As eleições presidenciais de 2022 vem sendo debatida há algum tempo, após a observação de especialistas de que a polarização entre Lula e Bolsonaro tomaria essa pauta. Desde então, ex-apoiadores do atual presidente, arrependidos, e outros que torcem o nariz para o retorno de Lula vem ocupando a coluna do meio, turma essa conhecida como “Terceira Via”, que seriam postulantes a romper os extremos do jogo eleitoral e tornarem-se nomes viáveis para o eleitor. Até o momento, não há um player que emplacou a ponto de preocupar os dois líderes das pesquisas.
Desde a retomada da votação democrática após a queda do Regime Militar, os dois primeiros nomes, geralmente, chegavam bem fortes, impedindo o terceiro colocado de despontar ou ser lembrado em números significativos. Até que em 2014 movimentações da sociedade demandavam mudanças de rumo nesse curso polarizador e a candidata da terceira via, Marina Silva, obteve quase 22 milhões de votos. Em 2010, ela já havia alcançado quase 20 milhões, o que apontava atenções maiores e desgaste dos embates PT-PSDB. Marina falava em terceira via e Nova Política já nesse período. Parecia uma escolha com grande poder de adesão.
Até que chegou 2018 e a terceira via mal completou um trecho de perspectiva no horizonte das possibilidades. O então presidente esvaziou completamente essa chance e muitos atores políticos se aglutinaram e pularam sem pestanejar na sua candidatura, deixando a chamada terceira via sem qualquer pavimentação. Certo que Ciro Gomes obteve 12% dos votos, mas o aproximavam demais da Centro-esquerda, o que o afastaria de uma união centralizada, consolidando possibilidades de disputa via apoio popular maciço através das urnas e atenção parlamentar às possibilidades de governança.
A Terceira Via passou a ser articulada no final do segundo semestre de 2021, quando 11 nomes estavam em disputa. Desses, pelo menos 8 votaram em Bolsonaro e 2 deles foram ministros. Arrependidos, forjam ordenamento de um bloco para “discutir o melhor para o Brasil”.
Os anos entre 2015 e 2018 constataram um clima de euforia travestida de esperança, ao emergir a figura de um parlamentar militarista que anteriormente era conhecido por suas declarações absurdas e polêmicas, depois virando símbolo de prosperidade e “ética”, após avaliação rasa de que ele “jamais havia roubado” em quase três décadas de Parlamento. Eram os anos dourados da Lava Jato, de combate à corrupção e muita passionalidade. Uma tentativa de união partidária para suprir a possível vitória de Bolsonaro foi realizada pelo então governador de São Paulo Geraldo Alckmin. O resultado foi o esvaziamento de sua chapa, desidratada por correligionários que viraram as costas pra ele, afim de pegar carona no delírio da Nova Politica e do liberalismo declarado, que se oporia a “esquerda ladrona” que havia sido impeachmada e presa.
Alckmin levou um tempo no ostracismo até surgir como nome para compor a vice-presidência encabeçada por Lula. Muitos desconfiaram dessa aliança “água e óleo”, sem sentido e descaracterizada, após ambos protagonizarem disputas passadas – inclusive pela vaga no Palácio do Planalto – e embates com muitas farpas. O ex-governador paulista deixou o PSDB e irá se filiar a um novo partido para, enfim, caminhar ao lado de Lula numa aliança improvável anos atrás.
Mas política é isso. É poder unir em prol de uma causa maior, aliás, causa essa legitima na formação de uma terceira via, cujos nomes flertaram com alguém visivelmente desequilibrado (segundo psicólogos renomados), com simpatias ao autoritarismo, boquirroto, e sem qualquer projeto razoável, a não ser compor o governo com indivíduos “de boa vontade”, com propostas de diminuição do tamanho do Estado, privatizações e fim completo dos desvios monumentais de verbas. O que vimos foi um governo com grande número de militares da reserva, ex-alunos de Olavo de Carvalho e congressistas apoiadores cuja maior atividade é bater boca em rede social. Sem falar de denúncias robustas de corrupção.
Com isso, o primeiro colocado nas pesquisas – chamado de “extremista de esquerda” por muitos que venceram eleições parlamentares (e, claro, seus eleitores) - resolveu integrar nomes inesperados para concretizar apoio em uma possível vitória. Para isso, conversas com antigos adversários, coalizões, pactos e outras combinações, ajustando integrações e formações para que os caminhos do país possam ser reabilitados. O conservador Alckmin concentra o elo factível para a viabilidade de um governo, a propor acordo com antigos aliados que respeitam sua trajetória política. Nesse interim, e assumindo as circunstâncias de um pleito eleitoral que recupere o país de um desastre que os próprios nomes da chamada terceira via reconhecem, Alckmin pode demonstrar aquilo que muitos podem não enxergar de imediato: ele é a terceira via.
FONTE:
Imagem: Poder360
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