Provas do ENEM;
Provas de concurso;
Provas de direção veicular;
Provas de fim de ano/unidade;
Provas de processos seletivos.
Nessas últimas semanas, o terror das provas rodeou minha rotina de forma intensa. Embora esse seja um fenômeno ‘’orgânico’’ da vida de uma professora, sempre é um desconforto grande tanto aplicar quanto realizar provas (e acreditem, professoras fazem provas e se desesperam com elas também).
Da educação básica à vida universitária (e até depois que saímos dela) estamos realizando provas. E a prova nada mais é do que uma ferramenta de avaliação dos níveis de conhecimento e habilidades que uma pessoa tem sobre determinado assunto.
Tudo normal até então, principalmente sendo algo ‘’corriqueiro’’ em nossa organização social. Então, por qual motivo realizar uma prova ainda é algo tão apavorante?
Sudorese;
Ansiedade;
Desespero;
Mãos tremendo;
Pernas balançando.
São alguns dos sintomas apresentados pelo paciente submetido à realização de uma prova.
Alívio;
Frustração;
Impotência;
Insegurança;
Sensação de incapacidade.
São alguns dos sentimentos vivenciados após a realização de uma prova.
Equilíbrio emocional;
Tranquilidade;
Paz.
São privilégios do discurso de poucos quando perguntamos ‘’e aí, como foi a prova?’
Nervosismo;
Apreensão;
Esperança;
Descrença.
São algumas das sensações quando estamos diante do resultado de uma prova.
Estamos sempre sendo submetidos/as/es à realização de algum tipo de prova nos mais diversos espaços em que ocupamos. Porém, mesmo tendo um rico histórico em nossos currículos, ainda assim é necessário um ritual de preparação (tanto conteudista, quanto emocional) para o dia D.
Se você já se perguntou o porquê de se sentir assim e tomou como uma missão pessoal melhorar esse aspecto da vida, talvez (ou não) já tenha percebido o quanto essa questão está intimamente relacionada à autoestima.
Quando o resultado é bom, nos sentimos envaidecidos, grandes, fortes e satisfeitos. Quando não tão bom assim, somos invadidos/as/es pela sensação de incapacidade, falta de inteligência e inferioridade.
Na maioria das vezes, isso ocorre porque o assombro de ser submetido/a/e a um processo onde é necessário provar o quanto somos capazes, para depois sermos encaixados/as/es em ‘’bom’’, ‘’mediano’’ ou ‘’ruim’’ gera ansiedade.
A meritocracia e a competitividade são dois conceitos que fundamentam essa ideia, uma vez que a nota é representada por uma dimensão classificatória que em sua essência categoriza quem é maior ou menor, e a comparação é sempre feita entre pessoas distintas, acentuando a competição entre os pares.
Em uma sociedade neoliberal, tais noções são acessórios de controle social, considerando que a intensa preocupação com eles, acompanhada da necessidade de (já que tudo que está posto pretende te classificar e o sucesso depende da sua posição) transforma tudo em capacidade individual, anulando, assim, a possibilidade de pensar que nem sempre as oportunidades são equânimes.
Como dito no início do texto, a prova é uma ferramenta de avaliação dos níveis de conhecimento que se tem sobre determinado assunto, entretanto, o que esquecemos de deixar claro é que ela é apenas 1 das inúmeras ferramentas que podem ser utilizadas para tal finalidade.
Segundo Luckesi (2005), o papel da avaliação é subsidiar a tomada de decisão acerca da melhoria da qualidade do desempenho no processo de aprendizagem (porque aprender é um processo e não se encerra quando a vida acadêmica finda). Levando-o em consideração, a avaliação nada tem a ver com gerar insegurança, classificar ou estereotipar ninguém.
Em complemento, o autor considera avaliar um ato de afeto pronto para a acolher a realidade da forma como ela é, almejando a superação dos limites e ampliação das possibilidades.
Diante do que tenho vivenciado, posso afirmar que as pessoas assimilam coisas de maneiras diferentes, pois são distintas e possuem histórias e contextos de vida divergentes. Me pergunto, então, o que ainda se deseja provar com um modelo hegemônico e excludente de avaliação.
Mas e você, o que pensa sobre isso?
FONTE:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e criando a prática. 2 ed. Salvador: Malabares Comunicação e Eventos, 2005.
É muita pressão na cabeça. Os vestibulares, principalmente o Enem, trazem uma carga muito pesada que vai se acumulando desde a expectativa familiar, dos colégios, dos amigos, além dos cursinhos (tentando lhe vender suas fórmulas milagrosas).
Adorei o texto!
Muito interessante a provocação, precisamos buscar diversas formas de avaliar para nós que somos tão diversos. Até quando uma prova vai também no encaixar numa ideia de que todos devemos estar na mesma caixa hegemonizados e padronizados. Aplausos.