FUTEBOL BRASILEIRO DOMINA O MUNDO DE NOVO
- Jacqueline Gama

- 21 de jun.
- 6 min de leitura

A primeira disputa na fase de grupos entre times brasileiros e europeus já está marcada na história da primeira edição da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, do ano de 2025. Os amantes do futebol desfrutaram de confrontos inéditos, nos EUA, sede da competição. Para a surpresa de alguns e muito orgulho de outros, os representantes brasileiros bateram os europeus no primeiro enfretamento contra eles, dentro das suas respectivas chaves.
Jogos de espantar europeu
Vimos um Palmeiras que dominou o Porto. Apesar do ingrato zero a zero, o paulista teve mais domínio de bola que o português, assim como um maior número de finalizações e de grandes chances ao gol. O amplo domínio de atuação se repetiu também no jogo entre Fluminense e Borussia Dortmund, o alemão também foi amassado pelo tricolor carioca, porém o confronto também terminou em empate.
Mesmo com o amplo domínio brasileiro, a mídia esportiva desde o sorteio de grupos já cantava vitória para o Borussia, e ficou embasbacada com a atuação do Flu. Já no caso do Verdão, muitos tentaram descreditar a atuação pela falta do gol do time escalado por Abel Ferreira, chamaram até o Porto de pior time dos últimos 30 anos e o campeonato português de fraco, o que escancara a nossa chaga colonial. Antes do jogo não era a liga portuguesa mais poderosa do que a brasileira?!
A cereja do bolo entre Brasil e Europa estava por vir quando Botafogo, Campeão da Libertadores da América de 2024, enfrentou o Paris Saint-Germain (PSG), campeão da Champions League de 2024/2025. Para a maioria dos comentaristas esportivos, o brasileiro já estava nas cordas antes mesmo do enfrentamento. Fato é que esta atitude demostrou um rebaixamento do nosso futebol ou uma superestimação dos europeus vindo de parte da mídia esportiva brasileira e dos próprios brasileiros.
No caso do Glorioso, apesar de ter mudado seu estilo de jogo para enfrentar o suposto imbatível, a missão foi super bem-sucedida. Com uma bola e a estrela de Igor Jesus, o alvinegro carioca decidiu o jogo que terminou em 1x0. Se fosse o intercontinental do final do ano vinha taça para o Brasil. As críticas para rebaixar o time cujo ídolo mor é Garrincha, foram as de que o PSG estava com cinco reservas. Porém vale ressaltar que estes reservas poderiam ser titulares no Botafogo. O feito do Fogão foi gigantesco pra espantar europeu.
Encerrando com chave de ouro, o Clube de Regatas Flamengo enfrentou na frente da sua majoritária torcida, aquele que seria até então o seu maior desafio da temporada, o Chelsea. Com o DNA de vencedor, e o estilo de jogo que o flamenguista gosta, atacando e sem medo. Além do dedo tático do ídolo da Nação Rubro-Negra, o jovem técnico Filipe Luís. O Flamengo emocionou com uma virada colossal, em 3 minutos, que lembrou a final histórica da Libertadores de 2019.
O Mengão de Zico, colocou mais uma vez os ingleses na roda, e se não foi 3X0 como no mundial de 1981, foi 3X1 com direito a gol dos veteranos, Bruno Henrique e Danilo, além do menino da base, Wallace Yan. Ressalto a atuação de gala do lateral esquerdo Wesley, que fez do erro que levou ao gol do time inglês, superação, inclusive travando uma bola que daria os dois a zero para aquele leva o nome de um bairro de Londres. Esta é uma virada que nunca será esquecida pelos torcedores do Flamengo e por muitos brasileiros que estavam acompanhando o jogo.
Mídia colonialista e a grandeza do futebol nacional
Diversos jornalistas e torcedores brasileiros desacreditavam nos clubes os quais disputam o Brasileirão. Os últimos campeões continentais: Palmeiras (2021), Flamengo (2022), Fluminense (2023) e Botafogo (2024), poderiam superar gigantes do futebol europeu?! Isto porque desde 2012, com o título do Corinthians em cima do Chelsea, um brasileiro não batia um europeu em uma competição Mundial entre Clubes.
O alto investimento dos times europeus em jogadores, inclusive são eles que retiram as joias sul-americanas do continente com um caminhão de dinheiro, é a maior justificativa para o desdém aos times nacionais, tanto da mídia interna quanto externa. Porém, esquecemos que a raça é o que domina a bola no continente, inclusive faço menção ao nossos hermanos Boca Juniors que empatou com o português Benfica na primeira rodada.
