A SÉRIE "PSSICA" E O TRÁFICO SEXUAL DE ADOLESCENTES: Damares estava certa?
- Carlos Henrique Cardoso

- 29 de ago.
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Atualizado: 30 de ago.

Em outubro de 2022, durante culto evangélico - e em meio ao segundo turno envolvendo Lula X Bolsonaro - a então ministra da Mulher, Cidadania, e Direitos Humanos Damares Alves contou uma história daquelas. Afirmou que no arquipélago de Marajó, crianças tem dentes arrancados para facilitar a prática de sexo oral, vítimas que eram de traficantes sexuais. O caso ganhou o noticiário, no entanto, a ministra não apresentou provas, nem qualquer denúncia ao Ministério Público a respeito de episódio tão escabroso. Após o imbróglio, houve sim uma ação do MP, entretanto, foi contra Damares e a União, por fake news e danos morais coletivos. O órgão pedia indenização de R$ 5 milhões para as vítimas da lorota, estigmatizados pelo alarde ministerial. Os promotores alegaram que não houve confirmação de nada que a ministra tenha relatado, nem qualquer evidência que casos horripilantes assim tenham acontecido. Jornalistas também realizaram reportagens em Marajó e também não encontraram registros.
Tempos depois, uma adolescente que participava de um reality show musical, chamada Aymeê, chamou atenção após interpretar uma canção, declarando que Marajó é um local com ocorrências de tráfico de órgãos e pedofilia “em nível hard” e que crianças se prostituem por míseros reais, naquela terra empobrecida. Mais uma vez, o mundo das redes sociais viralizou a fala da garota, remetendo mais uma vez a Marajó como referencial de exploração infantil.
Eis que Damares surge novamente, agora como senadora, relatando casos de abuso e tráfico de menores aonde?lá mesmo: Ilha de Marajó, após visita de uma missão da Comissão de Direitos Humanos do Senado ao Pará. Junto a autoridades locais, os parlamentares ouviram pais de crianças sequestradas, torturadas, e mortas nos municípios de Anajás e Breves, no referido arquipélago. Isso ocorreu no dia 1 de julho, durante sessão plenária.
Esse intróito todo foi para falar da série “Pssica”, que estreou há uma semana na Netflix e foi baseada no livro homônimo lançado pelo escritor Edyr Augusto, lançado em 2015 pela editora Boitempo. O termo que dá nome à série significa algo ruim que acontece com alguém, uma espécie de maldição ou “encosto”. é muito comum no Pará e seria derivado do idioma indígena nheengatu. O drama acompanha uma história entrecortada entre um líder de uma quadrilha de assaltantes, uma ex-gerrilheira colombiana, e uma adolescente. A trama é uma aventura em busca de jovens sequestradas e utilizadas para prostituição, no Pará. Mas... em que localidade? Ela mesma...Ilha de Marajó! E na cidade de Breves, também visitada pela comitiva liderada por Damares.
Quase toda série se desenrola nos caudalosos rios da região Norte, mostrando pobreza, dificuldades de deslocamento, e a vulnerabilidade dos meios de transporte marítimo em área rodeada de densa vegetação. Pra variar, aparece também a descarada participação de autoridades políticas nesse descalabro todo. Algumas cenas causam revolta e podem soar tensas para pessoas sensíveis. O foco, no entanto, é para o desastre da exploração juvenil em local de tão difícil acesso para entidades de fiscalização, dada a vastidão territorial e aquática. Marajó é a maior ilha fluvial do mundo e o Pará é o segundo estado em extensão do país. Além dessa incômoda situação do tráfico humano de menores, o estado vive dramas da mineração irregular e aumento de violência ocasionados por grandes empreendimentos, como a construção da Usina de Belo Monte, que gerou alta de crimes no município de Altamira.
O local também tem sido bem noticiado no mundo, pois Belém receberá a COP30, conferência da ONU sobre o clima, em novembro. Em meio ao aumento de preços de hospedagem e questões complicadas de logística, alguns chefes de estado já declinaram da presença justamente pela demanda de valores, o que indica insuficiência hoteleira.
O alerta da série remete às denúncias feitas por Damares e Aymeê. Se não havia evidências claras sobre o pronunciado da atual senadora, o fato de Marajó ser tão citada como um “point” da violãção infanto-juvenil desperta atenção. O Ministério Público Federal já cobrou medidas do executivo para melhorias do IDH da região, afim de combater a desproteção que passa a população local. Não é possível que essa ilha seja tão citada quando se refere a crimes hediondos dessa magnitude.
“Pssica” se tornou um grande sucesso da Plataforma de streaming logo que estreou, desbancando a segunda temporada de “Wandinha”. Entrou no top 4 mundial na primeira semana e é atualmente a segunda série de língua não-inglesa mais vista.
FONTE:
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/pssica-nova-serie-da-netflix-e-baseada-em-uma-historia-real.phtml#:~:text=N%C3%A3o%20existe%20um%20%C3%BAnico%20significado,origem%20no%20idioma%20ind%C3%ADgena%20nheengatu.
IMAGEM: F5-UOL



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