AS BETS DEVEM SER COMPLETAMENTE PROIBIDAS?
- Carlos Henrique Cardoso
- 30 de mai.
- 4 min de leitura

A CPI das Bets foi instalada em novembro de 2024, porém, só chamou atenção quando a influencer Virgínia Fonseca apareceu por lá. Seu depoimento gerou tanta notícia que surgiram debates e discussões sobre a possibilidade de extinção total das bets, ou seja, deixarem de existir. Em bate papo com alguns familiares e chegados, foi quase unânime a concordância em parar de vez esse negócio. Uma das poucas pessoas que encontrei desfavoráveis à proibição total foi eu!
As primeiras apostas aconteceram no país já no século XVI, ou seja, existem praticamente desde que Cabral aportou por aqui. Cartas, corridas de cavalo, loteria federal, jogo do bicho, cassino, bingo, a evolução dos jogos passa por legalizações e restrições. O brasileiro, desde sempre, se acostumou a tentar a sorte, mesmo que a jogatina teve o apelido do azar. Em 2018, o governo federal autorizou jogos on line e começou a onda do Tigrinho, apostas em resultados de partidas de futebol e outros esportes. Em 2023 foi regulamentada e em 2025 a regulação funcionou pra valer, com normas de segurança, credenciamento de instituições, segurança dos apostadores,etc, mostrando que se proibir, novas modalidades tomam corpo, novos sanguessugas, novas ilicitudes, e sonhos de faturar uma grana alta permanessem.
A coisa começou a feder quando em 2024 dados divulgados pelo Itaú revelaram que os brasileiros depositaram mais de 68 bilhões de reais fazendo uma fézinha nessas atrações digitais e arrecadaram 44 bilhões, ou seja, os apostadores perderam 24 bilhões de reais em um ano pra essas casas de apostas on line! Isso ligou o alerta de que o vício nesses jogos estava criando um ambiente de insegurança financeira, gerando dívidas aos montes e graves problemas de saúde mental. Daí, a necessidade de discutir a relevância de se manter tantas bets funcionando, extorquindo nossa população, e criando situações de desespero total. Até suicídio já rolou.
E aí vem a pergunta: diante tudo isso, pra que manter essa desgraça? Não seria melhor a luta pela repressão total? Sem esse papinho de “liberdade”, cada um faz o que quer, e todo mundo é adulto pra decidir o que é melhor pra si? Não gostaria de caminhar por uma perspectiva moral, fujo disso sempre que posso.
Se fosse pra decidir ser favoravel ou não à remoção total desses sites, numa enquete, sem outra alternativa, eu colocaria sim. No entanto, acredito que é uma ideia deveras idealista ou utópica, achar que bastaria enviar um asteroide virtual e acabar com tudo, como aconteceu com os dinossauros. Sou favorável a uma tática pra isso: uma regulamentação rígida, quase escrota.
Bem, vamos ver o que aconteceu com o cigarro. Havia propagandas a granel, alinhando o ato de fumar a uma vida destemida, corajosa, e aventureira. A industria do tabaco financiava eventos artisticos (Hollywood Rock, Free Jazz Festival) e esportivos. A Fórmula 1 então era um circo tabagista. Quase todas as equipes patrocinadas por marcas de cigarro. E eram muitas. Muitas! Quando os cientistas apertaram a mente da sociedade, alardeando o mal que o cigarro fazia, apertaram o cerco. A medida que os anos iam passando, caia o número de fumantes. Restringiu-se marcas de cigarro em tudo que é lugar, não podiam mais patrocinar nada, comercial zero. Até em coletivos tinha gente fumando. Hoje, o fumante se tornou uma persona non grata. Basta ele fazer menção de acender, todo mundo olha de cara feia.
Considero que a lei de regulamentação das bets deveria engrossar dessa maneira. Cobrar altos tributos, proibir comercial, patrocínio de festas e eventos, restringir o valor jogado por apostador. Isso geraria dificuldades, fazendo com que o individuo pensasse duas vezes antes de depositar em algo que não lhe desse retorno. As marcas de cigarro deixaram de financiar diversos espetáculos e não houve crise. A Fórmula 1 continua, assim como Rock in Rio e outras festas. Outros setores da economia passam a investir e tomar lugar e vida que segue.
Ainda assim, há perigos. Como citado acima, o desejo em ganhar dinheiro “fácil” vem de longa data e não cessará se proibir ou dificultar. O instinto de caçar outros meios - surgidos da intensa lavagem de dinheiro nas atividades clandestinas por aí - vai continuar. Nos anos 1970 e 1980, mortes envolvendo jogo do bicho ocorriam aos montes. Recentemente, rifeiros foram assassinados, muitas vezes, sem a solução dos cirmes. Pelo menos, alguma arrecadação adquirida, nesse modelo proposto de taxação mpaxima, serviria pra incrementar mecanismos de fiscalização e combater novos círculos de apostas, antes que se tornem esse paquiderme devorador de rendas que se tornou.
Ai vem outra questão: achamos mesmo que esse Congresso - ou até mesmo o STF - vai criar algo tão severo? Pois isso, na verdade, seria mais imposto, o que já seria suficiente pra causar a maior grita. Basta falar que vai taxar alguma coisa nesse país que é um bafafá da miséria (quase sempre com razão). Tentei fazer uma formulação pensada, mas também é preciso levar em conta que a realidade não permitiria algo assim. Os campeonatos de futebol já estão mais do que sequestrados por elas e o lobby seria pesado, bem pesado, a fim de que as coisas não chegassem a esse ponto. No meio desse emaranhado todo, muito jogador, partida, árbitro, acaba sendo comprado!
Outro fator que não deve ser desconsiderado: a influência dos influencers. Eles mesmos, que juntos detém quase um bilhão de seguidores, são considerados os algozes dessa jogatina. Como proibir de uma vez por todas as bets, se eles - os inflencers - possuem justamente o poder de persuassão pra levarem seus fãs a novos produtos de consumo? Também não sei como a regulamentação das redes sociais travaria a liberdade econômica deles. E se eles conseguem um mar de gente a segui-los, é porque essas pessoas almejam o sonho dourado de ostentação e luxo que eles adquirem, procurando passo a passo, novas práticas de se levantar dinheiro, Essa gente se tornou estrelas até de campanhas razoáveis. A tal da Virgínia Fonseca mesmo, foi na CPI pra explicar suas movimentações suspeitas com essas bets e acabou sendo tratada como celebridade! Ai fica difícil achar que “basta apenas” encerrar as atividades das bets que o mundo finalmente vira um lugar melhor. Por fim, olha como as coisas são complicadas: mesmo com toda limitação, uma reportagem da Band mostrou que o número de fumantes cresceu pela primeira vez desde 2007. Nem sempre, amigos, a bola gira redonda...
FONTE:
IMAGEM: HojePR
Excelente reflexão, camarada!
A liberdade é um principio humano fundamental, porém, há que haver limites, senão cada um(a) faz o que bem entender.
Não sou profundo conhecedor destes jogos de azar, mas, pelos relatos que já ouvi, se não for o caso de proibição, é imperativo a existência de um sistema de controle com maior rigor.