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Foto do escritorAlan Rangel

Psycho Pass. O que um desenho nos ensina?

Psycho Pass é um anime japonês produzido pela Production I.G. Estreou em 11 de outubro de 2012. Possui três temporadas. Em um cenário futurista, no Japão de 2112, o país é isolado do resto do mundo, e seu maior trunfo é a segurança. Pouco se sabe sobre outros países. Se você não acredita que a ficção científica é capaz de antever realidades concretas, poderá ter um abalo ao ver a animação.


Sybil é a Inteligência Artificial (AI) que controla e organiza toda a segurança do território japonês. As ruas são vigiadas por um sistema extremamente eficaz, capaz de observar externamente qualquer tipo de inconivente que abale a ordem.


Sybil não só vigia as pessoas externamente. Ela também vigia internamente. Alcançou o nível celular. Tem a capacidade de perceber a sensibilidade individual, no que diz respeito a sentimentos. Nessa sociedade, tudo é baseado em números. Todos são quantificados, e qualquer um que ultrapasse o chamado coeficiente criminal do psycho-pass, ou seja, tenha seu matiz numérica alterada, turva ou nublada, é um potencial criminoso. É o grande Irmão, de George Orwell, levado ao extremo.


Uma arma chamada dominator, capaz de medir o coeficiente criminal da população, é utilizada por inspetores e milicianos que trabalham para o Estado. Eles podem executar um tiro paralisador no potencial inimigo (acima de 100 pontos) ou simplesmente eliminá-lo, caso o coeficiente seja irrecuperável (acima de 300 pontos). Em outros termos, algumas pessoas estão com um número tão alto, que é impossível qualquer tipo de tratamento psicológico ou isolamento. Não existe julgamento ao indivíduo que tem a sua sensibilidade acima de 100: ele será preso automaticamente por tempo indeterminado. E não existe recuperação prisional aos que estão acima de 300, mesmo que não tenham cometido nenhum delito. Apresentar sintoma elevado é o mesmo que exclusão! É o biopoder agindo a todo vapor pela saúde social.


Numa sociedade assim, possíveis crimes são antecipados devido a engenhosidade da Sybil. Potenciais criminosos estão em todo lugar. Quando um dispositivo dispara um possível alarme de alteração psicoemocional de determinado indivíduo, sozinho ou no meio coletivo, os subordinados do Estado - da secretária de segurança pública (SSP) - estarão lá para resolver o problema.


Sybil também é capaz de orientar as pessoas em relação a certas capacidades para seguir profissões. Analisando o QI de cada um, e outros tipos de inteligência, o estudante que sai do colégio é orientado a se enquadrar em determinada área. Ele é direcionado a cumprir a função adequada ao organismo social. Tudo em nome do bem-estar coletivo.


O maior custo a aceitar esse modelo de sociedade é certamente a diminuição da liberdade em favor da segurança. As pessoas já nascem no Japão do século XXII sabendo que suas vidas deverão ser direcionadas para a completa obediência ao sistema. A crença é fundamental. Falhas podem virar um pandemônio social de revoltas.


Questionar o modelo societário é disparar o alarme às autoridades. É anunciar seu nível de estresse alto. Ponto fundamental: em qualquer lugar onde você esteja, com raríssimas exceções, se seu nível emocional aumentar tenha certeza que no mesmo dia estarão batendo na sua porta. Ou você morrerá de forma brutal com a dominator (e as mortes são bizarras) ou será preso e quem sabe retorne, em momento posterior, à vida comum.


Nessa sociedade de controle, ultra tecnológica, em que corpos são domesticados e padronizados pelo Leviatã pós-moderno, não podemos contestar as instituições. Elas sempre estarão fazendo o melhor pela ordem. Se não existe violência, por que devo contestar meu país? O Japão, como nação isolada, é visto como modelo de segurança, e as pessoas sabem disso. E aceitam isso.


O anime tem outro ponto que me parece bem interessante. Filósofos e artistas são citados o tempo em diversos episódios, ao menos na primeira temporada. Contudo, para Sybil é perigoso as pessoas terem conhecimento sobre pensadores de outrora, pois pode levá-las a comportamentos inesperados. Disparar um nível emocional fora da normalidade estabelecida. A arte tem um tom de rebeldia, por isso é tão ameaçadora.


Não é um sistema perfeito. Os episódios mostrarão as falhas e elas deverão ser resolvidas o mais rápido possível. O grande vilão da primeira temporada é um subversivo genial. Ele quer a transformação, deseja mais liberdade às pessoas. Fala de um passado livre. O seu espírito revolucionário lembra os ideólogos modernos que falam de igualdade social e liberdade, não importa quais recursos, e quantas pessoas tenham que morrer. O mais importante é o fim.


Numa sociedade na qual pessoas não podem se estressar, nem aumentar seu coeficiente psicoemocional, são os terapeutas, psicólogos e psicanalistas que serão requisitados a todo momento a amenizar o sofrimento dos indivíduos. Recuperá-los para se manterem dóceis. Seja por uma questão familiar, profissional ou mesmo como cidadão; qualquer pessoa deve manter seu psycho-pass baixo.


Atualmente, em alguns países, já é adotado a verificação de temperatura corporal. No combate ao coronavírus , ele é utilizado em aeroportos. Será que chegaremos ao ponto de criarmos um coeficiente criminal?


Leitores, vivendo numa sociedade liberal e democrática, é bem possível que ao assistir o anime você fique do lado do vilão. Ou não. Quem sabe! Está lá na Netflix.


Até mais!

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