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Foto do escritorRamon Argolo

QUANTO VALE SUA VIDA?





Se pudesse mensurar hoje no mercado, quanto você acha que estaria custando a sua vida? Não sei se já parou para pensar sobre isso, mas será que não nos vendemos facilmente a todo instante por valores extremamente irrisórios simplesmente porque não percebemos que estamos à venda? Ou percebemos e realmente não nos importamos com os valores pagos pelo nosso existir? O que vale e o que não vale em você para que essa mensuração de preço se dê? Quem dita esse preço? A fama (seja ela má ou boa, desde que gere interação e likes) é o que importa? Nossa imagem, nossa vaidade, até mesmo a nossa ganância (me arrisco a dizer), hoje parecem regular nossos caminhos, nossas ideias, nossos pensamentos e focos.


A impressão que tenho é que, entrelaçada no nosso cotidiano existe uma realidade maquiada, um palco dissimulado, como aquele cenário do filme O Show de Truman (O Show da Vida) de 1998 escrito por Andrew Niccol e dirigido por Peter Wein, em que nós, telespectadores nos confundimos com os personagens desse filme, que é a nossa própria vida.

Em 2002, dentro da sala de aula da faculdade no bairro dos Barris na cidade de Salvador, numa daquelas aulas noturnas, uma professora do meu curso de Administração sugeriu este filme para aguçarmos nossa reflexão sobre a ideia de consumo, de percepção sobre nossa contribuição inconsciente para a construção das necessidades de consumo e eu nunca mais o esqueci. Me coloquei tantas vezes no lugar daquele personagem que se chamava Truman Burbank, interpretado por Jim Carrey, o primeiro personagens introspectivo desse ator que me chamou atenção para seu trabalho, talvez porque eu era, assim como ele, vendedor de seguros também. Burbank era um cidadão condicionado, previsível, que repetia hábitos e era constantemente influenciado a repetir estes tais hábitos para que o consumo fosse sempre alimentado nos telespectadores que ele sequer sabia que o acompanhavam na filmagem de sua vida, como se fosse uma novela do “plim plim”, e assistindo a essa trama cheguei a entrar em conflitos internos muito fortes durante um bom tempo.


Aquela se tratava da história de um pacato, como já mencionei, vendedor de seguros, que desde que nasceu vivia numa realidade simulada, dentro de uma cidade projetada para ele onde todas as suas ações eram filmadas e exibidas em rede nacional de televisão. Imaginam como isso era louco no centro da capital baiana no ano de 2002? Mais louco ainda foi o fato de que eu só fui descobrir que existia um programa que repetia uma experiência parecida, iniciado naquele ano no Brasil, depois que comecei a debater esse filme. Era um tal de Big Brother Brasil.


Durante muito tempo de reflexão e observação da minha vida e do meu entorno percebi e entendi que existe um poder imenso na vida acadêmica e o motivo pelo qual isso sempre mete muito medo nos poderes públicos. Essas vivências do ambiente acadêmico te colocam em choque constante com a sua ideia de vida, a ideia de vida dos seus colegas com os quais você precisa conviver e com as informações que muitas vezes contrastam com tudo o que você tinha conhecimento até aquele momento. Foi um belo susto!


Semana passada, com o país em meio a um acalorado debate sobre o PL 2630/2020, chamado de PL das Fake News, eu novamente levei um novo e belo susto. O fantasma de Truman parecia me perseguir e toda aquele olhar profundo, analítico e crítico sobre nossas vidas, especialmente sobre a minha vida, voltaram a me encontrar.


Acordei no meu horário habitual, revisei meu dia e minha agenda de tarefas, abri o Google Chrome para iniciar meus trabalhos e fazer algumas pesquisas e ao abrir a página de pesquisas vejo um link com uma frase condenando o tal PL num posicionamento incontestável da Big Tech que não mostrou nenhum constrangimento e apelou para seu monopólio financeiro dando uma verdadeira banana para a democracia brasileira que votaria a criação desse projeto de lei naquele mesmo dia.


Veículos de impressa relatavam pressões das empresas donas de tecnologias, aplicativos e espaços virtuais aos políticos da câmara de deputados para que o projeto que responsabilizará crimes, atos ilícitos, infrações (assim como na vida real) também nos meios virtuais não prosperasse.


Como Truman em sua cidade natal, Seahaven, olhei para todos os meus aparelhos eletrônicos e pensei no quanto somos observados e manipulados de maneira tão sutil e tão absurda que uma empresa de tecnologia se sente no direito de entrar na vida de todo mundo e de maneira incisiva determinar, escolher, apontar, definir, construir, descontruir ideias, caminhos, verdades, mentiras, prioridades e tudo o mais na tentativa de assumir o controle de nossas vidas. E mais, tudo isso pelo lucro.


O embate da PL das Fake News desnudou a nossa fragilidade perante um modelo de vida que em boa parte não nos pertence, não escolhemos naturalmente, não tem personalidade, não tem acaso. Máquinas de colher informações reúnem e distanciam pessoas, criam inimigos e criam heróis. Máquinas dizem com quem nos relacionaremos, com quem vamos interagir e quem nunca vai nos ver ou nos ouvir.


Se as empresas, as tais Big Techs, acabaram se expondo e expondo esse seu imenso e terrível poder perante a sociedade em prol de barrar uma lei, que regulará como tudo em nossa vida real é regulado para vivermos democraticamente e em harmonia, o efeito dessa lei muito claramente retirará parte desse poder dessas empresas. Quem teima em viver às margens da lei é marginal. A definição de marginal é “que ou quem vive à margem da sociedade, desconsiderando a lei e a moral; delinquente, fora da lei, criminoso” (Oxford Languages).Toda lei serve para controlar os comportamentos e ações dos indivíduos de acordo com os princípios daquela sociedade e, diante dos inúmeros casos de propagação de violência, ódios, crescimento de grupos criminosos como células nazistas, terroristas, difamadores e propagadores de mentiras dentre outros, nos meios digitais, que não encontram leis nem resistências suficiente para coibi-los faz-se necessária a coragem de enfrenta-los e nos mostrarmos vivos nessa vida game morta virtual.



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https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/levantamento-mostra-que-ataques-ciberneticos-no-brasil-cresceram-94/#:~:text=Levantamento%20mostra%20que%20ataques%20cibern%C3%A9ticos%20no%20Brasil%20cresceram%2094%25,-Pa%C3%ADs%20%C3%A9%20o&text=O%20Brasil%20registrou%20no%20primeiro,16%2C2%20bilh%C3%B5es%20de%20registros.


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1 Comment

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Robério Brito
Robério Brito
May 13, 2023
Rated 5 out of 5 stars.

ótima análise do tema.


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