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OS “SINTOMAS” DO AMOR

Foto do escritor: Equipe SoteroprosaEquipe Soteroprosa

OS “SINTOMAS” DO AMOR

Caro leitor, essa semana os convido a refletir aspectos patológicos sobre o amor. Esta não quer ser uma conclusão negativa sobre o amor, mas um convite à reflexão de algo que, quando deixa de ser protetivo, torna-se agressivo.

Segundo Gérard Lutte, uma reflexão sobre o amor não pode deixar de ser uma meditação sobre o sentido da existência humana, caracterizada pela insatisfação, pela nostalgia, pelo senso de solidão, pelo desejo de completude e de perfeição, pelos sofrimentos psíquicos, que são “reclamação da alma”.


A existência humana é movida pela busca, pelo desvelamento e conhecimento do mundo. Essa necessidade nos leva a descobertas incessantes. O Outro que chega ao nosso encontro tem um mundo a nos relevar. Somos conduzidos na teia de descobertas que o outo nos apresenta. Isso é importante para o processo de comunicação, interação e manutenção das relações humanas, pois isentos da necessidade de busca congelamos em nós mesmos o potencial criativo inerente a pulsão evolutiva da nossa espécie. O perigo está quando deixo de desvelar o mundo e o conheço apenas a partir da perspectiva da pessoa amada, polarizando no “outro” o que em “nós” deveria ser integrado.


Outro aspecto patologizante do amor é seu caráter absoluto, quando a pretensão de eternidade e de perfeição dor amor se fundem com a imagem da pessoa amada, sendo esta responsável pela satisfação infinita do seu desejo. Nos deparamos aqui com uma visão alterada da realidade, uma vez que, como seres incompletos, não podemos oferecer completude ao outro daquilo que nos falta. Nesse sentido, para amar verdadeiramente alguém é preciso antes de tudo amar a si mesmo, e não colocar a responsabilidade da “falta de si” na pessoa amada, pois quando isso acontece, surge outro sintoma do amor: a supervalorização do outro em detrimento de si próprio.


É nesses horizontes, delimitado e infinito ao mesmo tempo, que tomam vida e agem nossos fantasmas interiores. Surgem então conteúdos desconhecidos, alguns deles de caráter integrativo, outros destrutivos.


A experiência amora nos permite entrar em contato com diferentes dimensões psíquicas de nós mesmos. Entretanto, lidar com nossas projeções espelhadas no outro não é algo confortável. É preciso, para isso, autoconhecimento para lidar com o melhor e o pior que existe em nós. “Conhece-te a ti mesmo” é uma expressão do Filósofo Sócrates e atual na Contemporaneidade. Estamos aquém de saber quem somos. Porém, a jornada não se encerra na incompletude no não saber, mas no percurso e devir da descoberta.


Para falar sobre um dos múltiplos aspectos destrutivos do “amor”, cito um tema complexo, antigo e atual ao mesmo tempo: a violação de direitos da mulher (violência física, psicológica, agressões). Embora completamos agora em 2017 onze anos da Lei Maria da Penha, ainda assim os programas especializados em assistência às mulheres, vítimas de violação dos seus direitos, são insuficientes. As demandas parecem crescer em progressão geométrica em prol de uma assistência em crescimento aritmético. Somos a maioria em um universo simbólico predominantemente patriarcal. Infelizmente isso atua como indicador desfavorável de eficácia das políticas de combate à violência contra a mulher. Esse binômio amor-morte percorre os nossos dias de forma tão assustadora.

Segundo Carotenuto, onde está presente um sentimento, toma vida e consistência também o seu contrário. Se não integro em mim o meu melhor e ou meu pior, meu aspecto Luz e Sombra, deixo emergir externamente a partir de projeções. Daí o perigo do jogo do amor quando o autoconhecimento é desmembrado ou transmutado para outro horizonte que não o si mesmo.


A natureza do amor tem varias facetas, muitas vezes pertencentes a esfera do indizível. Como amar e fazer sofrer simultaneamente? Temos vistos constatemente nos noticiários crimes passionais cometidos em nome do "amor". Tal representatividade traduz a complexidade de análise e compreensão dessa forma de expressar afeto. Penso que antes de amar alguém é necessário amar a si mesmo. Talvez a falta da experiência do amor próprio revele o desequilíbrio projetado e "conjugado" externamente.


Precisamos aprender a amar, precisamos falar mais sobre amor. As pessoas estão adormecidas em fantasias irrealísticas.


O amor se manifesta no mundo, mas não pertence ao mundo. Somos por ele conduzidos em um processo numinoso de conexão com o Sagrado. Antes de ser “dois”, é preciso ser Uno. Só a partir da integração Ego-Self, Si-mesmo, podemos alcançar o sagrado que existe em nós e na pessoa amada.


Por fim, deixo um poema de Celeste Carneiro sobre polaridades, que remete metaforicamente a necessidade de integração e aceitação realistica do outro.


Claro – Escuro


Você me viu e se deteve

No meu lado claro,

Embevecido com a semente de luz

Que o Criador semeou

No meu terreno intimo.


Depois você notou meu lado escuro,

E assustado, se retraiu temeroso,

Esquecido de que o tempo

Tudo modifica

E a luz vence as trevas...


Amigo,

Por enquanto somos todos

Claro-escuro,

Luz e trevas,

Contrastes e paradoxos

Que compõem

A pintura do Genial Pintor.


Um dia,

Quando você de mim se aproximar,

Encontrará luminescente

Árvore frondosa,

Florida e cheia de frutos,

Para o acolher sem receios,

Porque a Eternidade nos aguarda

Para vestir em nós a luz infinita

Que emana de Deus.







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