Mesmo com a pouca experiência que tenho nos ambientes profissionais, passando por pouco mais que três ou quatro empresas durante a vida, assim como ouvindo os depoimentos daqueles que ousam reclamar, percebo que existe uma procura incansável por profissionais cada vez menos humanos.
E ainda que as empresas adotem o discurso verborrágico da humanização dos seus funcionários ou dos sorrisos em vitrines expostas nas redes sociais, pouco se tem interesse na real humanidade de seus colaboradores.
A lógica, por mais que pareça aterradora, permanece simples. Afinal, procura-se sempre um profissional desumanamente inalcançável, ainda que não seja assumido em alto tom. Do pouco que pude acompanhar dentre os ambientes integralmente corporativos, nota-se o repúdio por qualquer fraqueza, silenciando o desconforto através de frases engessadas em bordões motivacionais. Assim, a força daquele que não reclama, que não sente, é exaltada em medalhas como um modelo exemplar.
É isso! E a dica é simples, quer ser um bom profissional? Então deixe suas emoções de lado! Completamente de lado. Abrace seu lado desumano e esteja sempre em competição. Se quiser chorar, esconda o rosto entre os dedos e corra até o banheiro, grite sozinho e não deixe que percebam que você é humano. Afinal, Pessoas que choram são instáveis e não se pode confiar em gente com lágrimas nos olhos.
É questão de Mindset? Workflow? Mastermind?
Sim! Estar triste é pura questão de mentalidade, é coisa de preguiçoso. Se quiser ir ao banheiro, tome cuidado! O tempo que se gasta levantando da cadeira diminui o seu ritmo de produção. Para ser um bom profissional, cruze as pernas e não deixe escapar uma única gota. Não se torne refém das necessidades, do impulso e se for necessário arranque a bexiga! Arranque-a com os dentes, mas não levante da sua cadeira até o fim do expediente.
E, se por acaso, quiser reclamar ou denunciar algum assédio ocorrido dentro da instituição, pense duas vezes! Se pensar talvez em exclamar alguma insatisfação sua, apontar erros na diretoria ou sequer questionar o modelo de tratamento, pense três ou quatro vezes! É fácil, basta mentalizar a fila de desempregados que estão prontos para assumir o seu lugar. Melhor ainda! Mentalize a fila de desempregados que aceitariam piores condições com um sorriso no rosto.
É assim, a necessidade que nos mantém na falsa perspectiva de crescimento, aceitando o pior sempre pela mesma necessidade. Parece que enquanto o mundo se enfeita de discursos cada vez mais humanos, em contraponto, se buscam profissionais menos humanos. Menos direitos, mais deveres, menos sentimentos e mais ações. A produtividade batendo contra a pele de açoite, os empresários egocêntricos mandando e desmandando enquanto a necessidade faz o trabalhador sorrir com lágrimas nos olhos.
Assim, do que vale o discurso? Do que valem as palavras bonitas se nosso mundo continua o mesmo? O mesmo entulho desigual e conservador, mas agora com um lacinho colorido enfeitando o chorume. E assim gente segue, procurando cada vez mais profissionais desumanos.
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