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BELEZA: O Mercado do Espelho


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Já entrou em um ambiente e percebeu, antes mesmo de abrir a boca, que alguém já te avaliou da cabeça aos pés? O cabelo, a pele, o peso, a roupa (se não passou por isso, é bem provável que você seja a pessoa que faz). Um verdadeiro raio-X social que diz se você vai ser ouvido ou ignorado naquele espaço.

 

Pois é. A aparência deixou de ser detalhe estético para virar credencial de acesso: abre ou fecha portas para empregos, influencia relacionamentos, garante (ou tira) likes e até define credibilidade. Não é só sobre “estar bonito”. É sobre poder circular e usufruir dessas construções sociais.

 

É verdade que expôr quem a gente é pode ser perigoso em muitos espaços. Mas o ponto é que, a estética vai deixando de ser expressão da identidade para se tornar moeda de acesso.

 

Somos quem somos ou quem eles querem que sejamos?

 

Foucault já avisava que o poder não está só nas leis ou nos governos, ele se infiltra no dia a dia, disciplina corpos, regula desejos, molda condutas. Inclusive, a sua.

 

Por isso, não esqueça nunca que o padrão de beleza que você segue não é uma moda cultural, mas sim um instrumento para te disciplinar e manter seu corpo dentro de ‘’limites aceitáveis’’ para ser útil ou desejável.

 

Vai dizer que você nunca se pegou nesse jogo?

 

Aquela roupa que só usou porque queria que fulano notasse.

Aquele acessório que comprou porque “todo mundo tem”.

Ou aquele lugar que nem era tão legal assim, mas estava no hype do momento.

 

Pois é, meu bem. Não foi só escolha, foi performance social (clique aqui).

 

E isso é fichinha perto do buraco mais fundo que transforma a aparência em mercadoria. Pois é, meu bem. O capitalismo é o gênio do marketing. Ele cria insegurança e depois vende a solução com cremes, procedimentos, cirurgias, remédios, filtros de celular. O combo completo.

 

A consequência disso? Vai sendo definido na sociedade quem merece ocupar tal espaço, quem tem o direito a aparecer e a ser ouvido (ou você acha que todo mundo tem tempo, dinheiro e energia para corresponder a essa lógica?).

 

O problema é que isso não mexe apenas com o ramo da estética, estamos falando de estruturas fortíssimas, pois os padrões de beleza reforçam racismo, sexismo, gordofobia, LGBTfobia e capacitismo, tornando alguns corpos naturalmente mais “aceitáveis” e outros, invisíveis ou indesejáveis.

 

Você acha que não?


Com quantas pessoas com deficiência você já transou?

E pessoas trans, na sua cabeça, são gente ou fetiche exótico?

Mas reforçar a cultura que infantiliza mulheres exigindo corpos “lisos”, disso eu sei que você já defendeu em alguma rodinha por aí.

 

Mas se todo o dinheiro gasto para parecer mais ‘’bonita’’ ainda não funcionou, fique tranquila, pois nas redes sociais você ainda pode performar. O feed bonito, a selfie filtrada, o corpo performático viraram espécie de passe de entrada para a validação coletiva.

 

O problema disso? Quanto mais ela é vendida como ‘’acessível’’, mais ela escapa como horizonte inalcançável. Sempre tem “aquela” parte do corpo que você já pensou em resolver na faca, no laser ou na dermato.

 

E se enquanto lê, você pensou que o peso disso recai majoritariamente sobre as mulheres, que historicamente já são ensinadas a submeter seus corpos ao olhar e à aprovação alheia, você pensou certo. Mas não se engane, pois eu to sabendo que cada vez mais homens e pessoas não binárias estão entrando nessa roda-viva. Afinal, nada nem ninguém escapa do capitalismo.

 

As vezes fico me perguntando com o que seria investido aquele tempo, energia e dinheiro gastos tentando atender ao padrão que a ditadura da beleza impõe. O que não se fala (ou se pensa) sobre isso é que todo esse gasto de recursos (que como eu disse antes, a imensa maioria de nós não tem) funciona como um mecanismo de controle. Que é essencialmente político e econômico.

 

A real pra mim é que no dia a dia, quando todo mundo está uniformizado com a paleta da estação, com o acessório do momento, consumindo o que todo mundo consome, fica difícil sustentar a ideia de que beleza é só uma questão individual ou de “livre escolha”.

 

No fim das contas, o espelho não devolve só a nossa imagem. Devolve também o reflexo de um sistema inteiro que nos ensina o que desejar e o que consumir.

 

E você? Sua beleza é quem você é ou a moeda que compra aceitação?

 

1 comentário

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beni
13 de out.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Excelente

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