalhados pela mata em plena madrugada e arrumá-los em uma praça pública. E aí me vem a pergunta: como deixar moradores dessa comunidade ao léo contando cadáveres e classificar isso como algo valoroso e digno de palmas? Mas a pesquisa taí e não deixa mentir. A população pede resolução drástica. Pelo andar da carruagem, só não sei se futuramente vai sobrar gente nessas comunidades para responder uma enquete como essa.
FONTE:
IMAGEM: Portal Porvir



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