Nem todo mundo ficou sabendo dessa: um coronel da PM do Distrito Federal, Jorge Naime, foi preso após os atos do 8 de janeiro de 2023, quando um rebanho de baderneiros arrebentou as sedes dos Três Poderes em Brasília. Ele era chefe do Departamento de Operações da polícia na época, porém, estava de licença no período da quebradeira, e foi acusado de omissão pela Procuradoria Geral da República. No período que esteve detido, teve seu salário congelado. Em setembro de 2023, sua esposa solicitou doações via pix, através da redes sociais, alegando dificuldades financeiras, no que foi atendida. Tudo isso poderia passar batido, se não fosse a notícia de que esse mesmo casal “em dificuldades” estivesse reformando a piscina de sua luxuosa mansão. E que esse mesmo coronel teria recebido 50 mil reais através da conta da esposa entre março de 2022 e fevereiro de 2023, sem identificação de origem da instituição financeira. Desnecessário dizer também que ele utilizou equipamentos da polícia para transportar 1 milhão de reais, destinados a um sócio da cônjuge. Um sujeito enrolado, mas para segmentos da nossa população, um “cidadão de bem”.
No mesmo período, recebi uma foto de uma placa fixada numa rua de Brusque, Santa Catarina, com os seguintes dizeres: “Não dê esmolas, ajude a criar oportunidades”. É uma frase linda, impulsiona o empreendedorismo, e o desejo de crescimento alheio. Mas peraí, carai... O que tem a ver o caso do coronel com essa placa? Nossa cara de pau!
Já faço uma pergunta retórica: se dar esmolas desestimula alguém a trabalhar e construir seu patrimônio, por que devemos passar pix pra um servidor público de alta patente que mora numa casa com piscina e as porra? Vou tentar pensar o que se passa na cabeça de um patriota pra justificar isso...
O coronel é um perseguido da “ditadura de toga” que impera no Brasil; teve o salário sacanamente congelado por Xandão e sua trupe; o pix era pra ajudar o “pobre coitado” a sobreviver; e se ele resolve fazer reforma, o dinheiro que foi passado não pertence mais ao doador, então, o destinatário da bufunfa que faça o que bem quiser! Afinal, doar seu dinheiro faz parte da liberdade individual do cidadão.
O que intriga qualquer um é que quem passa pix pra parça conservador muito provavelmente não dá esmolas. Dá oportunidades, oferece a garagem bagunçada pro esmolado arrumar e ganhar seus caraminguás. Assim, o necessitado passa a trabalhar com isso e quem sabe não abre futuramente uma empresa de limpeza “garajal”? Não à toa, a “onda liberal” que varreu o país nos últimos anos queria isso: liberdade econômica, eliminação de impostos, redução do estado ao tamanho de uma ameba, oportunidade pra todo mundo trabalhar e ficar rico, cavoucar a Amazônia e tirar toda riqueza da terra e dividir, civilizar os índios que vivem lá... era muito programa bom pra virarmos uma Dinamarca!
O ex-presidente da República – conhecido pela singela alcunha “o mito” – também pediu doações pix e arrecadou uma bagatela de 17 milhões de reais! Fiquei imaginando... se ele utiliza sua imagem pra colher essas doações para repassar às vítimas do Rio Grande do Sul, poderia acumular o triplo (ou mais!) do que ganhou do remetente pixeiro que o ajudou a ficar mais milionário ainda, já que na tragédia gaúcha, as principais ajudas eram de CFPs. E pensar que “o mito” ganha aposentadoria de deputado, de militar, salário do partido... E aquele pobretão que cata lixo deve ganhar apenas “oportunidades”. Também pesquisei o salário de um coronel da PM de Brasília: cerca de 27 mil reais. Bruto. Mas como ele era chefe de operações, devia passar dos 30 mil. Sem dúvida, ele merecia ajuda, mais do que aquele bêbado enjoado que enche seu saco pra encher a cara de cachaça. E também fica chato falar pra um coronel – um coronel! – vender pamonha pra pagar seus custos judiciais, afinal, ele foi “perseguido” pela justiça. E a hierarquia que alcançou deve ser respeitada. Não pode pedir ao cara que venda seu carro, por exemplo.
De acordo com tudo isso, quem “pixia” pra bacana e não dá esmolas, possui o rosto talhado na madeira. E assim caminha nossa sociedade. E fica a dica: se algum porreta lhe pedir pix, dê uma banana. E não tô falando da fruta...
Parece uma história de novela, mas é Brasil!