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HOJE




Amanhece mais uma sexta-feira e nesta em especial eu volto a escrever. Passei alguns dias atropelado por tantas informações velozes que acabei abraçando aquela tal procrastinação que me persegue e sempre aparece em dias turbulentos.


Pensei em escrever sobre temas diversos, afinal hoje em dia só precisamos escolher um dentre milhões e a polêmica seguramente estará pronta.

Posso chamar ou não chamar Israel de hipócrita, de assassino ou tão somente deixar essa crítica apenas para o terrorismo do Hamas. Posso dizer que a desgraça humana nasce nos EUA, que financia armas para Israel, assim como para Ucrânia e tantas outras guerras pelo mundo fomentadas pelo “tio Sam” para obter lucro. Os mesmos EUA que criticam os posicionamentos da Rússia na União das Nações Unidas (tsc), repetindo os mesmos ou piores quando lhes convém, e como já fizeram diversas vezes. Posso falar sobre Milei, o Bolsonaro argentino e seu excêntrico perfil, para não dizer coisa pior, já que o cidadão tem ideias que vão além de um posicionamento extremista radical. Chega a beirar ou mergulhar num problema que mais parece esquizofrenia. Não sou nenhum profissional da área para afirmar, mas uma pessoa que acredita que seu cachorro (Conan) que morreu e foi clonado por ele mais quatro ou cinco vezes volta do além para lhe dar conselhos de economia é algo um tanto fora do normal. Mas não quero falar exclusivamente disso, nem dessas coisas que me parecem fáceis de se abraçar uma opinião e defendê-la com unhas e dentes contra tudo e todos que hoje se sentem especialistas em assuntos múltiplos. Quero falar de gente. Superficialmente falando, desse “projeto divino” falido ou, quem sabe, desse “projeto diabólico perfeito”.


Caetano Veloso, um poeta baiano sentimental, refinado e espertíssimo, ao mesmo tempo um escritor “bobinho” que enxerga o mundo que muitos apenas idealizam (coisa de poeta) uma vez escreveu uma música chamada “Gente”.

A palavra “gente” que tem origem no latim gens, gentis, que significa família, clã, prole ou raça, na bem formulada composição de Caetano, o de Canô, chega a ser comparada a “espelho de estrelas, reflexo do esplendor”. Mas, gente, parei agora pra pensar em Gaza. Quanta gente morrendo sem saber de nada! O romantismo das comparações poéticas, embora concorde com todas elas, parece não iluminar alguns lugares do globo terrestre. Como pode a mesma gente que “quer crescer, quer durar” e até mesmo luzir poder também exterminar, não compadecer e ficar indiferente diante de tamanha desgraça.


Jovens fazem dancinhas no TikTok em busca de fama repentina. Religiosos no conforto de suas casas, abraçam a Bíblia sagrada e babam de maneira insana pedindo aos céus por mais morte enquanto mulheres e crianças inocentes se esfacelam em escombros. Ucrânia, Rússia, Cisjordânia, Israel, famílias inteiras pelo mundo a penar por decisões de um punhado de “businessmen” que também possuem famílias.


Esperançoso o poeta santamarense escreveu: “gente é muito bom, gente deve ser o bom”, utilizando a derivação do verbo dever com o sentido de ser obrigado, imposto ao homem sê-lo. Esqueceu-se, o sensível compositor, que gente é muita gente. E tanta é que não há condições de impormos que todas sejam uníssonas em nada. Gente também pode não querer ser feliz, pode não querer ser o bom, pode também desejar retirar o ar das estranhas do seu próximo, assim como o alimento, a água, como soterradas ficaram as pessoas que se foram sem ter tempo de escolher em Mariana, em Brumadinho e é isso, em matéria de gente vale tudo, ou não, Vale?


Pensando em gente e em tudo que somos capazes de fazer lembrei-me de uma estrofe do compositor uruguaio radicado brasileiro Taiguara, em sua música homônima ao título desse texto:


“Hoje Trago em meu corpo as marcas do meu tempo Meu desespero, a vida num momento A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo”.


O que torna os poetas mais ou menos gente é essa coisa de fazer pensar. Com a dureza e a delicadeza dançando em pista aberta, batendo e afagando as mentes é inevitável compararmos os tempos. Os tempos de ontem e os tempos de hoje em uma disputa de retorica que, no final, são apenas rabiscos em lousa, palavras ao vento, esforços em vão.


Caetaneando os sentidos entendemos que o tempo é um só. Atleta assíduo que tem a função única de nunca parar. Pessoas são como estrelas. Nascem, crescem, brilham e explodem. Muitas, inúmeras, tantas! E “se as estrelas são muitas, só mesmo o Amor!”. “Vida, doce mistério!”


FONTE:


https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/44729/

https://www.cartacapital.com.br/mundo/exercito-de-israel-avanca-no-norte-de-gaza-e-milhares-de-civis-tentam-fugir-para-o-sul/

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