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Alguma morte deve ser comemorada?

Foto do escritor: Carlos Henrique CardosoCarlos Henrique Cardoso

E Lázaro foi abatido! Na manhã do dia 28 de junho – uma segunda-feira – o país acompanhou o desfecho do caso Lázaro Barbosa, o assassino foragido que estava há 20 dias escapando de um cerco com centenas de policiais pelas matas goianas. Após ser encontrado, o criminoso não teria se entregado, trocou tiros com os agentes e veio a óbito com quase 40 tiros. Depois de ser deixado em um hospital, segundo informações ainda com algum sinal vital, as tropas que o perseguiam comemoraram o “final feliz” daquela caçada. Populares se aglomeraram em frente ao hospital para acompanharem os últimos suspiros do psicopata.


As redes sociais entraram em polvorosa. Muita gente “soltando fogos”, felizes por um assassino ter encontrado um merecido fim. Teve até um dito cujo que postou “CPF cancelado”. Outros, lamentando celebrações pelo fim da vida de um indivíduo. E aí vai o mote desse texto: existe morte que pode ser festejada?


Uma das cenas comentadas nas mídias sociais foi na qual policiais se abraçavam felizes e oravam juntos pelo sucesso da ação. Moradores do entorno foram dar apoio e parabéns às guarnições, juntando-se a eles naquela solenidade. Houve repudio, afinal, ninguém deveria comemorar morte de ninguém. Chega a ser mórbido.


Porém, há algumas considerações. A polícia vinha sendo muito criticada por estar sendo feita de boba ao não encontrar um sujeito que estava sozinho perambulando pela mata. Memes e piadinhas não faltaram. Mesmo com a notícia de que fazendeiros da região estariam acobertando o fugitivo, o trabalho dos agentes foi colocado em xeque. Assim, após abaterem o procurado, o festejo soou como um revide. Não vou aqui entrar na discussão se polícia deve ou não deve comemorar execuções, desnecessário. Ou que deveriam usar armas não-letais para que pudessem preservar sua vida a fim de extrair depoimentos envolvendo latifundiários da região. Depois de passar tanto tempo escapando, acredito muito pouco que se entregaria com vida, ainda mais com disposição pra ficar dedurando alguém. Apenas indico que naquelas circunstâncias refletiu um alívio após críticas a um trabalho árduo em locais onde não estão acostumados a atuar.


Quanto à população entrar nessa onda, desde que a caçada teve início houve algum pânico. Alguém que matou friamente uma família inteira, “tocando o terror”, estava à solta, onde nem uma tropa armada até os dentes, com setores de inteligência, helicópteros, cães farejadores e o escambau não conseguiam pegá-lo. Logo, temia-se que ele aparecesse de supetão em alguma localidade ou propriedade, como aconteceu de fato. Entendo que isso deve ter alarmado moradores da zona rural, desacostumados com tanta barulheira e com uma criatura perigosa na espreita por aí. Finda a apreensão, alguma expressão de conforto é manifestada. Muitos também se dirigiram ao hospital onde Lázaro faleceu com a finalidade de “reportarem” o episódio para seus seguidores e puxar algumas curtidas.


Nada acima foi escrito para justificar comemorações, apenas um exercício de compreensão dos fatos ocorridos. No entanto, outras situações como essa podem ser consideradas lamentáveis. No dia 20 de agosto de 2019, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel comemorou a execução de um sequestrador que havia feito de reféns passageiros de um ônibus na Ponte Rio-Niterói como se estivesse em um estádio de futebol. Nesse caso, é útil informar que o rapaz não tinha antecedentes, não tinha histórico violento e agiu após um surto. Era mais um desempregado desesperado que tomou uma atitude intempestiva. Independente se a ação da polícia em matá-lo fosse correta ou não, comemorar uma morte nesse incidente foi patético. Tem correspondência com o ideal de políticos dessa estirpe que considera “bandido bom, bandido morto”, seja Lázaro, um trabalhador ensandecido, ou um ladrão de chocolate.


FONTE:



IMAGEM: Ponte Jornalismo






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