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Foto do escritorEquipe Soteroprosa

Lady Susan - a psicopata de Jane Austen?

“Sinto-me, na verdade, afrontada pelo ardil dessa mulher inescrupulosa.” (Sra Vernon)


Você já teve o desprazer de cruzar com uma pessoa manipuladora em seu caminho? Alguém aparentemente tão inocente e honesta, um caráter acima de qualquer suspeita, que conseguiu te levar a fazer exatamente o que ela queria, sem você perceber, e só se deu conta após um bom tempo das suas estratégias e intenções?

Pois bem, esse tipo de personalidade existe mais do que você imagina e não precisa ser nenhum serial killer parar causar danos emocionais enormes no outro.


Falando nisso, hoje trago uma dica de livro nessa temática para animar minha coluna que estava um tanto quanto parada, leitores querides. Na verdade, acredito que em dois anos escrevendo aqui, nunca me arvorei a fazê-lo, mas este livro me instigou tanto, que não pude evitar.


Sou uma leitora ávida da obra de Jane Austen. Tenho quase todos seus livros. Há um tempo atrás era o presente que dava a mim mesma a cada aniversário: um livro de Jane por ano.


Tudo começou com Orgulho e Preconceito. Ou devo dizer, tudo começou com Mensagem pra você? Na verdade, meu interesse por Jane se iniciou ao assistir a comédia romântica estrelada por Meg Ryan e Tom Hanks, e seus primórdios do amor virtual.


No filme de 1998, a personagem de Meg (Kathleen) é dona de uma pequena livraria em Nova Iorque e, ao longo do enredo, nas suas trocas de e-mail com Joe, menciona o livro de Jane e seus protagonistas: Elizabeth e Darcy.


Gostava tanto do filme, que logo tratei de achar um exemplar do tal livro na biblioteca da faculdade e o devorei em poucos dias. Daí por diante foi um apaixonamento atrás do outro pelos principais romances da escritora inglesa. Meus favoritos são Persuasão e Emma.


Bom, falei bastante de como cheguei à Austen, mas o ponto de hoje é a grata surpresa que tive quando li recentemente o seu romance epistolar: Lady Susan.


Nem tinha conhecimento deste escrito, o qual estudiosos acreditam ter sido produzido entre os anos de 1793 e 1794, quando a escritora estava nos últimos anos da sua adolescência. Talvez isso explique o fato da protagonista ser tão diferente de Elizabeth, Anne, Emma, Marianne e Elinor, Fanny, Catherine, principais heroínas de Jane.


Na verdade, não posso chamar Lady Susan Vernon de heroína, nem sei se caberia o termo anti-heroína, mas também não sei se Austen a classificaria como vilã, apesar de suas características me fazerem pensar dessa forma.


Susan Vernon é uma bela e inteligente viúva na casa dos 30 - a famosa coquete - que tem uma filha adolescente e almeja um novo matrimônio, com alguém bem apessoado e de posses, como diriam as pessoas da época. Traduzindo para a linguagem atual: um cara bonito e cheio da grana. Além disso, quer um noivo para sua filha Frederica, à quem aparentemente nunca dedicou cuidados ou afeto.


A trama gira em torno das suas artimanhas muito bem arquitetadas e dos efeitos que estas vão provocando na vida de parentes, amigos e vítimas, ouso dizer.


Jane escreveu o curto romance, que conta com apenas 139 páginas, inteiramente através de cartas, feitas a partir da visão de cada personagem e da reação desta à carta da outra, e assim sucessivamente, até o desfecho com sua conclusão.


Penso ter sido um formato bem desafiador para Austen, pois não há espaço para seus diálogos perspicazes e divertidos de costume. O que não faz dele nada enfadonho, leitores. Pelo contrário, não conseguia parar de ler para saber quais seriam as respostas e fatos narrados a seguir. A escrita das personagens, que também não têm a mínima ideia do que irá acontecer (com exceção da ardilosa Susan, mas que também é pega de surpresa em algum momento), proporciona isso a quem está lendo.


Enquanto corria meus olhos pelas linhas do pequeno livro, fui percebendo as características de personalidade antissocial (psicopatia) surgindo aos poucos: falta de empatia, manipulação, sedução, nenhuma presença de remorso, sempre enredando o outro com justificativas e até colocando a culpa neste. A autoconfiança, arrogância e charme da Lady também ficam nítidos ao longo da obra.


Outro ponto bem importante para que eu pense em psicopatia é o prazer em seduzir, de conquistar, seja para atingir seus objetivos ou apenas para demonstrar que pode fazê-lo e depois descartar aquela pessoa.


Pessoas que tem um transtorno de personalidade antissocial (TPAS) apresentam esses e outros sintomas, podendo atingir diferentes graus de perversidade. Como mencionei no início do meu ensaio não são necessariamente psicopatas de uma gravidade criminal, como os assassinos em série.


Alguns indivíduos possuem esses traços de uma forma mais amena, mas que não deixam de causar estragos em quem está no seu entorno, principalmente emocionais. 

Não sei se Austen tinha ideia formada sobre essa configuração psicológica há tanto tempo atrás, onde ainda não haviam muitas descobertas sobre a mente humana, mas ela dá um banho de sagacidade, conseguindo demonstrar a personalidade dessa mulher e seus “feitos” de forma tão clara, apesar de só ter cartas como testemunha para o leitor.


É um livro pouco conhecido e valorizado, diante de seus seis romances mais famosos e levou bastante tempo para ser publicado, somente em 1871. E Susan, apesar de diversa, em nada perde para as outras mulheres de Jane em entretenimento e reflexão.


Sinto que tenha somente um defeito que eu deva alertar a vocês: é curto demais! Eu queria saber mais sobre como foi o primeiro casamento de Lady Susan, sua maternidade e acontecimentos anteriores que a levaram até aquele momento na casa dos Vernon. Tirando isso, recomendo muito a leitura. Fez da minha coleção de Jane ainda mais rica.

E então, será que você tem ou já teve uma/um Lady Susan por perto? 


Link da imagem: https://www.mprnews.org/story/2016/05/27/movie-love-and-friendship

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