Por Armando Januário dos Santos [1]
“Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força.” Com essa frase atemporal, Darcy Ribeiro (1922-1997), em O Povo Brasileiro (1995), analisa a construção do processo histórico brasileiro, a partir do uso da violência como instrumento político de segmentos da elite brasileira, seja esta política, bancária, midiática, financeira ou judiciária. Essa violência, utilizada em todos os momentos que chefes do Executivo tentaram implementar políticas públicas para benefício das camadas populares, tem ganhado uma sofisticação cada vez mais sutil. Em cada golpe de Estado, a face de setores da elite fica mais perceptível. Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, e, mais recentemente, Dilma Rousseff, foram alvo de conspirações envolvendo setores da elite, que utilizaram, em seu tempo, todos os instrumentos necessários para atingir seus objetivos.
Na atualidade, as mídias corporativas, nas mãos das elites, se tornaram ferramentas decisivas no controle das mentes. Isso quer dizer que qualquer informação divulgada, será tomada como verdade e assimilada culturalmente. Nessa perspectiva, o controle das agência de notícias é o ponto central para compreender a crise de representatividade política instaurada desde 2013, com a cobertura distorcida do telejornalismo, orientada sempre para criminalizar o governo Dilma, o que colaborou expressivamente para o golpe 2016. Contudo, a violência midiática contida no partidarismo antipovo escancarado pelos meios nacionais de comunicação, encontrou ontem um contraponto poderoso. A mídia internacional The Intercept, denunciou com exclusividade, a farsa envolvendo a Operação Lava Jato: diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol, entre 2015 e 2017, revelam que Sérgio Moro extrapolou – e muito – as funções de um juiz previstas na Constituição e no Código Penal. Mais que isso, ele violou as atribuições de qualquer juízo, agindo “de ofício”, ou seja, sem ser provocado por nenhuma das partes envolvidas. Nas conversas, Moro parece privilegiar os advogados de acusação e auxiliar o MPF na construção de casos contra os réus. Na prática, os diálogos revelados pelo The Intercept demonstram que Sérgio Moro foi muito além da sua função, atuando com prejulgamento.
Essas revelações bombásticas demonstram aquilo que a maioria das pessoas pertencentes ao campo progressista já tinham conhecimento: desde quando o Pré-Sal foi descoberto, em 2006, o Brasil se tornou uma preciosa joia rara aos olhos do mundo, despertando a cobiça de potências estrangeiras, donas de uma sede extrativista inigualável. Essas potências, a principal delas, os Estados Unidos da América (EUA), lançaram mão de todos os meios para garantir acesso às nossas riquezas. E, pelo visto, estão conseguindo.
Com as revelações de ontem, vai ficando cada vez mais claro tudo aquilo que nós, pertencentes às hostes progressistas, pensamos e denunciamos: o impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi um golpe que abriu caminho para a venda das riquezas naturais e privatização irrestrita do patrimônio público. Entretanto, essa conspiração não atingiria êxito total sem a prisão do maior representante das classes populares, que, se em condições eleitorais, venceria as eleições presidenciais de 2018 em primeiro turno. Então, sua prisão por atos indeterminados foi providenciada, em um processo recordista de tempo. Mesmo assim, Lula continua representando um enorme perigo para essa conspiração. Se entrevistado antes das eleições, a opinião pública poderia escolher o representante indicado por ele, o que igualmente seria uma ameaça à agenda caquistocrata estabelecida. Agora, porém, toda essa conspiração vai caindo por terra, desta feita com uma prova contundente: documentação comprobatória pontual, que publiciza as relações espúrias entre o MPF e o ex-juiz Sérgio Moro, com a finalidade de impedir que Lula fosse entrevistado, para não dar chance de vitória a Fernando Haddad.
Após mais essa parte do véu descoberta, esperamos que o processo penal contra Lula seja anulado. Que venham, então, as manifestações de 14 de junho. Com elas, além da Reforma da Previdênca, teremos uma bandeira a mais para lutar: Lula Livre!
1] Sexólogo. Psicanalista em formação. Concluinte da graduação em Psicologia. Professor de Língua Inglesa. E-mail: armandopsicologia@yahoo.com.br