
Nos últimos anos, a indústria cinematográfica brasileira tem mostrado sinais de recuperação e crescimento, desafiando a ideia de que não existe interesse em produções nacionais. Embora os números ainda não tenham se igualado aos níveis anteriores à pandemia, o mercado nacional tem demonstrado um avanço contínuo, com um aumento significativo na produção e no consumo de filmes brasileiros. Em 2024, filmes brasileiros representaram 30% dos ingressos vendidos entre as 10 produções mais assistidas, marcando um importante passo na retomada da indústria.
Tradicionalmente, o gênero de comédia dominou as preferências dos brasileiros, representando 57% dos ingressos vendidos em 2024. No entanto, há um movimento crescente em direção a outros gêneros, como o drama, que vem ganhando espaço e representando 36% das vendas. Isso indica uma diversificação no gosto do público, que está mais aberto a diferentes narrativas e estilos de filmes.
Um exemplo recente dessa transformação é o sucesso da tão aguardada pré-estreia do filme de gênero dramático de Walter Salles. “Ainda Estou Aqui” foi lançado no icônico Cinema Glauber Rocha, em Salvador, no início de setembro deste ano. O filme, que deve chegar às salas de exibição de todo o país em novembro de 2024, foi recebido com grande entusiasmo pelo público, que lotou todas as sessões disponibilizadas. A exibição reafirmou o papel essencial do Cinema Glauber Rocha, um dos poucos cinemas de rua remanescentes no Brasil, na formação de público e na defesa do cinema brasileiro. O Glauber Rocha continua a ser um espaço vital para a promoção de produções nacionais e para a manutenção de uma conexão autêntica entre o público e o cinema nacional.
Esses dados abordados e as tendências aqui apresentadas abrem espaço para iniciarmos uma discussão sobre a importância das cotas de exibição. Defender cotas de exibição para filmes nacionais em cinemas comerciais não é ser paternalista ou assistencialista; é compreender que se trata de uma etapa importante no processo de industrialização e fortalecimento econômico e cultural do país. Pois, além de garantir que filmes brasileiros tenham espaço nas salas de cinema dentro do próprio território de produção, permite que as histórias locais sejam contadas e vistas pelo público.
Nesse momento, é fundamental que os exibidores reconheçam o valor das narrativas locais e a crescente demanda do público por essas histórias. Ao abraçar as cotas de exibição e ir além, dando mais espaço para que produções nacionais sejam exibidas, não se contribui apenas para a diversidade cultural; também se forma um mercado mais robusto para o consumo de cinema brasileiro.
Além das cotas de exibição, é crucial que as iniciativas para a educação cinematográfica sejam ampliadas. Programas que incentivem a formação de novos cineastas e profissionais da indústria garantem que a diversidade de vozes continue a enriquecer o cinema brasileiro. Ao cultivar talentos locais e oferecer espaço para novas narrativas, estaremos não apenas preservando a história cultural do Brasil, mas também preparando o terreno para inovações que possam surpreender e encantar o público.
As políticas culturais estão aí para incentivar a indústria. Elas também contribuem para o surgimento de uma nova geração de espectadores que reconhecem e valorizam as produções locais. Entretanto, a continuidade desse crescimento dependerá do compromisso contínuo com a qualidade e a diversidade das narrativas, e do apoio governamental para garantir que o cinema brasileiro não apenas sobreviva, mas prospere no cenário global.
O que a longo prazo deverá se traduzir em fortalecimento da indústria cinematográfica, que garantirá um futuro sustentável, onde o cinema brasileiro possa não apenas florescer enquanto potência criativa, mas também se tornar um motor econômico para o país. É fundamental desenvolver uma indústria robusta que resista à concorrência externa e conquiste o público em nossas terras tupiniquins. O objetivo central deve ser tornar essa indústria autossustentável, geradora de receita e criadora de empregos, que não dependa exclusivamente de políticas culturais.
Assim, ao nutrir nossa própria narrativa, o Brasil se fortalece, com a arte e o cinema como chaves para soluções, e não como problemas. Essa é a essência do Cinema Nacional Brasileiro.
Ilustração: Mirian Hapuque
Muito bom!