O embate foi bem polêmico no BBB 21 sobre as roupas usadas por Fiuk e despertou uma discussão bastante interessante. Você sabia que roupa, corte de cabelo, sapato e maquiagem não tem gênero?
Isso mesmo. O que entendemos por roupa ou cores, estilos e etc de homem ou de mulher é uma construção social, cultural, ou seja, foram padrões criados e impostos por grupos sociais. Afinal, lembremos que há um tempo atrás mulheres não podiam usar calças, muitas foram as manifestações para que nos permitissem mudar nossas “vestimentas”. Outro exemplo, na Escócia homens usam saias e não os torna menos homens por isso.
Se a roupa não tem nada a ver com gênero, masculino/feminino, o que elas têm a ver com nossa sexualidade?
Nada… de fato. Roupas não determinam por quem você sente atração sexual.
Um homem usar uma saia, calçar um sapato alto ou usar maquiagem, até ter cabelos longos, não o transforma em seu gênero, muito menos em sua sexualidade. Não há enrijecimento aqui. Ser gay ou hetero não está nas suas roupas, sapatos nem artefatos ou maquiagens.
Se esses adereços, artefatos decorativos que usamos em nosso corpo, não indicam, nem determinam sexualidade, nem gênero, por que existe tanto julgamento? Tanto incômodo e postura agressiva?
O que muito ocorre é que fomos adestrados socialmente a julgar e a formar padrões muitas vezes binários e opostos, forçando-nos e exigindo dos demais a encaixarem-se em modelos sociais. Quem disse que rosa é cor de mulher e azul de homem? Quem disse que saia é para mulher e calça para homens? Quem disse que cabelo curto é para homens e longos para mulheres? Por que um homem hetero assusta tanto quando usa vestido? Por que isso é motivo de piada?
Deixaria de se sentir mulher por colocar uma calça? Deixaria de ser uma mulher sis hetero se usar o cabelo raspado? Só pode uma coisa ou outra?
Esse modelo mental que permite apenas duas opções é tão assassino e perverso quanto qualquer outra opressão. Deveríamos ser livres para usar o que quisermos quando quisermos e fluir entre os universos, porque o ser humano é múltiplo e rico.
Que tal compreendermos o que é sexualidade, identidade de gênero e expressão de gênero?
Sexualidade tem a ver com tesão e atração sexual, ou seja, por quem ou pelo o que você se atrai sexualmente. Desejo, tesão e química. Isso te faz ser homossexual, heterossexual, bissexual, panssexual, assexual, sapiosexual etc.
Identidade de gênero é com que gênero você se identifica, em nível mental, de reconhecimento identitário. Você se identifica em nível corporal e mental com que gênero? Posso nascer com corpo de homem, mas ser mulher, ou seja, uma mulher trans. Posso nascer com o corpo de mulher e não me identificar com ele, nem com o órgão sexual com o qual nasci, e ser homem trans.
Expressão de gênero é algo muito mais amplo. É como eu desejo me expressar, hoje posso desejar me expressar de modo feminino, amanhã masculino… e isso é ser não-binário ou género fluido. Ou apenas me expressar de uma forma outra, outras, múltiplas! A expressão de género é separada e independente, tanto da orientação sexual, como da identidade de gênero, das características sexuais e do sexo atribuído ao nascer, ou seja, qualquer pessoa pode possuir qualquer expressão de género.
Expressão de género baseia-se em como alguém se expressa, veste ou apresenta através do tipicamente masculino ou feminino. Pode vir por meio de vestuário, acessórios, estilos de cabelo, formas de falar, linguagem corporal, e outros aspectos de escolha na aparência. A classificação dada à expressão de gênero poderá mudar mediante o contexto histórico ou cultural. Estas classificações possuem como base os estereótipos e papéis de gênero.
Algumas pessoas possuem a mesma forma de expressão de gênero durante a vida toda, enquanto outras podem mudar e alterar ao longo do tempo ou com base nas circunstâncias. Posso acordar hoje com uma expressão, amanhã mudar, ou permanecer a vida inteira com ela.
Estamos cansados de ouvir… aff!! complica… eita! quanta baboseira… não acompanho as novidades…. Isso é muito complicado.
Mas lembremos… estamos aqui para aprender e não cabe mais mentes preguiçosas. Afinal o preconceito vem da preguiça de conhecer conceitos e criar prés.
Para nós brasileiros que fomos criados de maneira tão machista e heteronormativa, religiosa e tradicional, é mesmo uma luta aceitar que as ideias que temos são construções e que é importante estar sempre em reconstrução. Assim como a vida flui, o social evolui e é preciso mudar e elaborar mutações dos padrões de pensamento.
Eu sou uma mulher sis, bissexual, de identidade de gênero feminino com expressão de género fluido e não-binário.
Eu amo o meu corpo, me identifico totalmente com ele, não mudaria meu sexo, meus hormônios, eu me identifico com o gênero feminino, sou mulher. Eu me atraio sexualmente, tenho tesão e química por mulheres e homens, com cheiro, mente, corpo, alma, na sua totalidade, não apenas no órgão. Sou bissexual. Gosto do meu cabelo curto, raspado, trançado, longo, cacheado e liso. Gosto de salto alto as vezes, mas na maioria prefiro tênis. Não gosto de maquiagem… Mas às vezes me maquio e fico feliz assim. Tem dias que acordo e me visto com roupas que a sociedade instituiu ser masculinas, e sou feliz assim, e tem dias que acordo e me visto com roupas femininas, curto isso também.
Minhas roupas, meu cabelo, meu sapato, meus artefatos… não me tornam um ser de outro gênero muito menos de orientação sexual definida.
Nossas mentes definidas demais precisam encontrar o lugar de diálogo. Porque somos diferentes uns dos outros, somos múltiplos, temos desejos e sonhos particulares e mutáveis. Somos seres extremamente únicos e com experiências individuais, mas profundamente mais complexas e ricas do que imaginamos.
Precisamos parar de forçar caixas que alguns criam como forma de opressão e que já não nos cabe mais.
Homens héteros femininos sim. Mulheres heteros masculinas sim. Homens gays masculinos sim. Homens gays femininos sim. Homens e mulheres feminino(a)s e masculino(a)s, sim. Afinal… temos todos os arquétipos Yin e Yang, e está na hora de vermos a realidade com a complexidade que ela tem e não simplificar com o nosso olhar tão adaptado e adestrado pelo social opressor.
Liberte-se! Descubra quem é você, ame-se e permita ser você na sua profundidade, completude e expresse-se como desejar, seguindo o fluxo dessas mudanças, pois o que incomoda no outro está dentro de cada um. Entenda, você nunca toca no outro, mas ele é imprescindível para que seu inconsciente dialogue com o seu consciente e você se conheça melhor.
Antes de se irritar, julgar ou rir de alguém, da sua sexualidade, identidade de gênero ou expressão de gênero, reflita, pense e se auto analise. Não cabe mais risos que oprimam, desqualificam, nem tornem o outro palhaço.
Link da imagem: https://www.uai.com.br/app/noticia/mexerico/2020/12/31/noticias-mexerico,266578/fiuk-surge-de-vestido-diferenca-nao-e-defeito.shtml
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