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Os males da modernidade e o Brasil

Foto do escritor: Alan RangelAlan Rangel


Charles Taylor, filósofo canadense, aponta que existem três grandes mal-estares na modernidade: o individualismo, a primazia da razão instrumental e a perda da liberdade. [1] Todos estão entrelaçados. Será que podemos aplicar esses males ao Brasil? É o desafio do ensaio de hoje.


O individualismo trouxe como consequência o definhamento dos horizontes religiosos e tradicionais, referências últimas à vida social. O homem moderno desprendeu-se da cadeia cósmica: reivindicou seu posto de superioridade ao organizar o mundo; criou leis novas, atravessou o mar, as fronteiras e questionou as escrituras. A meta é o progresso sem Deus; projeta-se a riqueza sem o peso da punição divina, afinal, acumular não é pecado. Que progresso é esse? Tecnocracia, comunismo, anarquismo, liberalismo ou outros ismos.


Cada um reivindica um telos, com suas nobres teorias, mas na realidade cotidiana, na vida comum, a grande sequela do individualismo torto é o centrar-se em si mesmo. Que importa veicular fake news, por exemplo, em campanhas políticas, se não existe preocupação com algum tipo de ordem moral superior? Ou ainda, é mais apropriado adiar uma reforma em Brumadinho, um CT esportivo, um Museu, em favor de interesses egoístas. Nefastos efeitos!


A apologia da razão instrumental. Ela foi fruto do desencantamento do mundo, a saber, a perda da influência espiritual nos rumos da sociedade. É o império da razão centrada na previsibilidade, no custo-benefício, portanto, no cálculo. Esse racionalismo a fins tem afetado todas as áreas, desde o Estado, mercado, ciência e tecnologia. A eficiência tornou-se o alvo principal, atrofiando os sentimentos, afetos e espontaneidade. Dizem: “é melhor a morte de uma pessoa inocente, desconhecida, num bairro pobre e violento, do que potencialmente a morte de um maior quantitativo”. “Para que manter grandes demarcações de terras em nome de alguns poucos ‘selvagens’? “Afinal, o futuro da população, o progresso, a civilização, depende dos grandes investimentos econômicos”. Eis as relações de custo-benefício!


A falta de liberdade. Aqui, sobretudo, é no aspecto político. Taylor aponta que o desenvolvimento do capitalismo possibilitou a primazia na satisfação de desejos privados. A terceirização da função de cidadão atuante em favor do político moderno. Por exemplo: “tenho fé que meu presidente vai salvar o país das mazelas que nos afetam”. Leitores, o que foi prometido pós regimes autoritários? Cidadãos ativos e participativos na política. Mas tal pretensão tornou-se bastante complicada, vide os exemplos nas atuais democracias. Em nosso país, o grosso da sociedade é despolitizada (déficit de conscientização e cultura política), não sabe sobre Direitos Humanos, valores republicanos, quem votou na eleição passada. É um povo sem memória sobre a história de seu país, e alheia as conquistas sociais e políticas, muitas delas a ferro e fogo.


Até a próxima!


[1] TAYLOR, Charles. A ética da autenticidade. São Paulo: É Realizações, 2011.


Kink da imagem: http://domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=3590


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