Outro fator preponderante para o sucesso dos jogadores que atuam no Brasil é o fato país reservar grandes desafios que moldam a mentalidade, exigindo uma maior adaptação às adversidades: campos de futebol esburacados, calor excessivo, gramados encharcados na chuva, arbitragens duvidosas, um VAR que não é semiautomático, viagens longas, jogos na altitude para aqueles que disputam as copas do continente, Libertadores e Sul-americana, além de um calendário extenso com estaduais, Copa do Brasil e copas regionais (caso da Copa do Nordeste e Copa Verde), além da liga nacional – o Brasileirão.
Uma das justificativas que parte da mídia tentou encontrar para o mau desempenho do futebol dos europeu sobre os dos sul-americanos é que estes chegaram ao mundial de clubes em final de temporada. Porém isto cai por terra quando se sabe que entre junho de 2024 e junho de 2025 o Real Madrid, europeu que mais jogou, fez 67 partidas, enquanto, no mesmo período o Flamengo, brasileiro que mais jogou, fez 77 jogos, porém a média europeia gira em torno de 50 e poucos jogos enquanto a brasileira de 70 e poucos.
A desculpa de fim de temporada se agrava, pois, nos últimos intercontinentais os times brasileiros campeões da América chegaram no final estafados e sofreram críticas da mídia brasileira que não admitiam o cansaço dos jogadores. Nas últimas edições Flamengo, Palmeiras e Botafogo sequer chegaram a enfrentar o campeão europeu, porque até nisso eles tem privilégio, e disputam apenas o último jogo. Diferente dos campeões da Libertadores que ainda passam por um enfrentamento antes da grande final. Já o Fluminense, o único que chegou na final nestes últimos 4 anos, sofreu uma goleada do City, em 2023.
Outra desculpa dos jornalistas esportivos e dos próprios europeus foi o calor dos EUA. É claro que mudanças de temperatura influenciam no desafio em campo, mas aqui no Brasil se joga até no calor de 38ºC como aconteceu no campeonato carioca no ano de 2025. A parada técnica para hidratação até poucos anos atrás não existia. Então, não tem desculpa, quem tem raça, joga até o fim, faça chuva ou sol.
Fato é que os europeus estão acostumados com boas estruturas e a serem paparicados. Além disso, parte da mídia ama babar europeu, nesta coisa que chamamos popularmente de complexo de vira-lata ou viralatismo. Os cachorros vira-latas com certeza ficariam irados se soubessem da expressão já que são os mais discriminados e os que mais lutam para sobreviver, pensando que são a maioria da população canina nas ruas.
Então, brasileiro tem que ter muito orgulho do seu futebol e não baixar a cabeça. Dinheiro nunca comprou título, se fosse assim todas os times que são SAFS ou que tiveram altos investimentos estariam no topo e esta não é a verdade, principalmente a nível nacional.
Também existe a desculpa de que os times europeus não estariam levando a sério, se fosse assim o PSG não teria feito 4x0 no Atlético de Madrid, por exemplo. Além disso a premiação final chega a um bilhão de dólares. Então, se os europeus desdenham da competição ou respeitam apenas outro europeu, continuarão a se surpreender com os sul-americanos. Não é atoa que os maiores jogadores do mundo são Pelé e Maradona, um brasileiro e o outro argentino.
Futebol é jogado, temos um exemplo caseiro que é a Copa do Brasil, times de segunda, terceira e até quarta divisão conseguem superar os times da elite brasileira. Não é a regra, mas mostra que com vontade, disciplina e concentração, nada é impossível. E o futebol é um esporte que não tem justiça nem privilégio.
Além disso, digo sempre quando falo de esporte, não só do futebol, é preciso investimento nos modalidades nacionais. Sempre que há uma competição entre nações, muitos se espantam com o sucesso dos brasileiros. Imagina se colocar centros de treinamento e escolinhas nas comunidades? Além disso, esporte não é só sobre vencer. É sobre amizade, companheirismo, cooperação, superação, disciplina e autoconfiança. O esporte educa e tem potencial para retirar vários jovens de situações de vulnerabilidade, além de revelar novos talentos que inspiram. Quantos atletas de alto nível estão perdidos por aí?!
Imagem de capa: colagem autoral Jacqueline Gama



Falou tudo,Jac! Penso semelhante.