Estamos na porta do São João praticamente, e muitos devem estar achando falar de folia “fevereira” nessa época algo muito fora do time. “Poxa, todo mundo comendo um amendoim, bebendo licor, e dançando forró e esse bicho vem com papo de carnaval agora? Abestado!”. É que muitos não sabem que surgiu uma novidade e justamente no período junino: a criação de um provável novo circuito, no bairro da Boca do Rio, substituindo o trajeto da Barra – Ondina. Opa, aí sim cabe alguma discussão. E festa é festa, seja uma animação ou outra estamos no período de festejos, então o texto está nos conformes.
Durante a inauguração de uma obra, o prefeito Bruno Reis admitiu a possibilidade dessa mudança ocorrer já em 2023. O CONCAR – Conselho do Carnaval – se reunirá para aprontar um projeto que viabilize esse deslocamento. Ao que tudo indica, a concentração dos trios e início do circuito se localizaria nas proximidades do Centro de Convenções municipal e finalizando nas cercanias do SESC Piatã. Um percurso e tanto!
O circuito Dodô (Barra – Ondina) concentraria fanfarras e batuques, segundo o presidente do Conselho carnavalesco Joaquim Nery. A motivação seria ampliação da festa e esgotamento do espaço urbano na Barra. O prefeito também autorizou desapropriações nesse possível novo local, na intenção de requalificar a Orla. Mas aí surge um alento: o fortalecimento do circuito Osmar, do Campo Grande à Praça Castro Alves.
O jornal Correio da Bahia realizou uma enquete provocando os leitores a opinarem sobre o assunto. 72% foram contra a mudança, e 28% a favor do novo circuito. A ideia é muito incipiente, não há sinal de audiência pública marcada, a Câmara de Vereadores não abraçou ainda o debate, os artistas não se pronunciaram, e nem sabemos se o Conselho vai recomendá-la. Mas dá pra avaliar algumas questões.
Há 30 anos, ninguém tinha certeza que o circuito Barra – Ondina seria um case de sucesso. O carnaval da Avenida Sete foi soberano durante décadas e hoje em dia só se fala no seu “falecimento” como roteiro tradicional. Ascensão e queda são dois lados da mesma moeda, portanto, nada dura pra sempre, ainda mais falando de eventos que acompanham as transformações sociais e geracionais. Renovações e transições fazem parte e depois de um tempo sempre se espera que algo que tenha longa duração se modifique.
A transferência envolve o desfile dos trios apenas. Ou seja, os dois circuitos tradicionais seriam esvaziados por completo desses veículos. Falo isso porque o tal fortalecimento do circuito da Avenida Sete não está claro, nem é o cerne das tratativas. Não daria nem pra dizer que estaria havendo um apartamento de público por classes sociais. É mais uma divisão por gosto cultural. Por enquanto! Como bairro nobre, os moradores da Barra estariam saturados e pode estar havendo um grande lobby de gente influente daquela área para mandar os trios pra longe. A questão é que a área da Boca do Rio é popular e muita gente teria que conviver com altos decibéis, sem condições de deixar o bairro para outros imóveis – como fazem muitos moradores da Barra que alugam seus apartamentos. Quanto à logística, é cedo pra comentar qualquer coisa.
Pode não rolar essa mudança por agora, mas isso vai render. Depois de dois anos sem folia, os proveitos para pensar novas configurações acontecem mesmo. Não sou a favor, nem contra. No entanto, o esvaziamento da atual área carnavalesca está em curso. Como não tem cabimento uma manifestação popular protestando um assunto desse, cabe a nós nos adaptarmos. Nosso carnaval já teve desfile de clubes carnavalescos, escola de samba, blocos de índio, e tudo se findou. O trio resiste. Se essa mudança vai contribuir pra sua continuação como destaque maior, saberemos.
IMAGEM: Bnews
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