Faça como o gato, repreenda seu amigo machista.
Carol Vidal*
“Tá de bobeira, amor
Então começa a respeitar
Nosso quintal
Desvendei tua fita
E hoje
O teu discurso tá pegando mal”
(Te falo amanhã - Maria Gadú)
Não, não pode passar pano para machista. Que bom que você está desconstruindo a masculinidade tóxica na qual foi criado. É importante mesmo acessar seus sentimentos. Você nunca soube identificar o que se passava dentro de você, não é mesmo? Esse passo é essencial. Mas você não pode aceitar que seu amigo tenha atitudes de desrespeito porque ele ainda não chegou no seu nível de desconstrução.
Não é você que vai sofrer as consequências. Então, não. Não pode.
É claro que a desconstrução não vem de uma hora para outra, mas não dá para alegar falta de informação. Tratar mulher que nem lixo não é aceitável em nenhuma circunstância. Arrume desculpa melhor que essa, meu amigo.
Que bom que você já consegue chorar sem receios e está investindo em uma educação diferente para seus filhos. Mas não adianta nada se você passar a mão na cabeça do seu amigo e não o repreender quando soltar piadinha de mau gosto. Sua desconstrução precisa sair de você e chegar a quem está ao seu lado.
A vida não é capítulo final de novela em que o embuste abusador encontra a redenção se relacionando com uma vítima de violência sem nunca responder por seus crimes. No alto dos seus privilégios, não se coloque na posição de vítima, de incompreendido. Você não é um pobre coitado. Analise suas atitudes, assuma seus erros.
E, agora, preste muita atenção. Você quer apoiar o feminismo? Comece não tentando ensinar as mulheres “como se faz” nem, muito menos, falar de assuntos dos quais não entende e não tem a menor vivência. Desça do palco, querido. O mundo não gira em torno de você. A melhor forma de mostrar que entendeu é não querer ser o centro quando o assunto não lhe diz respeito. Aprenda a ocupar a posição de coadjuvante. Não é vergonha nenhuma.
Antes de achar que pode vir ditando suas regras, ocupe seu precioso tempo olhando para si e para quem o cerca. Pare de passar pano para machista e sua contribuição será muito mais eficiente.
* Carol Vidal nasceu no Rio de Janeiro, mas mora em Salvador desde 2012. É formada em jornalismo, mas seu coração bate mesmo é pela Literatura. Gosta de filosofar sobre escrita e sobre a vida e atualmente está escrevendo seu primeiro romance.