QUEM PROTEGE A TERRA TAMBÉM PRECISA DE PROTEÇÃO: A injustiça climática contra as mulheres
- Jessika Alves
- 6 de mai.
- 2 min de leitura

Diversas pesquisas estão apontando a importância das mulheres na vanguarda das questões climáticas. No ano passado, uma pesquisa feita no Brasil com mais de mil pessoas de 320 cidades revelou que mulheres se preocupam muito mais com o consumo sustentável que os homens.
Um resultado parecido foi obtido com uma pesquisa realizada pela Universidade de Yale, onde se notou uma diferença consistente na preocupação com as questões climáticas, onde mulheres se revelaram mais preocupadas e atentas com as problemáticas resultantes da crise climática.
E essa preocupação não é fruto de uma sensibilidade aleatória — ela tem raízes em realidades duras. Segundo a ONU Mulheres, a emergência climática torna a população feminina ainda mais vulnerável. Quando os recursos naturais se esgotam e a comida escasseia, são elas — mulheres e meninas — que acabam expostas a práticas violentas, como o casamento forçado. As estatísticas são cruéis: mulheres têm 14 vezes mais chances de morrer em desastres climáticos. Ainda assim, seguem sendo responsáveis por mais da metade da produção global de alimentos. Produzem, alimentam, sustentam — mas têm acesso a menos de 10% das propriedades de terra. Entre os mais de um bilhão de seres humanos que vivem em situação de pobreza, 70% são mulheres. Nas zonas urbanas, 40% dos lares mais pobres são chefiados por elas.
No Brasil, essas desigualdades se aprofundam nos territórios mais esquecidos pelo poder público. São as mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas e agricultoras familiares que melhor compreendem o impacto da devastação ambiental — porque sentem na pele, nos roçados, nos filhos. Elas veem suas vidas sendo atravessadas pela seca, pelo desmatamento, pelas enchentes, pela perda da autonomia sobre a terra e o alimento. São elas que, mesmo diante do colapso, continuam resistindo.
É nesse cenário que ganha força o Ecofeminismo — uma vertente do movimento feminista que reconhece as conexões profundas entre a exploração da natureza e a opressão das mulheres. As ecofeministas afirmam que a lógica que destrói florestas é a mesma que violenta corpos femininos. Por isso, estudiosas desse campo nos apresentam uma outra forma de existência: uma realidade pautada na valorização da vida, no cuidado coletivo, no respeito ao meio ambiente e na cooperação entre os seres. Um movimento que caminha na contramão do modo capitalista de existência e da competição que nos separa e, portanto, nos enfraquece.
Vivendo em uma cidade com grandes problemas climáticos como Salvador, não consigo pautar nenhum futuro possível que não seja construído a partir do fortalecimento de comunidades de mulheres. São elas, com sua sabedoria ancestral, sua resistência cotidiana e sua visão de mundo mais ampla, que tecem alternativas. Que plantam esperança onde o sistema insiste em semear destruição. Por isso, diante da crise e da urgência, não resta dúvida: mulheres do mundo, uni-vos. Pela terra, pela vida, por todas nós.
FONTE:
FLORES, Bárbara Nascimento; TREVIZAN, Salvador Dal Pozzo. Ecofeminismo e comunidade sustentável. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 11-34, 2015.
ONU MULHERES. Relatório da ONU demanda ação global imediata para acabar com desigualdades de gênero. Disponível em: Onu Mulheres. Acesso em: 4 maio 2025.
IMAGEM: OPEU - Observatório Político dos Estados Unidos
Numa sociedade em que a desigualdade de gênero impera é imperativo discutirmos e repensarmos maneiras de reverter este quadro destacado na matéria.
Parabéns pelo excelente texto!