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Foto do escritorKarla Fontoura

Ser mãe é bom ou ruim? Derrubando o mito materno da experiência única





Muitas mulheres que cogitam ser mães querem saber de mim se a maternidade é algo bom ou ruim. Sim, não e talvez para a pergunta. Mas uma coisa é certa: ser mãe sempre será injusto!


Quando qualquer pessoa me questiona se a experiência materna é boa ou não, é compreensível que essa pergunta se manifeste. Na medida em que falamos mais sobre a maternidade real, as mulheres têm tido maior acesso às falácias da romantização materna e uma delas se refere à própria ideia de ter dúvidas se ser mãe é algo ruim ou bom. Fazer tal questionamento preconiza uma das regras mitológicas da maternidade que estamos debatendo nos círculos feministas.


Para esclarecer melhor, se você pergunta se determinada relação afetiva da vida humana tem uma qualidade positiva ou negativa, isso significa que, de algum forma, existe a pré-concepção de estabilidade de sensação para aquele relacionamento. Ou seja, se alguém diz que a maternidade é boa, pode-se cogitar que, apesar das dores, a mãe viverá uma boa experiência. Se for o contrário, prevalecem as consequências sempre ruins e difíceis. Nenhuma das respostas são válidas. Sabe por quê? Porque a maternidade é a experiência em si.


Qual a sua observação sobre suas experiências de vida? Todas boas? Todas ruins? E quando são voltadas às relações do seu cotidiano, o que diria? Ser filho, ser amigo, ser irmão. Por que ninguém pergunta se essas e outras dinâmicas relacionais são boas ou ruins? Acho que devido a ideia de que elas são relativas a cada pessoa, situação, época e muitas outras variáveis. Pois, acredite, a maternidade entra no mesmo pacote, com as mesmas e mais enroscadas nuances, de muitas cores e, por isso, nada, nem ninguém pode resumir a vivência em ser mãe como boa ou ruim.


Mas, claro, vamos também desvelar a segunda intenção por trás dessa pergunta. Se vem especialmente de uma mulher, ela tem o ímpeto de ajudá-la a saber o que esperar dessa experiência e, a depender da resposta, cogitar vivê-la ou não. Essa sujeita provavelmente tem sido provocada desde pequena a desejar a maternidade, até que a maturidade chega e as perguntas sobre ser mãe viram pedidos diretos e cheios de julgamento. Com isso, ela provavelmente entende que agora precisa saber do que se trata essa experiência diretamente com quem vive o processo .


Faz todo sentido esse movimento de investigação e fiz esse texto na intenção de trazer esclarecimento, por isso volto ao início da minha abordagem para avisar que ser mãe não é bom ou ruim, é simplesmente e inevitavelmente injusto. A depender de sua realidade, circunstâncias e estrutura emocional, talvez você viva uma maternidade incrível, cheia de aprendizados e novos prazeres. Ou nada disso seja experimentado, e a dor física e mental seja a sensação que mais sobressaia, te levando até um lugar de arrependimento legítimo. Porém, em ambas as situações, sem dúvida alguma, haverá injustiça, em vários níveis e intensidades.


E como posso ter tanta certeza disso? Bom, reuni aqui uma série de fatos sobre a condição da mulher ao adentrar na maternidade. Cada pessoa pode experimentar essas marcas de injustiça de diferentes maneiras, mas tenho total certeza que será inevitável passar por elas em algum nível. Veja:


- Possibilidade de sofrer violência obstétrica, da consulta ao parto, ou na amamentação.

- Falta de creches públicas de qualidade e outras formas de rede de apoio.

- Embates na tentativa de volta ao trabalho: limitação da licença materna, perigo de perder o emprego, diminuir o salário, não ser contratada por ser mãe, etc

- Carga mental e acúmulo de tarefas no cuidado do filho e da casa.

- Pressão estética, ao exigir que seu corpo/humor/aparência volte a ser como antes.


Por isso, para quem cogita ser mãe, as injustiças mencionadas, e outras mais, estarão sempre presentes, e o motivo para tal é que nossa sociedade foi estruturada por e para homens padrão (cis, brancos, heteros, sem deficiências, etc). Tudo gira em torno deles e como funcionam, inclusive, eles são a principal referência em pesquisas científicas sérias sobre doenças e outros problemas de saúde, fazendo com que haja uma grande deficiência nos tratamentos médicos em mulheres, por não haver pesquisas sobre seus efeitos nos corpos femininos.


Isso significa que minha maternidade seria inevitavelmente ruim, afinal, quem pode esperar uma boa experiência com tantas injustiças? Não exatamente. Cada um tem sua percepção sobre o que lhe faz bem ou mal e, na relação com seu filho/a, de acordo com suas circunstâncias e momento de vida, logo você pode descobrir que, na maior parte de tempo, você ama ser mãe, ama passar tempo com seu filhote, observar suas fases de crescimento, receber seu carinho e amor. Mas, entrelaçado a toda beleza dessa relação, você estará dentro de um campo de embate com todas aquelas injustiças que comentei.


Assim, o que aconselho como arma para enfrentar esse inevitável cenário é, primeiro de tudo, admitir que isso será inevitável e que você não terá total controle a respeito. Em segundo lugar, é saber que esse sofrimento possui um caráter coletivo e (ainda bem!) que existem espaços para dividir essas dores e receber apoio. Finalmente, é importante ler, se informar, na medida do possível, sobre a situação e os mecanismos de proteção que você pode utilizar em benefício da sua maternidade.


Felizmente, muitas mulheres já têm visto essas dinâmicas opressoras sobre o lugar materno e criaram mobilizações inteligentes e perspicazes com grupos, projetos e até apoios diretos, de assistência psicológica a ajuda financeira. Busque esses espaços, aprenda com elas e, quando a maternidade chegar, tenho certeza que você estará inspirada para contribuir com seus talentos, tornando-se mais um chama acesa na luta que pavimenta o caminho onde a justiça chegará a maternidade




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