Para ler ao som de "Je Suis Malade", com Lara Fabian
Como ondas vagarosas e hipnotizantes, chegou até mim um perfume adocicado. Marcante, daqueles que para usar é preciso autenticidade. Já sabia que por ali você havia chegado. Não a vi, mas sabia que já estavas, era sábado e naquele mar azul você mergulharia daqui a alguns instantes para com seu canto de sereia atrair, encantar e enebriar quem ali estava.
Maria Rita, sua “ídola”, é quem sempre está em sua performance de abertura. Você passeia pelas mulheres dilacerantes da música popular brasileira e algumas outras estrangeiras. Com elas você cresce naquele palco-mar como uma boa sereia em sedução a todos ali presentes. Seus gestos são exatos, por vezes marcados pela intensidade de quem transborda e orquestra àqueles que ali acompanham sua destreza.
Seus lábios são precisos a cada canção dublada. Há pausas dramáticas que se juntam aos seus vestidos luxuosos e performáticos. É com eles que você vai compondo seu feitiço. De saltos altos, com agudez e como bem cabe às mulheres densas e intensas, você não tem receio em magnetizar. Há algo muito perturbador, você olha nos olhos da sua plateia, você atinge com o seu verde mar, radiografando a cada um presente, captando suas energias, percebendo a sintonia ou não.
E tantas já foram as vezes em que você, ao perceber alguém que destoava ou desrespeitava, parou, olhou, falou, assinalou ou criticou. Nessas horas uma leoa ruge com impetuosidade. Você não tem receio de defender seu espaço, de retirar aqueles que maculam o que você pensa e é. E não somente por você, mas por qualquer uma das que sobem naquele palco e também em respeito àquele lugar mar azul, cena de tanta verdade, beleza, paixões, gargalhadas e vida.
Agora você dubla uma canção de uma cantora sertaneja. É muita dor de amor, sofrimentos, desilusões. Penso como você consegue, música após música, interpretar tantas dores de amor. E nessas horas nós cantamos com você, dançamos agarrados com alguém, sofremos juntos. Ver você no palco lembra aquela música que Ana Carolina fez para Maria Bethânia, Dadivosa. Você é diva, sabe disso e carimba isso em todos. Você age como uma: na elegância, na discrição, mas também no espanto de ser tão próxima: “Minha garganta está seca, preciso de uma gelada”, clama você por uma cerveja no microfone.
Educada, fala com todos, ri, esvai-se daqueles que já estão um pouco mais altos na bebida com fineza. Você não destrata, mas também não se abre tão fácil. Você é seletiva e com quem confia e conhece, ri alto, senta-se a mesa, tira sarro, brinca, descontrai. Em poucas horas da madrugada do domingo você passeia pelo imaginário de muitos, atende a pedidos, mas jamais faz o que não está de acordo com o que acredita, como bem cabe a uma diva.
E mesmo quando você divide o palco é cuidadosa e humorada, rápida nas tiradas. Sabe acolher, interagir. Para quem te olha de cá, você está sempre disposta, inteira e atuante. Age como profissional, respeita a todos presentes e demostra interesse pelos presentes. Na escolha das canções age com acuidade. As versões “ao vivo” fazem você sair do palco aclamada com palmas e uivos. E você sai plena, exibindo-se como uma estrela que ali estar para brilhar. Ouve-se Se Acabó, com Vikki Carr, finda-se. O salão, antes transbordando de gente, agora está vazio, em breve você passará por nós com seu inebriante perfume. É hora de você relaxar, conversar e rir, mas sem jamais deixar de ser dadivosa e penetrarmos com seus olhos verde mar.
,☺️
Ler esse texto me deu uma vontade louca de assistir Bia Mathieu!