Imagine que você está presa no mesmo dia, todos os dias. Ele fica se repetindo, repetindo, num looping infinito. Imaginou? Bom, é isso que acontece em O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas.
Ah, Sarah isso é aquele filme do Dia da Marmota! Como é mesmo o nome? Feitiço do Tempo! E tem também aquele outro do Tom Cruise, né? No Limite do Amanhã! De saco cheio desse tipo de filme já.
Calma! Espere um pouco você que chegou até esta resenha, não se precipite! Esse filme não é tão igual assim aos outros anteriores, de mesmo formato.
Ok, o argumento é o mesmo de início, mas pra mim ele trouxe uma lembrança deveras
importante e que, por mais que eu sempre tente ter em mente, às vezes me escapa: esteja
presente. Esteja presente, nesse momento, agora.
O Mapa foi um lembrete. Lembrete de que por vezes estamos como zumbis vivendo o nosso dia a dia num infinito automático, presas em pensamentos passados e, principalmente, futuros. Pensamentos esses que nos furtam momentos preciosos. Quando nos damos conta, já se foram. A nossa vida é construída de pequenos “agoras”. Você verá vários clichês nesse texto sim!
E eu sei que já falei disso por aqui antes (mesmo não estando num looping temporal).
Mas eu também sei - na verdade, tenho plena certeza - que, assim como eu, você esquece desse presente, não é? Você fica mais concentrada no que já foi e no que vem a seguir. Sendo que o que vem a seguir, só há de vir depois desse agora, desse atual segundo que...ops, acabou de acontecer.
Então, é por isso que escrevo novamente sobre esse tópico, de um outro jeito, claro. Afinal eu já não sou a mesma, nem você, nem as palavras colocadas aqui. Então vale a pena.
O filme me despertou, mais do que nunca, nesse momento de pandemia agravado, o quanto é necessário evocar que existe esse primoroso agora, que nunca mais retorna.
Quantas coisas simples e lindas aconteceram ontem e talvez eu e você nem tenhamos notado? O formato de uma nuvem no céu, uma brisa, um sorriso, um cheiro, uma palavra, uma música, um respirar...
São tantas por minuto que nem dá pra contar, mas a gente insiste (é bem verdade que por vezes sem querer) em não ver e seguir nosso plano, rotina automática, se apegar ao que é “importante”.
E o que é mesmo importante pra você? O que te faria falta daqui a 5, 10 anos? Pense um pouco.
Será que imaginamos, mesmo que em um lapso de tempo, que um abraço nos faria tanta falta um dia? Um beijo no rosto ao nos cumprimentarmos? Algo tão comum!
A gente fazia sem pensar, como quem abre a geladeira e pega um pouco de água pra beber, como quem escova os dentes todas as manhãs antes de ir pro trabalho.
Então eu me pergunto, o quê mais podemos estar deixando passar agora por conta de nossa urgência de futuro?
É leitora, leitor, esse é um daqueles meus textos povoados de questionamentos. Sabe porque?
Me pego abarrotada deles nesse exato instante, no qual termino de assistir a um filme aparentemente bobinho - para relaxar depois de um dia bem igual a muitos outros. Irônico, né?
Acordar, tomar café, ir pro trabalho, voltar pra casa, almoçar, aula online do filho, atendimentos online - e o quê será que eu deixei passar em meio ao meu automático?
A minha resposta foi angustiante: provavelmente muitas coisas.
Por tal motivo, não pude esperar o amanhã pra escrever esse texto (hoje é terça, quase quarta). Tive que colocar pra fora essa angústia em forma de lembrete, pois pensei que talvez ajude mais alguém nesse sentido, além de deixar mais vívido para mim.
A cada dia nossa vida passa num minuto e você pode "acordar" em algum deles e perceber que "não deu tempo". Quando na verdade você teve tempo de sobra, só que estava preocupada com outras coisas, elas lhe roubaram o foco.
Me recordo que há alguns dias tive essa sensação do tempo estar se esvaindo entre os dígitos do relógio do meu celular. Foi quando meu tio falava da casa de veraneio da família (que passou por uma reforma recente) e soltou, como quem não quer nada: "Mais pra frente vocês que vão cuidar e aproveitar de tudo isso aqui. Daqui a 20 anos você terá 50 anos..."
Ao que eu prontamente interrompi e corrigi "57 anos, meu tio, tô com 37". E rimos um pouco. E ele continuou: "Então você terá 57 anos, a idade que tenho agora, e eu não estarei mais aqui."
Respirei fundo e: "Pare de besteira, meu tio, 77 anos, você estará aqui ainda, de boa."
O baque maior veio depois, quando pensei que se daqui a 20 anos ele teria 77, e meu pai, que é um dos seus irmãos mais velhos, será que ele estará aqui? Engoli em seco e meus olhos se encheram d'água (isso se repetiu agora). Acho que ele não percebeu, pois era noite e tinha pouca luz na área da piscina. Logo depois veio o pensamento de que precisava aproveitar mais meus pais.
E penso agora escrevendo, que 20 anos é tão ilusório, a nossa idade é ilusória, porque eu poderia não estar mais aqui amanhã, e não ele.
Certo, vamos parar por aqui esse adendo. Minha intenção não foi deixar você deprê nesse domingo de sol, ou chuva, não sei. Foi pra mais uma vez te lembrar do que é importante na sua vida.
O texto era pra ser uma dica de filme, mas virou algo bem filosófico, né?
Só pra não ficar devendo à vocês, vamos à algumas informações, para além das reflexões.
O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas está disponível na Amazon Prime, é estrelado por Kathryn Newton e Kyle Allen, e baseado em um conto de Lev Grossman, publicado em 2016.
No enredo, Mark e Margaret se encontram de forma inusitada em uma anomalia temporal, ou seja, uma suposta falha que faz com que o dia se repita trocentas vezes. Os dois não entendem o porquê de somente eles notarem isso e estabelecem uma forte conexão um com o outro.
Mas não pára por aí. Os jovens decidem fazer algo muito interessante com esse “tempo livre” adquirido. Há algo um pouco mais profundo (como disse anteriormente), não é só repetição no tempo e encontrinho de casal. E o ápice da história eu deixo pra você descobrir assistindo ao filme, ok?
Por Sarah Ferraz - psicóloga
@psisarahferraz
Imagem:
https://rollingstone.uol.com.br/noticia/4-motivos-para-assistir-map-tiny-perfect-things-novo-romance-do-amazon-prime-video-lista/
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