ADMIRÁVEL "GADO" NOVO?
- Carlos Henrique Cardoso
- 25 de jul.
- 5 min de leitura

Nessa semana, um brother informou que estava em um interior do sertão da Bahia e lá trocou uma ideia com algumas pessoas. Nas conversas, notou certo desapego à figura do presidente Lula, o pessoal mostrava indiferença a seu nome. Logo a comunidade nordestina, tão grata às políticas de transferência de renda, luz e água para todos. Bem, confesso que há um exagero falar em todo um povo de uma região, quando se trata de um bate papo com alguns populares de UMA cidade baiana. É a amostra da amostra da amostra. Isso, porém, abre um questionamento: a fidelidade à Lula vem se esgotando em nossa querida Nação Nordestina? E estou sendo bem generalista! Senão minha base especulativa não funciona.
Não haverá respostas conclusivas, longe disso, mas uma dinâmica constituindo alguns pontos que indicam que uma virada está a caminho. Vou compor um exercício de entendimento que me leva a crer que a reeleição do petista será bem, bem, bem difícil por aqui também. Isso quer dizer que por aqui esteja nascendo um admirável “gado" novo? No sentido de “senso comum” do que seja um coletivo de humanos que apoiam determinado político com afinco e passionalidade, assim como ocorre com os simpatizantes de um determinado ex-presidente? Pode não chegar a tanto, mas nas eleições presidenciais de 2026, Lula vai ter que demonstrar sua coragem, a margem do que possa parecer.
O governador Jerônimo Rodrigues, segundo pesquisa realizada no primeiro trimestre desse ano, perderia a eleição de 2026 para ACM Neto, apesar do atual gestor do estado ter apresentado índices bastante positivos. No entanto, outros institutos de pesquisa avaliaram aumento da desaprovação, também no mesmo período. De fato, o governo passa a impressão de se movimentar muito pouco, e não aproveitar o beneficio de ser do mesmo partido do presidente da República, pegando a rebarba de alguns programas nacionais. Sem falar que já são quase 20 anos de mandatos petistas e isso causa desgaste sim. E quando se fala em PT, o pessoal não vê apenas como uma sigla partidária, mas um individuo corporativo, ou seja, se um quadro do partido cometeu um crime lá no interior de Rondônia, o ilicito foi “do PT”, herança do imaginário lavajatista. Isso quer dizer que se houver algo grave no governo daqui até lá, compromete seus companheiros. E enviesa a avaliação de muita gente.
Sem contar com a (in)segurança pública que viceja em nossa região. Das 20 cidades mais violentas, 16 estão no Nordeste, sobretudo Ceará e Bahia, governadas por petistas. A sensação de segurança em outros locais que recebem migrantes do Norte - Nordeste é maior, com um tempo confortável lá fora e a vigilância cuidando do normal, e portanto, isso também chega nos ouvidos dos habitantes da comunidade nordestina. Mudar o cenário do faroeste que viceja por aqui faz com que atenções para politicas mais duras de combate ao crime sejam direcionadas para candidatos "casca grossa".
O que pode também gerar alguma frustração é ficar dependendo sempre de bolsas e benefícios sociais, ainda mais que nosso povo escuta por ai incentivos para empreender, esse papo da “onda liberal” que estimula todo mundo a ter seu negócio e assim “enriquecer”. Essa água mole batendo em pedra dura, termina por motivar as pessoas a buscarem vender algum produto, coisa que sempre ocorreu, mas agora com mais entusiasmo e propaganda. E, cá pra nós, todos esperam nova possibilidade de verem esse mundo prosperar. E assim, políticas de renda estatais perdem espaço pro “faça você mesmo”. Essa minha observação pode ser frágil, mas...
Isso porque muitas pessoas se deslocam para cidades do Sul e Sudeste do país e - também é verdade - muitos que vão não retornam mais, pois grande parte consegue progredir socialmente e assim animam os que por aqui ficaram. E se foram pra lá, foram atrás de uma vida melhor. E se foram pra isso e conseguiram, a realidade é repassada. Assim, gera a ideia de que lá pelas bandas do Sul as coisas dão certo mesmo, e lá... bem, lá ninguém aprova muito o PT não! Isso também é repassado pelos parentes que lá estão. Saiu uma pesquisa que mostra que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, é o opositor mais bem colocado em pesquisa eleitoral contra Lula. Ora, pouca gente conhece Tarcísio no por aqui, mas vai que em conversas de zap, um diga que “o povo aqui fala bem dele” ou que ele “tá fazendo um bom governo” já firma na mente dessas pessoas alguma opção de mudança, sonhando com melhores tempos idos. Alguns aparecem com discursos prontos, reverberados por mensagens positivas de liberdade econômica, contra a corrupção, pela eliminação de impostos, e por ai vai, modelando a mente desses familiares que por cá ficaram, cansados de ver que toda essa engrenagem em que vivem, já sente a ferrugem lhe comer.
Já nos centros urbanos do Nordeste, essa virada já acontece! As prefeituras de Aracaju, Maceió, e Natal, são opositores do governo federal. O governo de Pernambuco, também. Fortaleza quase elege um extremista de primeira grandeza. O Norte do país já virou. Se em 2014, foi uma disputa Norte x Sul, em 2022 quase toda a região Norte votou em peso no ex-presidente Bolsonaro. Qualquer sinal positivo nesses lugares - ah, e no Sul também! - chega aos ouvidos do sertanejo. Atividades pujantes, imobiliárias, comerciais, industriais, Cada uber que roda, cada entregador de comida ou mercadoria que cumpre seu trabalho e ganha uns trocados a mais nessas locomoções, é uma mensagem positiva que chega no zap dessa massa, que se transforma numa espécie de noticiário das boas novas trabalhistas. Os automóveis ouvem a noticia, os homens a publicam no “jornal”.
Mas isso é indicativo de que são um novo “gado”? Muito longe disso. Votar no novo ou no diferente não significa apoio irrestrito ou condicionante ideológico inflexivel. O povo quer fugir da ignorância, apesar de viver tão perto dela. Então, saber de novidades, de familiares que trazem boas novas, e outros aspectos motivacionais, não gera compromisso com ninguém, mas desperta outros caminhos! Acredito que milhões por aqui continuam identificados com Lula, o que não significa que sua presença eterna na politica seja necessariamente aprovada. E a realidade é concreta, imediata. Construiu uma creche pro seu filho, um posto de saúde mais próximo, forneceu transporte escolar mais decente, mais emprego e renda, pode ser quem for, falar asneiras a granel, a gratidão vem na urna. E não estou aqui suavizando meios escusos para conseguirem voto emgabelando essa gente, mas sustentando que no horizonte desse pessoal há sempre alguma esperança, seja de onde for, para ainda terem tempo de vida e assistirem alguma transformação social factível, o que, convenhamos, tá complicado. O que essa gente mais viu foi estagnação e desesperança, afinal, a arca de Noé, o dirigível, não voam nem se pode flutuar.
FONTE:
IMAGEM: CEDCMA
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