TRANSA COM CAETANO VELOSO
- Autor(a) Convidado
- 31 de jan. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de mai. de 2024

*Vinicius Menezes
Preliminares
Toda a jornada para chegar a este momento compreende a construção do que resultaria na grande catarse da noite do dia 28 de janeiro de 2024.
Um show do vigésimo quinto ano do Festival de Verão, em Salvador, que se propusera histórico, de um artista lendário, sobre a narrativa de uma de suas obras-primas. O álbum Transa, de 1972.
Transa é o sexto álbum de Caetano Veloso e foi gravado em Londres, no período em que estava exilado. Entretanto, mais precisamente, Transa seria uma grande orgia entre os amigos do artista, pois conta com arranjos de nomes como Jards Macalé, Tutty Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa.
Este autor convidado que vos escreve possui certa paixão pela obra, pois, assim como Chico Science, com seu inigualável “Da Lama ao Caos”, de 1994, Caetano Veloso e Transa possuem grande importância na minha experiência musical.
Dessa forma, presencia-lo sob o palco, cantando tudo aquilo que eu escutava em meu fone, seria como ter um orgasmo.
Mas será que realmente gozamos ao final da apresentação?
O nome da obra, por coincidência, ou não, demarca fortemente as segundas intenções do músico com o seu público. Estaríamos a presenciar o que seria uma grande luxúria egocêntrica pelos minutos que se seguiram.
O primeiro gozo
A apresentação é onde Caetano performa uma grande exibição de sexo com seus espectadores.
Munido com sua longeva experiência de palco, o cantor se aproveita do amor dos ouvintes ali presentes, para alimentar o seu ego e performar o que culminaria, em não somente um, mas dois orgasmos solitários.
Na exibição do álbum no show desta edição do Festival de Verão, o primeiro gozo é construído quando Cacá executa a sua performance sexualmente implícita com o público.
Cada canção ecoa nas vozes da plateia, soando como gemidos, que buscam alcançar o ponto máximo do prazer.
Ele demonstra à sua vasta audiência como o seu falo é importante e carregado de história, através de breves intervenções, onde narra parte do que foi vivido na ditadura cívico-militar brasileira. Desde sua prisão, até o exílio em Londres.
Caetano “encerra” o show e assim tem o seu primeiro gozo: momento em que se reúne a banda para agradecer pela presença de todos, dando a impressão de que a Transa ali tinha acabado.
Ele esgurma no público, que se vê feliz pelo orgasmo alheio.
A esperança em chegar lá também
Contudo, nós que estávamos ali presentes, tínhamos a noção de que Caetano havia gozado sozinho, afinal, o cantor encerra o show sem ter cantado a principal música do álbum. E, claramente, ele sabia disso.
A atitude daquele momento, parecia exalar a falta de empatia para com o ser que ainda não alcançara o prazer.
O suposto final gera burburinho entre aqueles que conhecem o álbum, passando uma sensação de incompletude. Nós não tínhamos atingido o orgasmo pleno e nos víamos dependentes daquele homem e do seu órgão.
Assim, ele aguarda (sadicamente?) o público implorar por mais um coito, através dos pedidos de “Bis”. Caetano utiliza do clamor popular para, novamente, buscar a excitação e, mais uma vez, performar o sexo.
Se em nenhum show do Festival presenciei um pedido de “Bis”, Caetano Veloso gerou no público essa necessidade, e ganhou (mais) um alimento para o seu ego.
Os músicos voltam às suas posições e se preparam para executar a última canção que completaria o álbum, “Nine Out of Ten”.
O segundo gozo
A segunda cópula se inicia.
O público em êxtase canta a plenos pulmões, exalando tesão e paixão por aquele que penetrava as suas mentes e fazia seus corpos pingar de suor.
Ao final da canção, Caetano, pela única vez no show, sai do centro do palco e caminha pela passarela localizada entre os espectadores.
E nesse momento, percebemos que o cantor gozou pela segunda vez.
Ele exibe o seu membro gozado, caminhando e acenando ao público, recebendo de forma unânime as venerações daqueles que vieram deleitar-se da sua performance.
Após inflar seu ego, ele vira as costas à plateia e sai andando até o backstage, sozinho, sem sequer olhar para trás. É como se ele dissesse: “Eu gozei novamente. Você, não?”.
A banda permanece solitária, executando o final da canção. Por fim, é notável o misto de sentimentos entre a plateia.
Entretanto, por mais que para alguns a ausência do gozo fosse perceptível, estávamos todos em êxtase, exauridos por toda aquela carga de dopamina liberada em nossos cérebros, afinal tínhamos acabado a Transa com um dos maiores nomes da música popular brasileira e deleitado do seu orgasmo.
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Vinicius Menezes (@vinestros) é laurofreitense, estudante de Ciência da Computação da UFBA, e apaixonado pelas produções da MPB.
Imagem: Lucas Leawry / Hicontent
5 estrelas pro excelente — e excitante— texto do Vinicius! Parabéns!
Que texto incrível!!!!! Caetano e você produzem excelentes obras de arte
Me deu um pouco de raiva e um pouco de excitação lendo o texto. Mas no final, eu fiquei feliz por ter dado tudo certo.kkkkk! Parabéns pelo texto.
Muito competente nas palavras!
Ejaculatórias !
Que intenso, como se conseguisse sentir o ar ofegante do público