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QUANDO O SILÊNCIO FALA MAIS ALTO


É tarde.

Mas o silêncio da noite

é o único que ainda escuta,

o mundo dorme,

mas tua dúvida reluta.


Você foi treinado para acreditar

que existe um “eu” verdadeiro.

Mentiram.

Esse “eu” foi moldado pela norma,

esculpido por mãos que nunca te ouviram.


E cada vez que teu corpo gritou outra coisa,

você calou.

Chamou de progresso o apagamento,

chamou de razão o que só te apagou.


A psicanálise te ensinou a escavar o inconsciente,

mas não te contou

que o colonialismo também sonha,

e que o racismo escreve sintomas

em letras que ninguém ousou.


Enquanto citas Freud,

há corpos negros soterrados nos rodapés da tua teoria.

Enquanto exaltas o universal,

há mundos inteiros soterrados na tua ortografia.


É hora de rasgar o mapa,

de arrancar a venda da neutralidade,

de admitir que teu saber não é puro,

mas herdeiro de exclusões disfarçadas de verdade.


Não basta dizer que o racismo está no mundo.

Ele está no que você não pergunta.

No que não nomeia.

No silêncio que o teu saber oculta.


Você tem coragem de repensar tudo?

De deixar cair a máscara que aprisiona?

Porque pensar, de verdade,

é inventar no mestre

e libertar a pessoa que ele abandona.

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