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SALVADOR E A INSEGURANÇA PÚBLICA DE TODO DIA

Atualizado: 16 de ago.


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“Tanta violência na cidade

Brother é tanta criminalidade

As pessoas se trancam em suas casas

Pois não há segurança nas vias públicas

[...] A lua não é mais dos namorados

Os velhos já não curtem mais as praças

E quem se aventura pode ser a última

E quem se habilita pode ser o fim”

 

Edson Gomes, Criminalidade



Essa canção acima é de 1991, ou seja, foi composta há mais de três décadas. Salvador já era problemática, porém, em contexto de época, era um oásis em relação aos dias de hoje. Pode-se avaliar que Salvador nunca foi uma cidade pacífica, pacífica, não. Mas essa semana de agosto de 2025... vou te contar, viu!

 

No último domingo, um tiroteio assustou motoristas que passavam pela região do antigo Centro de Convenções, nada inédito em nossas vias, mas eu ouvi os tiros do meu quarto, uma coisa que, se não é tão rara assim, é também um tanto incomum na intensidade que ouvi. Foram muitos, muitos tiros! Um suspeito teria sido morto em um matagal próximo. No dia seguinte, a vergonha global: tiros pararam uma partida do mundial sub-20 de Polo Aquático feminino, que está sendo realizado na piscina pública da Pituba. Um policial perseguia um ladrão e resolveu disparar para o alto. As jogadoras, assustadas, pararam imediatamente a partida e deitaram nas bordas da piscina. Saiu em jornais do México e da Europa todo esse pânico. Em outras situações, até um repórter da TV Bahia foi ameaçado ao vivo e uma jornalista da mesma emissora, muito presente nas redes sociais, postou um vídeo relatando que tinha sido assaltada, também na Pituba.

 

E foi a semana toda esse bereguedê pela cidade. Perseguições, assassinatos, mortes em vários bairros. Mês passado - conhecido como julho - foram registrados 133 tiroteios, com 101 mortos e 30 feridos, em Salvador e Região Metropolitana. Vídeos pipocaram nas redes sociais com analistas e “analistas” falando que a situação “passou dos limites”, afirmação que une especialistas em segurança e outros especialistas de WhatsApp. A culpa é do governo? “do PT”? é um problema local? Nacional?

 

Não há dúvidas que as ultimas administrações estaduais deixaram a desejar em termos de planejamento da segurança e o monstro só foi crescendo. Já alguns anos a Bahia figura sempre nas lideranças do ranking do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, constando com 5 das 10 cidades mais violentas do país. Então, não pode passar batido que o governo do Estado, responsável por essa política, tem feito uma péssima gestão nesse quesito. O governador tem feito trocas no comando da policia e entregou dezenas de viaturas novas, mas é suficiente?

 

Fundada em 1549, Salvador recebeu uma grande quantidade de pessoas escravizadas, que culminou num abismo sócio-racial severo, gerando racismo religioso, institucional, e cultural. Ao longo da história da cidade, revoltas foram desbaratadas, terreiros de candomblé invadidos e depredados, capoeiristas presos apenas por vagar pela rua. Por essa trajetória repleta de desigualdade, nossa cidade - junto a São Paulo - apresenta o maior desequilíbrio racial do país, segundo o Índice Folha de Equilíbrio Racial, desenvolvido pelo Insper e Folha de São Paulo. Isso dificulta uma planificação mais acentuada, até porque nossa policia também é a que mais mata no Brasil. Levando em conta a cor da pele de maioria de nossa população, já vislumbramos aqui uma situação muito, muito séria, em termos de uma equidade social que aponte melhoria de uma conduta civilizacional mais adequada. Recentemente, uma reportagem do Correio da Bahia mostrou o esvaziamento do bairro do Rio Vermelho, conhecido por sua boemia, diante do crescimento da insegurança e do aumento de preços, o que estaria elitizando o local, e distanciando a diversidade que ocupava as ruas desse logradouro. Quanto mais apartheids sociais, mais atritos classistas, o que evidencia toda a tragédia social que inclina a cidade para indices alarmantes em quase todas as searas. Desde que me entendo como gente, Salvador é a eterna capital do desemprego! Olha quanto “título” nós temos!!

 

Sem falar de outro grande problemaço: o domínio das facções criminosas, ocupando, se alastrando e controlando cada vez mais territórios em toda a Bahia. E aí, outro grande dilema. As facções com maior poder de dominação são “importadas”, ou seja, não surgiram aqui. Pela força do capital que elas obtém, acabam cooptando organizações menores, enquanto as que não sucumbem, entram em guerra, gerando confrontos espalhados por tudo que é lugar. E a Bahia, estado gigante, com diversos biomas e ecossistemas, com enorme potencial turístico (cultural, religioso, esportivo, histórico, artístico, etc.) fica totalmente vulnerável ao avanço desse crime organizado. Levando em conta que somos o Estado da parte setentrional do Brasil mais próximo do “Sul maravilha”, visado por toda nossa natureza e diversidade cultural, ficamos a mercê de todo tipo de maledicência.

 

Complicada todo o dilema por que passa nossa querida cidade e nosso estado. Não é de hoje que ouço diversos amigos e conhecidos contando os dias para cair fora daqui. Segundo o Censo 2022, Lauro de Freitas e Camaçari cresceram em população, enquanto Salvador vem reduzindo o número de habitantes. Há quinze anos, éramos a terceira maior do país, hoje ocupamos a quinta posição. Isso atesta a fuga de moradores, partindo em alta do inferno astral que incendeia nossa cidade de medo. Edson Gomes - autor de “Criminalidade”  - no final dessa música diz que “tudo um dia vai passar, sei que tudo um dia vai mudar”. Tá longe, grande mestre, tá longe!


FONTE:

 

 

 

 

 

 

IMAGEM: Portal Se Ligue Bahia


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