PRA SER HOMEM TEM QUE TER A GRANDEZA DE UMA MENINA, TONY GARRIDO?
- Carlos Henrique Cardoso
- há 7 horas
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O cantor Tony Garrido protagonizou uma das polêmicas da semana. No “Altas Horas”, ele alterou um verso da canção “Girassol”, um dos grandes hits do Cidade Negra. Ao invés de “Pra ser homem tem que ter a grandeza de um menino” ele substituiu por “a grandeza de uma menina, uma mulher”. Bem, na verdade ele fez uma modificaçãozinha, não chegou a ser uma mudança registrada em cartório, nada disso. O problema é que, ao justificar a alteração, ainda no programa, ele afirmou que a parte vedada era “hétero machista top, horrível”. Olha, quem sou eu pra desfazer um dos compositores dessa música, mas convenhamos... de onde ele tirou isso???
“Girassol” foi composta por “Da Ghama, Lazão, Toni Garrido, Bino Farias, e Pedro Luís, no ano 2000, todos integrantes do Cidade Negra, com exceção do último. Sempre achei uma música alto astral, positiva, uma das melhores da banda. E a letra expressa isso: a agitação de um público ao apreciar uma atração musical que deixa todos animados, afinal, “ninguém fica na solidão”. A parte modificada pra mim é clara. Pra ser homem, tem que encarar as descobertas que a vida impõe e enfrentar aventuras - que predomina na imaginação juvenil. O homem em questão é um ser humano que deixa brotar uma flor amarela no coração, ao invés dos anseios de uma guerra, e não um prepotente que arrota masculinidades por aí. Pra mim, nunca houve nada de “hétero machismo” nessa composição, o que indica que tô mal de interpretação...
Pelo visto, Garrido estava querendo atender algum movimento ou agenda identitária, pra esboçar essa conversão. Se for, poderia criar algo do zero, em resposta a essa própria canção, como fez Gabriel, o Pensador que em 2019 compôs “Evolua”, uma nova versão do seu grande sucesso “Lôraburra”. Gabriel achou que a música original de 1993 tinha envelhecido mal. Na época, ele tinha 19 anos, e nesse período o país não tava bem, após impeachment de presidente e inflação absurda, gravando um disco metendo o pau em playboys, mulheres fúteis, e racistas. Tava “na bruxa”. Décadas depois, deu a resposta uma resposta justa. Ele não era mais aquele moleque birrento.
Lulu Santos também foi outro compositor que estava na vibe de um novo mundo ao alterar a letra de “Toda Forma de Amor” e isso lá no Acústico MTV, no ano 2000! Ao invés de “eu sou seu homem, você é minha mulher”, “eu sou seu homem, você é o que quiser”. A intenção era tornar o sucesso mais inclusivo. Anos depois, engatou romance com outro homem, se assumindo bissexual. Mais uma vez, minha compreensão artística foi pro beleléu...
Na letra dessa canção, um sujeito faz uma reflexão sobre si e sua relação. No refrão, ele aborda a boa vivência do casal, que vai a luta, conhece a dor e considera justa toda forma de amor. Ora, o título já entrega: qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá. Já é inclusiva, pô! Me parece que o termo “homem” está constantemente carregado de ofensa, desprezo, ultraje, depreciação. As letras alteradas contém essa palavra. Na música de Lulu, dizer “eu sou seu homem, você é minha mulher” pode caracterizar uma supremacia de gênero, tipo “eu sou seu homem, porra, me respeite!”. Não é o que a canção nos passa, longe disso.
Em meio há tanta letra zoada que parte da juventude anda escutando, como “senta, senta, senta” e outras descrições sexuais, onde muitas vezes há subjugação feminina envolvida, que qualquer prenúncio de um sucesso onde a figura masculina esteja presente pode repercutir “héteromachistatophorrivelmente” mal. Fico imaginando se Gonzagão estivesse vivo e fosse mais jovem. Acredito que “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor” se tornaria “Paraíba mulher forte, empoderada sim senhora”.
FONTE:
IMAGEM: Rádio Mix FM
Sim, com certeza ficaria muito melhor: "Paraíba mulher forte, empoderada sim senhora”.