QUANDO O SILÊNCIO FALA MAIS ALTO
- Everton Nery

- 1 de out.
- 1 min de leitura
É tarde.
Mas o silêncio da noite
é o único que ainda escuta,
o mundo dorme,
mas tua dúvida reluta.
Você foi treinado para acreditar
que existe um “eu” verdadeiro.
Mentiram.
Esse “eu” foi moldado pela norma,
esculpido por mãos que nunca te ouviram.
E cada vez que teu corpo gritou outra coisa,
você calou.
Chamou de progresso o apagamento,
chamou de razão o que só te apagou.
A psicanálise te ensinou a escavar o inconsciente,
mas não te contou
que o colonialismo também sonha,
e que o racismo escreve sintomas
em letras que ninguém ousou.
Enquanto citas Freud,
há corpos negros soterrados nos rodapés da tua teoria.
Enquanto exaltas o universal,
há mundos inteiros soterrados na tua ortografia.
É hora de rasgar o mapa,
de arrancar a venda da neutralidade,
de admitir que teu saber não é puro,
mas herdeiro de exclusões disfarçadas de verdade.
Não basta dizer que o racismo está no mundo.
Ele está no que você não pergunta.
No que não nomeia.
No silêncio que o teu saber oculta.
Você tem coragem de repensar tudo?
De deixar cair a máscara que aprisiona?
Porque pensar, de verdade,
é inventar no mestre
e libertar a pessoa que ele abandona.



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