Está no ar mais uma edição do Big Brother Brasil. E daí? Você deve estar pensando que não tem nada com isso, e está com a razão. Mas é que o mesmo tempo em que muitos estão evacuando e andando para a atração, outros fazem questão de manifestar repudio, ódio, e morte ao programa. Cada um faz o que quer, porém, não seria melhor exercitarmos nossa dica cultural e apontarmos saídas para o horário em que o BBB passa na TV? Pode ser. No entanto, gostaria de falar mais um pouco sobre essa competição televisiva.
O BBB se resume a um grupo de pessoas que nunca se viram, confinados em uma casa, aprendendo a conviver, conversando sobre o que acontece lá dentro, quem é amigo ou falso, falando amenidades e baboseiras muitas das vezes. Considerando um jogo, os participantes conspiram e formam alianças para se protegerem e não serem eliminados. Por essas linhas, é um festival de futilidades que não acrescenta nada à vida de ninguém que assiste. Mas não é um programa de todo inútil.
Conversei anos atrás com alunos de psicologia que afirmaram comtemplar o programa, pois era interessante para algumas análises do comportamento humano, ou seja, um tipo de exercício. Não apenas para estudantes dessa área, mas qualquer curioso sobre os aspectos das relações sociais. Inicialmente, o programa foi visto por muitos como um meio de ascensão econômica. Alguns vitoriosos ou finalistas eram pessoas pobres que viam a possibilidade de conquistar o prêmio (lembro de dois casos) colocando em primeira mão para quem escolhia o vencedor, uma compaixão ou empatia. Me recordo que um dos vencedores – o atual deputado Jean Wyllys – falou numa entrevista que sua participação provinha de um interesse acadêmico. Na edição 2018, há uma doutora em Ciência Política, professora da UFMG. Participantes e telespectadores veem o programa de maneira diversa. A apreciação torna-se subjetiva.
Durante esses anos, li e ouvi muitas criticas ao programa, a maioria galhofas. “Quem assiste o Big Brother tem menos miolo que um pão”, “economize energia na hora do BBB”, etc. Algumas reclamações , porém, pedem a extinção do programa e cobram algo mais “cultural” e educativo no lugar, que o programa seria típico de um país intelectualmente atrasado.
Pois bem: a ideia do Big Brother não nasceu aqui, nem no Haiti, Bangladesh, ou Serra Leoa. Surgiu na Holanda, exatamente no mesmo padrão de vigilância 24 horas. No ano seguinte, emissoras da Alemanha, Inglaterra, Suécia, Bélgica, entre outros, realizaram suas versões da atração (como podemos ver, países esses subdesenvolvidos, com escolaridade precária, e índices de desenvolvimento humano sofríveis, não é mesmo?). Com boas audiências e vencedores virando celebridades, outros vinte e tantos países aproveitaram a fórmula e reproduziram o fenômeno.
E aí cabe a pergunta: como cidadãos de nações tão civilizadas se prestam ao serviço de apreciar tão nociva programação? Talvez por discernimento. Um holandês pode chegar do teatro onde assistiu “Rei Lear” e dar uma zapeada na TV até parar no Big Brother e dar uma conferida. Um belga assiste ao programa e antes de dormir lê “Os Irmãos Karamazov” pra desopilar o cérebro. Qual o problema? Uma boa literatura ou um espetáculo monumental não influem no consumo de um entretenimento “vulgar”. Existe alguma cartilha para alguém se por no seu lugar por status cultural ou filosófico? Parece que temos uma instrução conveniente em acreditar que os neurônios derretem quando estamos diante da tela assistindo aqueles malucos se digladiando, e assim perdemos nossa capacidade mental em ler um romance, compreender um filme “cabeça”, ou interpretar um texto jornalístico tendencioso.
Até parece que temos a tradição de assistirmos programas de cunho cultural, elucidativo e educativo! O início da TV no Brasil apresentou uma miríade de programas, mas os que se consolidaram foram as novelas e programas de auditório – sem falar nas transmissões dos campeonatos de futebol. Ou seja, a preferência pelo entretenimento sempre foi marcante e nossa maior fonte de atenção. Sendo assim, como mudar essa tendência de uma hora pra outra se temos o vício de detratar um programa ao invés de indicar uma boa alternativa ao que se difama? Nem quem cobra maior qualidade na TV assiste o que está sendo cobrado!!!
Existem bons programas que podem estar passando no mesmo horário do BBB – ainda mais agora com a TV digital abrindo possibilidades de acesso aos canais públicos. E o Youtube? Como quase todo mundo tem celular, pode-se recomendar – via redes sociais – um documentário, uma entrevista, um seriado, um debate sobre assuntos da pauta nacional! Coloque no tabuleiro algo que seja do seu agrado para repartir seus gostos. Falar mal de algo pode ser até um prazer, mas só se goza mesmo com o que lhe faz bem, não é?
Temos uma mania de achar que tudo o que ouvimos, assistimos, ou lemos tem que ter uma finalidade e ser sempre útil o tempo inteiro. Se você se encontrar com alguém legal, tem que firmar namoro. Toda canção precisa passar uma “mensagem”. Toda leitura deve surtir uma reflexão existencial. Resumindo: não curta um sarro eventual, não dance nada obsceno em um churrasco na laje num domingo de sol, nem leia qualquer abobrinha. Mesmo assim, peço que a gente se descontraia um pouco, senão a gente pira! Não esqueçamos que alguém que trabalha como um animal durante seis dias na semana, anda de ônibus lotado, pega longos congestionamentos no trânsito, tem problemas de convivência, apenas quer chegar em casa, ligar a TV e ver algo leve e que o livre de pressões.
Se chegou até aqui, percebeu que não defendi o programa – assim como defender um julgamento correto não signifique defender o réu. Teci comentários sobre comportamentos viciados em atacar algo sem levantar soluções. Se você pudesse me dizer até onde vai a sua fé em detratar algo, o que você faria? Onde iria chegar?
FONTES:
http://bbb.globo.com/BBB7/Internas/0,,BUN0-7532,00.html
http://www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.htm