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O antigo e o novo em Aquarius




Vencedor de diversos prêmios, no Brasil e no exterior, com destaque no Festival de Cannes, o filme Aquarius esteve envolvido em diversas polêmicas. Uma delas foi não ter sido escolhido para representar o país no Oscar, apesar da boa recepção da crítica internacional. Lançado em 2016, ele sugere análises sob variados aspectos.


Aquarius remete, em especial, à memória afetiva. E é pela manutenção dessa memória que a personagem principal, Clara (vivida por Sônia Braga), vai entrar em confronto com uma construtora. Aquarius é o nome do prédio onde Clara, jornalista aposentada e escritora, criou os filhos, venceu um câncer de mama e vive desde os anos 80. Na atualidade, o edifício - localizado na Avenida Boa Viagem, no Recife - contrasta com os prédios vizinhos.


O edifício de três andares resistiu à passagem do tempo, enquanto arranha-céus foram erguidos ao seu redor. Porém, a localização privilegiada do Aquarius, em frente ao mar e em área nobre da capital pernambucana, desperta a atenção da construtora Bonfim. A partir daí, Clara passa a ser perseguida pela empresa - simbolizada no filme pelo jovem Diego (Humberto Carrão).


Há, portanto, um embate entre o antigo e o novo. De um lado, um prédio construído nos anos 1940 e uma viúva de 65 anos, mãe de três adultos. Do outro lado, o projeto de construção de um prédio "moderno" e um jovem ambicioso. Em alguns momentos do filme, Diego ressalta que estudou no exterior e esse é o primeiro projeto dele à frente da construtora; por isso, afirma que não vai medir esforços para realizá-lo. Já Clara é a última moradora do prédio e a única que não pretende vender o apartamento.


O edifício onde o filme foi gravado, que se chama Oceania na vida real, passou por um processo similar. Em 2003, uma construtora comprou alguns apartamentos e pressionou os outros moradores a vender os demais. A dentista Aronita Rosemblatt, assim como Clara, resistiu à pressão da construtora e iniciou o processo de tombamento do prédio.


O filme dirigido por Kleber Mendonça Filho realiza a todo momento esse diálogo entre o antigo e novo. Além da especulação imobiliária, outro tema discutido é o espaço ocupado pela música. Em uma das cenas, ao ser entrevistada por uma repórter, Clara – que atuou como crítica musical, tendo publicado, inclusive, um livro sobre Villa-Lobos – diz que gosta de discos, mas também aprova as novas plataformas de música, como o MP3 e o streaming.


Para a protagonista, o antigo e o moderno podem conviver em harmonia. No entanto, não é nisso que a construtora acredita. Ansioso para acabar com aquilo que ele considera antigo e ultrapassado, Diego age de forma gananciosa e arrogante. Em oposição, Clara reúne qualidades de artista, lutadora, independente e intelectual, se comportando de forma mais tolerante e refinada.


Como uma heroína da contemporaneidade, Clara luta contra os assédios da construtora. O preço acima da média oferecido pelo apartamento, a pressão dos filhos, o incômodo da festa no andar superior, a ameaça dos antigos vizinhos e a invasão de evangélicos são tentativas de convencê-la a mudar da ideia.


Uma frase dita pela protagonista representa essa dicotomia que perpassa o filme: “quando você gosta, é vintage, quando você não gosta, é velho”. Clara é dona de cinco apartamentos e não tem problemas financeiros. É idosa, mas não frágil. É viúva, mas gosta de sair com amigas e tem relações sexuais. Neste sentido, Aquarius representa a resistência. O foco da narrativa não é a vitória ou a derrota e, sim, o direito de resistir.


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Autora: Luana Marinho. Jornalista, especialista em comunicação estratégica e graduanda em letras vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).

E-mail: luana_marinho_nogueira@hotmail.com

Fonte::

O trailer de Aquarius pode ser conferido neste link: bit.ly/28ZINVR

Imagem: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-239210/criticas-adorocinema/

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