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Distopia na terra brasilis

As fumaças provenientes das queimadas na Amazônia apagaram a luz do sol em São Paulo - cidade mais importante do Brasil. Esse poderia ser o início de uma narrativa literária distópica que conta a história das consequências da devastação ambiental e das mudanças climáticas numa sociedade futura, mas não se trata disso. A sentença que abre esse texto foi a notícia sobre um fato que ocorreu na tarde do dia 19 de agosto de 2019. Os fatos de tão grotescos parecem ficção, mas a história do Brasil e a sua conjuntura política concorrem com roteiros de produções cinematográficas e, de modo geral, saem ganhando em disparada. A realidade supera de um jeito muito lamentável a arte. Parece cômico, mas é apenas trágico!


A distopia pode ser definida como o contrário da utopia. Enquanto os ares utópicos apresentam uma atmosfera de igualdade e liberdade, na qual a República atinge o seu estado ideal, os ares distópicos são marcados por um ambiente pesado, no qual a opressão, privação de direitos e controle social imperam. A distopia é o estado cruel da República; romances distópicos narram este estado: Fahrenheit 451, Ray Bradbury; Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley; Revolução dos Bichos, George Orwell e O conto da aia, Margaret Atwood. Sendo assim, o presente texto apresenta os acontecimentos que colocaram o Brasil no mesmo patamar de uma distopia


No mês de agosto do ano em curso, houve um aumento do número de queimadas na Amazônia, superando a média dos anos anteriores[1]. Esse dado colocou os holofotes do mundo inteiro sobre o Brasil e alarmou personalidades importantes. Entidades preocupadas com o meio ambiente, e com o futuro da natureza, se manifestaram contra as políticas de desmonte da legislação ambiental do atual governo, medidas que tem sido marcadas por um afrouxamento da fiscalização. Em carta aberta ao público[2], agentes federais do IBAMA denunciaram, no dia 26 de agosto, a destruição das leis ambientais, os cortes orçamentários e o sucateamento do principal órgão de combate ao desmatamento ilegal, que vem acontecendo nos últimos anos, cobrando uma postura diferenciada do poder público.


O fenômeno climático que escureceu o meio da tarde em São Paulo, e o aumento sem precedentes do número de queimadas na região da maior floresta tropical do mundo, já configura por si só um cenário de distopia, mas as falas do atual presidente sobre a questão, e todo o seu comportamento antidiplomático, demonstram que estamos diante de um governante que poderia ser protagonista de um romance distópico. Bolsonaro declarou, sem provas, que as ONG´s poderiam estar por trás das queimadas, visto que o seu governo havia cortado repasses à essas entidades. Essa declaração faz parte de um discurso que criminaliza os movimentos sociais, discurso este que Bolsonaro usa desde o período de campanha com o bordão “a mamata vai acabar”. A quem interessa a criminalização e enfraquecimento das organizações que lutam pela preservação da natureza?


O discurso de Bolsonaro, por vezes até debochado, como foi o caso da declaração de que se o brasileiro defecasse dia sim e dia não já ajudaria a resolver o problema do meio ambiente, não pode ser minimizado em seus efeitos. Há uma estratégia discursiva nas entrelinhas de suas falas que remetem ao objetivo de ridicularizar questões sérias e tirar o foco das ações do governo por meio de declarações polêmicas. O desprezo pela ciência e o culto à ignorância chegaram a níveis alarmantes. Há quem diga que Bolsonaro já pode ser considerado um ecocida[3]. A sociedade civil não poder fechar os olhos para os recentes acontecimentos.


O Brasil está em chamas. Não contém metáfora na frase anterior. O cenário é literalmente este: a maior floresta tropical do mundo e toda a sua biodiversidade está pegando fogo. É preciso muita consciência política para entender que a questão não é político-partidária: estamos falando sobre o futuro da humanidade. Cabe entender que somos um com a natureza e é dela que provém toda forma de vida.



Fonte da imagem: https://sergiorochareporter.com.br/amazonia-em-chamas-ibama-foi-alertado-3-dias-antes-do-dia-do-fogo-acionou-moro-mas-foi-ignorado/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=amazonia-em-chamas-ibama-foi-alertado-3-dias-antes-do-dia-do-fogo-acionou-moro-mas-foi-ignorado


[1] https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/08/27/em-26-dias-queimadas-superam-media-historica-do-mes-de-agosto-na-amazonia.htm


[2] https://www.oeco.org.br/wp-content/uploads/2019/08/Carta-aberta-IBAMA-ao-Brasil.pdf


[3] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/bolsonaro-o-ecocida

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