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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

Nos tornamos um bando de Homer Simpson?



Certa vez, o apresentador do Jornal Nacional Willian Bonner referiu-se ao expectador do noticiário da Globo como “um Homer Simpson”. Ele mesmo, aquele do desenho animado. Bonner descartava pautas informativas mais complexas afirmando aos colegas de edição que “essa matéria, Homer não vai entender”. Saiu uma reportagem na revista Carta Capital sobre isso, já que o jornalista teria feito tal comparação a um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e foi o maior bafafá. Ele se explicou dizendo que Homer “é um trabalhador que chega cansado e quer assistir seu jornal com fatos relevantes de forma clara e objetiva”. Esse fato ocorreu tem anos, em 2005! Mas por que estou retomando isso 17 anos depois?


Bom, “Os Simpsons” estreou na TV nos anos 1990, um desenho que detalhava uma típica família norte-americana, satirizando aspectos da cultura estadunidense (bem menos que o ultra escrachado “South Park”, lançado anos depois, outro enorme sucesso; ou o irreverente “Uma Família da Pesada”, uma avacalhação). O patriarca é Homer Simpson, um sujeito acima do peso, trapalhão, que se irrita com coisas bobas, se diverte bebendo, trabalha numa usina nuclear cuja função é apertar um botão, e é obcecado por TV. Personagem divertido, mas o que podemos inferir sobre ele ser o cidadão médio que assiste jornal? Dá pra ter alguns entendimentos sobre expectador de jornal ser um Homer da vida. Lembrando que esse personagem pode ser de qualquer gênero e que estou propondo um exercício de análise.


Primeiro, que é um sujeito manipulado. Quando uma reportagem vem “mastigada” para o receptor, ele só faz digerir. Era o que Bonner sugeria quando a notícia vinha “clara e objetiva”. Tudo já vinha pronto e empacotado, um ifood informativo. Como questionar algo que já está esclarecido? Vale dizer que boa parte dos trabalhadores realmente não almejam ter naquele momento um desgaste reflexivo, depois de passar o dia de cabeça cheia com trânsito, queixas, impropérios, dívidas e demais transtornos... E aí ele pode absorver qualquer pauta. Sem pestanejar.


Segundo, ele é perplexo. Se emociona, fica impressionado, afeta-se com os horrores e as virtudes da humanidade. Tem o emocional ligado e nutre uma perspectiva passional sobre o que assiste. Pode se irritar com pautas políticas delicadas, como corrupção (normal até) e opinar sobre essas questões sob um ponto de vista devotado.


O terceiro tipo, pode ser a soma dos dois anteriores, ou um sujeito mais turrão, o convicto. Ele tem um ideário pré-formado, e o noticiário confirma suas razões. Com o advento das plataformas digitais e redes sociais, ele mesmo projeta o seu pacote sobre o que vai seguir. Por minha intuição, esse é o Homer clássico: um sujeito mentalmente preguiçoso, limitado em seu parecer temático (geralmente utiliza chavões. “não voto em fulano porque é ladrão”, “beltrano é herói porque prendeu fulano”, “cicrano é ético porque nunca roubou”) e terceiriza seu raciocínio através de um analista (leia-se youtuber, mas pode ser uma revista, um jornal, uma rádio que virou TV... ele quer concordar, como uma forma de prazer), simbolizando um seguimento social e dizendo “amém” a tudo que ele diz (ou até o sujeito mudar o tom e fazer críticas, o que o irrita, se desconectando dele, visto que não mais o satisfaz na busca de uma concordância plena). Esse pode não ser o Homer genuíno do desenho, mas uma construção personificada, baseada na polêmica de Bonner.


Ainda creio que boa parte de nossa população se encaixa no primeiro tipo, não tem um arcabouço muito sólido para avaliar profundamente os ventos políticos que estão soprando perigosamente no horizonte (às vezes, não tem noção do perigo por não acompanhar mesmo o que se desenrola). São indivíduos que pegam no batente diariamente, precisam de algo mais leve para aquietar a mente e esperam a sexta-feira chegar. Geralmente tem uma base mais instintiva pra formalizar as mudanças do qual ele precisa, e não o coletivo. O que não quer dizer possa ser questionador, em algum ponto.


Já o terceiro tipo é bem numeroso, engajado, ruidoso, e certo de que é um intelectual de alta linhagem. Já pensaram que esse bando pode decidir eleições?


FONTE:





IMAGEM: TNH1







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