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LADRÃO QUE ROUBA LADRÃO: O Roubo no Louvre


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No último domingo fomos surpreendidos pelo roubo de jóias no Museu do Louvre. Localizado em Paris, nas margens do rio Sena, ele é um dos maiores museus do mundo. Em uma ação que durou menos de 7 minutos, os bandidos colocaram um caminhão com uma espécie de guindaste, acessaram uma das salas e levaram menos de 10 jóias que pertenceram a Napoleão III e sua esposa, a imperatriz Eugênia, avaliadas em mais de 500 milhões de euros. Esse não foi o único roubo do Louvre e, provavelmente, não será o último. Foram inúmeros os roubos que o museu já sofreu, inclusive a Monalisa de Leonardo da Vinci, considerada por muitos como a obra de arte mais valiosa do mundo, já foi roubada do museu em 1911 e recuperada 2 anos depois.


Depois desse roubo, já que estamos em 2025 e temos um pouco mais de consciência decolonial, podemos agora indagar: E sobre os roubos que o próprio Louvre abriga há séculos? Lá no museu existem milhares, quiçá milhões, de itens que foram saqueados durante guerras, “missões científicas” e colonizações do passado e hoje estão em exibição atraindo turistas e gerando milhões de euros em renda para o país, como o Código de Hamurabi, uma das leis mais antigas da humanidade, que foi levado da Mesopotâmia para a França para estudo e nunca foi devolvido. A peça encontra-se no Louvre. Ou seja, mesmo após o processo de colonização ter terminado, países coloniais, como a França e tantos outros, seguem ganhando dinheiro com seus roubos de outrora.


Muitos museus europeus, inclusive, nasceram do saque colonial e continuam legitimando esse passado. Artefatos de diversos países da África, Ásia e Américas pertencem a inúmeros museus pelo mundo colonial. Você já ouviu falar das estátuas chamadas Moai da Ilha de Páscoa? A Ilha fica na Oceania, pertence ao Chile e abriga mais de oitocentas dessas estátuas. Só existe um Moai fora do Chile e para surpresa de zero pessoas, ele se encontra em um museu de país colonial: Museu Britânico em Londres (Inglaterra).


Pelo mundo, existem muitos movimentos de solicitações de itens roubados no passado. A Grécia solicita há décadas a devolução de estátuas de mármore que foram saqueadas no período da ocupação otomana e encontram-se no Museu Britânico. Muitos países africanos reivindicam seus tesouros, como os bronzes do Benin que estão no Museu Britânico (olha ele de novo!); os leões empalhados do Quênia que encontram-se no Museu Field em Chicago nos Estados Unidos; a escultura de madeira da Rainha Bangwa é reivindicada pelo povo Bangwa de Camarões e encontra-se em poder da Fundação Dapper em Paris; os tesouros de Magdala da Etiópia que encontram-se no Museu Victoria and Albert no Reino Unido; esculturas em pedra sabão que representam símbolos do Zimbábue que estão na Alemanha e Reino Unido e a Pedra de Roseta, um fragmento de rocha que possui a inscrição de um texto em três idiomas: grego, hieróglifo e demótico egípcios. A partir do texto tolhido na rocha, foi possível que pesquisadores pudessem entender a escrita em hieróglifos do Egito Antigo. A pedra encontra-se no Museu Britânico em Londres (sim, ele de novo!).


Existe um tímido movimento de devolução que vem ocorrendo nos últimos anos, como o manto Tupinambá que em 2024 foi repatriado do Museu Nacional da Dinamarca e agora se encontra no Museu Nacional no Rio de Janeiro. Também em 2024, centenas de artefatos indígenas retirados ilegalmente e mantidos em um museu na França foram repatriados para o Brasil. O conjunto de 585 objetos incluía máscaras, cocares, mantos e instrumentos musicais de mais de 50 etnias, e foi entregue ao Museu Nacional dos Povos Indígenas, no Rio de Janeiro. Os processos de repatriação são demorados, incluem negociações complexas e cheia de termos a serem cumpridos, além da colaboração entre governos, museus e organizações como a ONU e a UNESCO, que são responsáveis por promover a proteção do patrimônio cultural e o combate ao tráfico ilícito de bens e obras de arte.


Diante de toda a repercussão internacional com o roubo do Louvre, fica a reflexão de que quando o Louvre é roubado, o mundo se revolta, mas quando o Louvre roubou o mundo, chamaram de civilização. Até que ponto podemos sentir um sabor de vingança quando algum “Robin Hood” rouba artefatos de museus de nações coloniais? Quem tem o direito de guardar a memória da humanidade, os povos que criaram as obras ou os que as roubaram em nome da “civilização”? Por que chamamos de “patrimônio da humanidade” aquilo que foi saqueado de outras culturas? É plausível que o “prestígio cultural” de museus europeus exista justamente à custa da espoliação de outros povos? Quando um país que foi colonizado exige de volta o que lhe foi tomado, por que o mundo chama isso de revanchismo e não de justiça? Se o roubo de hoje é crime, por que o roubo do passado é considerado herança cultural?


Deixe sua opinião nos comentários e até o próximo texto!



REFERÊNCIAS:


BBC NEWS BRASIL. Como os britânicos levaram as esculturas do Partenon, que a Grécia tenta recuperar. 01 jan. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59673475. Acesso em: 23 out. 2025.

 

LIME, Ashley. Os tesouros roubados da África que foram parar em museus da Europa e dos EUA. BBC News Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46335947. Acesso em: 23 out. 2025.

 

 

Referência da imagem:

O GLOBO. Roubo no Louvre: invasão em sete minutos, uso de elevador de carga e fuga de moto; veja o que se sabe. 19 out. 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/10/19/roubo-no-louvre-durou-sete-minutos-e-joias-levadas-tem-valor-incalculavel-diz-governo-frances.ghtml. Acesso em: 23 out. 2025.

6 comentários

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há um dia

Verdade! Uma reflexão que realmente precisa ser feita. O processo de repatriação precisa de fato acontecer.

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Manuel Sousa Jr
há um dia
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Obrigado pelo comentário!

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Convidado:
há um dia

Perfeito

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Manuel Sousa Jr
há um dia
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Obrigado pelo comentário!

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Convidado:
há um dia
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Ótimo texto!

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Manuel Sousa Jr
há um dia
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Obrigado. Se puder, compartilhe! 😍

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