*Deise Natividade
Se você me encontrar por aí, certamente não vai achar um girassol pregado em minha roupa, tal como faz o cantor Falcão. Mas, não tenho dúvidas que você encontrou diversas pessoas usando o rosa devido à estreia do filme Barbie. Já é de conhecimento popular que a produção de Greta Gerwing não é nada infantil, porém ainda assim é comum o questionamento: você vai conferir este filme? Você vai usar rosa?
Bem, sou a favor da intelectualidade. Todavia, seria hipocrisia não reconhecer que a onda Pink revela o que somos na essência: bregas e nostálgicos. Uma consulta rápida ao dicionário nos leva a pelo menos duas significações. A primeira diz que brega é aquele (a) que se apresenta de forma desapropriada, tendo em conta a opinião de quem critica. Já a segunda acepção afirma que um comportamento brega envolve exagero de sentimentos. Então, vamos lá? Quantas vezes você não se importou com as críticas e foi lá e fez justamente o contrário? Consegue enumerar às vezes que não lhe coube ser simplista e você exagerou? Por isso, repito: somos bregas! E momentos de nostalgia comprovam isso.
Ao relembrarmos certos fatos, não nos rendemos só a tristeza e melancolia. Recolhemos o nosso passado e o ressignificamos com a ajuda da breguice. E fazemos isso quantas vezes for preciso, afinal, somos pertencentes há uma era que já foi educada musicalmente por Rita Lee. Não nos provoque. É cor de rosa choque.
Foi comum nas salas de cinema encontrar muitas mulheres, que na infância não tiveram uma Barbie, ressignificar o seu passado carente, cercando-se do rosa. Já outras, nunca pertenceram ao “padrão-Barbie”, mas estavam na estreia com seu Black Power e com muitos detalhes Pink. Homens também estavam presentes usando rosa nos seus mais diversos tons, afinal ainda há quem estigmatiza cores?
Lembro-me de uma entrevista com o cantor Falcão, na qual afirmou: “Se não fosse o brega, o Brasil tava é lascado.” E sabe? Concordo com a frase do artista, por isso, acredito que não é apenas “modinha.” A cafonice neutraliza as dores. O filme Barbie trouxe discursos necessários em relação ao “ser mulher”, justamente em uma semana em que o anuário de segurança revelou que na Bahia os casos de estrupo e estrupo de vulnerável aumentou 17,1%. Portanto, o uso de uma cor vibrante conferiu não só um gracejo brega, mas deu visibilidade a uma pauta importante.
Vestir-se de rosa para uma sessão de cinema não faz alguém menos intelectual. Há tantas pessoas com diploma de mestrado e doutorado que envergonham o seu próprio caminho. E nem quero alongar essa prosa citando certos corredores em Brasília. Acredito que João Gomes, Tayrone, Gaby Amarantos e Joelma (Isso é Calypsoooooooo) são necessários, assim como o movimento “Barbie-Pink”. Se você teme assumir a identidade de “Bregas e nostálgicos” peço que pense nas suas histórias com o amor e depois me conte por que uma coisa eu sei:
“As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.”
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*Deise Natividade. Professora de língua portuguesa e cronista. Instagram: @deisedamile
Link da imagem: https://www.folhape.com.br/cultura/barbie/281583/
Nunca associei a nostalgia com breguice. É... uma boa reflexão!